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Painel do clima da ONU prevê que Terra atingirá limite na próxima década

30 de março de 2023
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O IPCC lançou no último dia 20, o sexto relatório de avaliação sobre as mudanças climáticas. O documento do órgão científico que assessora a Organização das Nações Unidas (ONU) é uma síntese de outros documentos que foram publicados em mais de uma década. Estranhamente, a divulgação não ganhou a devida repercussão na imprensa mundial, apesar do seu forte senso de urgência, face o aceleramento do aquecimento global.

Mais uma vez o IPCC constata: as emissões de gases de efeito estufa causaram “inequivocamente o aquecimento global”, e hoje a temperatura da superfície global é 1,1°C acima da média do período pré-industrial, entre 1850 a 2020.

Mas não é só isso, nos últimos 50 anos a temperatura da superfície global aumentou mais rapidamente do que os últimos 2000 anos. Outro dado assombroso: apenas nos últimos 30 anos (1990-2019), foram lançados na atmosfera 42% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE), desde 1850. Ou seja, apesar das inúmeras conferências ambientais e climáticas realizadas nesses três décadas (da ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, até a última COP, realizada no Egito em 2022) houve uma aceleração enorme de emissões de GEE na atmosfera. Em 2019, as concentrações atmosféricas de CO2 somavam 410 partes por milhão, os maiores já registrados pelo menos nos últimos 2 milhões de anos.

Ponto de não retorno

Vamos superar a barreira dos 1.5ºC na década e 2030

O relatório ainda conclui que o aumento exponencial e incontrolável da temperatura média global vai ultrapassar os 1.5ºC acima dos níveis pré-industriais ainda na década de 2030. Esse foi o limite traçado pelo Acordo de Paris, que recomenda limitar a média de temperatura global em 1.5°C.

Manter a temperatura média da Terra em até 1,5 °C significaria administrar as mudanças climáticas um pouco mais severas do que se apresentam hoje. Convém lembrar que, em toda a sua história, a humanidade nunca enfrentou um aumento da temperatura média global como este. Acima de 2°C já pode significar um passo para acionar pontos de ruptura do sistema Terra e poderia ameaçar inúmeras cidades costeiras. Já uma elevação de 3°C condenaria muitos sistemas naturais da biosfera ao colapso, e as cidades costeiras desapareceriam.

Pontos de ruptura são um limiar crítico além do qual um sistema se reorganiza de forma irreversível, retroalimentando o aquecimento global. A Amazônia, por exemplo, pode chegar a um ponto de não retorno com a degradação da floresta, despejando mais CO2 na atmosfera e retroalimentando o aquecimento do clima. Outro ponto de não retorno é o descongelamento do permafrost, um tipo de solo permanentemente congelado que tem potencial de liberar o dobro de carbono que atualmente existe na atmosfera.

Aceleração

Mudanças são rápidas e generalizadas

O relatório reconhece que já estão ocorrendo mudanças generalizadas e rápidas na atmosfera, oceano, criosfera e biosfera. O nível médio do mar global, por exemplo, aumentou 0,20 cm entre 1901 e 2018. Pior ainda: a taxa média de aumento do nível do mar tem acelerado: foi de 1,3 mm por ano (entre 1901 e 1971), para 3,7 mm/ ano, entre 2006 e 2018.

Entre 2010 e 2020, o relatório estima que a mortalidade humana por inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior em regiões altamente vulneráveis, em comparação com regiões com vulnerabilidade muito baixa.

Socialismo ou barbárie

Capitalismo e os limites para a transição energética

A ciência é unânime: a instalação de novas fontes de energia limpa é o único caminho para limitar a temperatura abaixo dos 2°C. Mas isso exige uma transformação urgente, revolucionária e inédita do fornecimento de energia em escala global, na qual as emissões globais de CO2 teriam de ser reduzidas em cerca de 7% a cada ano até 2050. Atualmente, cerca de 35 bilhões de toneladas são emitidas por ano na atmosfera.

O problema é que, sob o capitalismo, a transição energética não passa de uma farsa e não vai deter a catástrofe que se anuncia. Um dos maiores obstáculos para isso são enormes subsídios concedidos pelos governos às grandes petroleiras. Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável, dos US$ 634 bilhões concedidos em subsídios ao setor de energia em 2020, cerca de 70% foram para combustíveis fósseis e apenas 20% foram para a energia renovável

Ao mesmo tempo, há uma corrida entre os países centrais do capitalismo para desenvolver e controlar novas tecnologias de energia limpa (eólica, solar e hidrogênio verde) para obter alguma renda tecnológica aos grandes monopólios. Mesmo as grandes as petroleiras estrangeiras estão investindo pesadamente no desenvolvimento de novas fontes limpas de energia. Isso resultará não em uma “transição energética” em curto ou médio prazo, mas na criação de um “mix energético”, no qual se combinam novas fontes renováveis e limpas com os combustíveis fósseis – algo absolutamente insuficiente para resolver o problema das emissões dos gases de efeito estufa.

Em suma: os países centrais do capitalismo, ao mesmo tempo que intensificam a exploração de petróleo e gás, promovem o desenvolvimento de novas fontes energéticas e uma corrida imperialista para garantir o fornecimento de matéria-prima para um futuro muito próximo.

Não há futuro com o capitalismo. Para deter a deter a catástrofe ambiental que bate à porta e ameaça toda a civilização, a superação do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista e ecologicamente equilibrada se faz imprescindível.