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James Webb: A humanidade pode olhar para novos horizontes

jeferson

21 de julho de 2022
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Imagem da Nebulosa de Carina registrada pelo telescópio espacial James Webb

Entre a comunidade científica, acredita-se que até agora os humanos descobriram apenas cerca de 5% do Universo. Um feito, sem dúvida, notável. Afinal, foi somente na década de 1920 que o astrônomo estadunidense Edwin Hubble descobriu que o Universo é povoado por inúmeras galáxias como a nossa Via Láctea, cada qual com seus bilhões de estrelas. Hubble também mostrou que o próprio Universo não é estático. Ao contrário, é dinâmico, com galáxias que se distanciam continuamente uma das outras, em todas as direções do espaço cósmico em uma inexorável expansão. Tais descobertas permitiram o desenvolvimento de novas ferramentas conceituais e práticas que tornaram a cosmologia um dos ramos mais fascinantes das ciências naturais.

Em 1990, a Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) lançou o primeiro telescópio orbital, batizado de Hubble, em homenagem ao grande astrônomo que revolucionou a nossa visão do Universo. Por mais de três décadas as imagens feitas pelo Hubble mostraram detalhes de estruturas do Universo até então desconhecidas e pouco observadas, como galáxias distantes no espaço profundo, supernovas, aglomerados, evidências da presença de planetas extra-solares, e ajudou a refinar as estimativas da idade do nosso Universo – calculado atualmente em 13,8 bilhões de anos.

O Hubble proporcionou um salto equivalente ao dado pela luneta de Galileu Galilei no século XVII. Mas é o telescópio James Webb (JWST, na sigla em inglês) o sucessor do Hubble, que promete oferecer à humanidade uma visão ainda mais ampla e revolucionária do Universo.

Paisagens estelares

As primeiras imagens divulgadas do JWST na semana passada mostraram impressionantes paisagens estelares, mais nítidas e com novas informações. Mas, como disse um astrônomo, elas “apenas arranham a superfície do que vamos aprender”. A tecnologia aprimorada do Webb oferece aos pesquisadores novos olhos mais precisos para observar o Universo. Diferente do Hubble, o JWST está mais distante da Terra, há aproximadamente 1,5 milhão de quilômetros, ainda mais longe do que a Lua. O espelho do Webb também é maior, com aproximadamente 6,5 metros em comparação com os 2,4 metros do Hubble, o que oferece ao telescópio cerca de 6,25 vezes mais área de coleta.

Telescópio James Webb antes de seu lançamento

Munido de câmaras e espectrômetros que podem detectar os mais diferentes espectros da luz, o telescópio é capaz de ver a química da evolução do Universo como, por exemplo, a assinatura da água em um planeta a milhões de anos-luz do Sistema Solar (extra-solares), a composição química de uma galáxia ou do gás ao redor de um buraco negro.

Universo profundo

Mas uma imagem em particular deixou os cientistas eufóricos. Trata-se de uma imagem de “campo profundo”, ou seja, da região mais profunda já observada do Universo pelos humanos, que foi realizada pelo telescópio em um pedaço muito pequeno do Universo, “do tamanho de um grão de areia mantido à distância de um braço por alguém no chão”, como explicou a Nasa. Nessa parte minúscula do Universo é possível observar milhares de galáxias, e algumas delas mostram um fraco espectro de luz vermelha. São galáxias de um Universo primitivo, que ainda não tinha 800 milhões de anos e cuja luz vagou por mais de 13 bilhões de anos-luz até atingir as lentes do Webb.

Novos horizontes

Com o JWST vamos aumentar um pouco mais a fração do Universo conhecido. Conseguiremos observar regiões de formações de estrelas e estrelas escondidas na poeira, chegar bem perto de um buraco negro e enxergar as galáxias no início do Universo, vendo o que aconteceu há 13 bilhões de anos.

O mais impressionante, porém, é o fato de suas imagens comprovarem que os humanos são capazes de olhar muito mais além. Podem romper as nuvens da obscuridade e brilhar como as estrelas. Mas, para realizar isso plenamente, é preciso olhar para novos horizontes sociais, revolucionar a sociedade e libertar a humanidade de toda forma de opressão e exploração.

Perseguição às LGBTIs

Cientistas querem mudar nome do telescópio

A empolgação em torno de novas imagens sem precedentes do Universo reacendeu a discussão sobre a campanha “#RenameJWST” realizada por cientistas para renomear o telescópio espacial. E eles têm razão. James Edwin Webb foi subsecretário de Estado dos Estados Unidos entre 1949 a 1952 e liderou a Nasa entre 1961 e 1968. Como subsecretário de Estado dos EUA, atuou na luta contra a “expansão do comunismo”, inclusive se envolvendo na guerra da Coreia. Na Nasa ele foi o maior entusiasta para que o imperialismo norte-americano pudesse superar a URSS na chamada “corrida espacial”.

Nos anos 1950 e 1960, tanto o Departamento de Estado quanto a Nasa perseguiram e demitiram funcionários gays e lésbicas em uma campanha chamada “Lavender Scare” (Ameaças lavanda). Durante esse período, LGBTIs foram acusadas de ser suscetíveis à propaganda comunista para revelar segredos do governo. Webb esteve nas duas instituições no período. Historiadores da Nasa, porém, negam que exista alguma evidência do seu envolvimento nas perseguições, embora tenham sido publicados pela revista “Nature” documentos que mostrem o contrário. Definitivamente, a figura de Webb é para lá de questionável, e está muito longe dos novos horizontes que o telescópio com seu nome pode abrir à humanidade.