Internacional

As mentiras do sionismo e a cumplicidade da grande mídia criam o terreno para a “solução final” de Israel em Gaza

José Welmowicki

18 de outubro de 2023
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Sapatos de criança atingida por ataque israelense em Gaza

Publicado no Portal da LIT-QI

O dia 7 de outubro vai ficar na história da luta pela libertação nacional na Palestina e no Oriente Médio. Foi o dia em que a resistência palestina conseguiu infligir uma derrota ao exército ocupante e romper por um período o cerco a que são submetidos diariamente por Israel, há 16 anos. Uma incursão preparada e coordenada conseguiu romper em vários pontos a cerca em volta de Gaza, que impede a saída de qualquer palestino. As câmeras e dispositivos de vigilância não funcionaram porque foram inutilizadas pelos combatentes. Até esse dia, a fama acumulada por Israel em várias guerras contra seus vizinhos árabes e da guerra permanente contra os palestinos havia dado um prestígio macabro, a tal ponto que sua tecnologia de vigilância, seus carros blindados de repressão à população vinham sendo exportada para muitos países.

Foi um fiasco do exército israelense. Em geral, os especialistas da área apontam centralmente a uma falha do aparato de inteligência, tais como Mossad. A nosso ver, não foi somente esse o fracasso. A reação das tropas da brigada que vigia Gaza foi derrotada facilmente pelos militantes de Hamas. Pelas informações que foram divulgadas, muitos oficiais e até mesmo coronéis e generais foram aprisionados. A reação do restante do exército foi tardia e lenta. O que pode estar por trás dessa derrota são dois fatores: 1) toda ocupação colonial leva a um desgaste das tropas envolvidas, e vai gerando uma incapacidade crescente para combater. É o que aconteceu com as tropas francesas na Indochina e Argélia, as norte-americanas no Vietnã. Sua atividade cotidiana é reprimir a população desarmada em forma perversa e covarde. 2) Quando os oprimidos se rebelam e enfrentam essas tropas elas não têm confiança em suas forças, ficam assustadas com a reação dos rebeldes oprimidos. No caso dos soldados sionistas em Gaza, os vídeos gravados mostram esse tipo de reação das tropas da guarnição a cargo da repressão em Gaza.

Mas o que é trazido para nós e se vê em forma esmagadora na mídia é que tudo se tratou de um atentado terrorista de Hamas contra a população civil de Israel. Não tem nenhuma causa, a não ser a sanha assassina dessa organização.

E como aconteceu na guerra do Iraque, e em muitas outras do Oriente Médio, uma série de Fake News foram sendo divulgadas. A falsa história da suposta decapitação de bebês chegou a ser divulgada pelo presidente dos Estados Unidos, Biden, que chegou a mentir dizendo que viu essas fotos, quando eram apenas uma invenção de um blogueiro israelense de ultradireita, sem nenhuma comprovação. Ela acabou sendo desmentida, mas sem nenhum destaque. Vídeos distribuídos como prova de “ataques a civis” mostravam, na verdade, um ataque a uma base militar israelense em que soldados surpreendidos tratam de se esconder de uma coluna de Hamas, que acaba invadindo e depois esses mesmos soldados aparecem mortos. Ou seja, era uma batalha militar. E invasões a aldeias e bairros de cidades israelenses vizinhas a Gaza são apresentadas como ataque premeditados a civis, quando, numa guerra assimétrica como essa entre o Estado de Israel e a faixa de Gaza, cercada e bombardeada sistematicamente, as aldeias e cidades próximas à Gaza fazem parte do dispositivo militar do ocupante, no caso Israel, e, portanto, tem que ser enfrentados quando fazem uma incursão militar em resposta ao cerco, são alvos militares. Pelo menos, é assim que Israel trata tanto a própria Gaza como a Cisjordânia há décadas, que é a fonte de toda a violência, mas esses mesmos meios de comunicação não dizem uma palavra de condenação quando os colonos e o exército sionista invadem aldeias, destroem as casas da população, e matam seus habitantes.

O que chama a atenção é que para a mídia e os governos e partidos dos EUA e da União Europeia, e para essa mídia, os bombardeios massivos sobre Gaza que matam civis em uma quantidade impressionante são apenas “uma retaliação” de Israel! Portanto, segundo eles, justificada. Ou seja, seguem o mesmo roteiro do ministro da defesa israelense que classificou os habitantes de Gaza como “animais humanos”. O máximo que alguns fazem é sugerir “contenção” aos genocidas.

A mídia não mostra nada do sofrimento das crianças palestinas, nem antes, nem depois dos ataques. Não dão nenhuma importância a fatos como: 9 funcionários da ONU em Gaza foram assassinados pelo exército de Israel quando tentavam socorrer os habitantes feridos. Mas Israel declara que todos os seus alvos são militantes terroristas que “se escondem nas casas dos palestinos”, e, portanto, qualquer alvo residencial ou até mesmo instalações médicas e escolas em Gaza são parte dos seus objetivos de guerra.

Estamos assistindo, em tempo real pela mídia mundial e as redes sociais, cenas idênticas à Nakba de 1948. O governo israelense, não contente com o deslocamento forçado de mais de um milhão de pessoas em poucas horas, declara que devem sair do território imediatamente para não ser atingidos por seus bombardeios. E ainda mandou bombardear um comboio de palestinos que tentaram sair do Norte para chegar ao Sul da Faixa. E que diz a mídia? É parte da “contraofensiva” de Israel, que de princípio está justificada e não mostra nenhuma foto ou filmagem das atrocidades e dos assassinatos de civis palestinos em Gaza.

Há mais uma omissão vergonhosa da mídia mundial: inundam a TV e os jornais com as declarações das entidades judaicas sionistas e ligadas a Israel, todas defendendo os ataques do Estado racista de Israel (chegam a dizer que um Estado que nasceu de uma limpeza étnica, que mantém uma ocupação por décadas e trata os palestinos como cidadãos de segunda classe ou prisioneiros em suas cidades é a única democracia do Oriente Médio!).

Mas não dão uma linha para os movimentos judaicos que se colocam contra a linha genocida de Israel. Alguns deles são bastante fortes, como Jewish Voices for Peace (Vozes judaicas pela Paz) dos Estados Unidos, que tem mais de 440 mil membros e apoiadores. Movimentos como esse já vinham fazendo campanhas contra o apartheid israelense e o racismo colonial. E nesse momento, mantiveram sua postura frente ao processo em Gaza. A seguir reproduzimos um trecho do pronunciamento de Jewish Voices for Peace (JVP) do dia 7/10/2023:

“O governo israelense pode ter acabado de declarar guerra, mas a sua guerra contra os palestinianos começou há mais de 75 anos. O apartheid e a ocupação israelenses – e a cumplicidade dos Estados Unidos nessa opressão – são a fonte de toda esta violência. A realidade é montada de acordo a quando você inicia o relógio.

Durante o ano passado, o governo mais racista, fundamentalista e de extrema direita da história de Israel intensificou impiedosamente a sua ocupação militar sobre os palestinianos em nome da supremacia judaica, com expulsões violentas e demolições de casas, assassínios em massa, ataques militares a campos de refugiados, cercos implacáveis e humilhação diária. Nas últimas semanas, as forças de Israel atacaram repetidamente os locais muçulmanos mais sagrados em Jerusalém. Durante 16 anos, o governo israelita sufocou os palestinos em Gaza sob um bloqueio militar aéreo, marítimo e terrestre draconiano, prendendo e matando de fome dois milhões de pessoas e negando-lhes assistência médica. O governo israelita massacra rotineiramente palestinos em Gaza; crianças de dez anos que vivem em Gaza já ficaram traumatizadas por sete grandes campanhas de bombardeamento nas suas curtas vidas”.

Nos Estados Unidos existiam pesquisas recentes apontando que mais de 50% da juventude judaica desse país não se sente identificada com Israel, um dado que assusta os dirigentes sionistas locais e a Organização Sionista Mundial. Há outros movimentos que unem esses setores a movimentos progressistas e comunidades de origem árabe ou muçulmana nos EUA, como mostra a carta escrita pelo Comitê de Solidariedade com a Palestina de Graduação de Harvard, que afirmava que os estudantes “responsabilizam inteiramente o regime israelense por toda a violência em curso”, carta que foi assinada por 33 grupos de estudantes. Que haja sido em Harvard, universidade de elite desse país, surpreendeu sua cúpula. A reitoria se pronunciou se diferenciando da carta, assim como vários ex-alunos, que foram ou hoje são executivos de grandes empresas ou ministros no governo americano. Também na New York University (NYU), os alunos se expressaram em uma declaração contra o genocídio de Israel.

A mídia tampouco dá cobertura aos protestos dos judeus ultra religiosos que vivem em Jerusalém, no bairro Mea Shearim, são anti-sionistas, e colocaram uma bandeira palestina em seu templo para mostrar repúdio ao massacre. Por causa disso foram duramente reprimidos, golpeados pela polícia israelense e seu templo foi invadido para retirar a bandeira palestina de lá.[1] Só há uma verdade e um ponto de vista válido para a mídia e o stablishment imperialista: o do governo genocida de Netanyahu e seu defensor incondicional, o imperialismo norte-americano, através do governo Biden.

Qual é a situação dos palestinos na Cisjordânia?

Na Cisjordânia, existem três “áreas”: uma destinada aos palestinos, outras aos colonos judeus, que já somam 750 mil. Estes têm total liberdade de ir e vir tanto na Cisjordânia, como em Israel. Jerusalém Oriental, que pela própria partição de 1948 deveria pertencer ao Estado palestino a ser criado, foi anexada em 1967 à Jerusalém judaica sob controle dos sionistas.  Para os palestinos circular de uma área à outra, somente através de inúmeros checkpoints, onde muitas vezes passam horas se submetendo a revistas humilhantes pelas tropas israelenses. Os colonos tem um comportamento abertamente racista e agressor sobre os palestinos, e são protegidos pelo exército. O mesmo acontece com os palestinos que vivem na cidade de Jerusalém.

Um dos argumentos falaciosos dos defensores de Israel na mídia é que se trata de uma “guerra contra o Hamas”, não contra todos os palestinos. Por isso, a questão está em Gaza. Essa é outra mentira. A guerra contra os palestinos se centra em Gaza hoje, mas, ao mesmo tempo, está submetendo a Cisjordânia a um cerco semelhante e a assassinatos de civis. Esse processo já vinha desde muito antes, mas agora se multiplicaram em forma macabra a partir de 7 de setembro. Segundo os informes de agências de notícias, do Crescente Vermelho (a Cruz Vermelha dos muçulmanos), e de organizações dos direitos humanos, desde o dia 7 de setembro ao dia 14, 55 palestinos foram assassinados e 1.100 feridos por ataques dos colonos sionistas na Cisjordânia, com a cumplicidade ou participação das forças armadas israelenses. Todos eram civis, famílias indo de uma cidade à outra, trabalhadores ou pequenos comerciantes tentando abrir seus negócios. Até mesmo o cortejo de um funeral foi atacado a tiros, matando pelo menos 4 palestinos que participavam. Em nenhum desses ataques seus integrantes eram militantes de Hamas. Só tinham uma característica em comum: eram árabes palestinos. Essa é mais uma demonstração de que a política é de guerra e expulsão de todos os palestinos.

O Estado racista de Israel nasceu em 1948 com a Nakba, a limpeza étnica que expulsou 750 mil árabes das suas terras. Mas como não pôde se livrar completamente dos palestinos, seguiu sua ação nestes 75 anos. A partir de 1967, com a ocupação de Gaza e Cisjordânia, manteve seus habitantes submetidos a um regime militar, que tratava seus habitantes como prisioneiros e se beneficiava de seu trabalho escravo, e elas não tinham quaisquer direitos. Ao mesmo tempo, colonizavam novas terras expropriando os palestinos, seja em Jerusalém Oriental, seja na Cisjordânia, com colonos judeus

Devido à resistência permanente, as duas Intifadas em 1988 e 2000, e a persistente resistência, sua estratégia veio mudando. Agora, frente à resistência armada, essa estratégia se tornou explicita: a limpeza étnica de todo o território da Palestina. Para eles, ou saem da Palestina, ou morrem. Por isso, se veem os colonos da Cisjordânia gritarem: “Morte aos árabes” e atuarem de acordo a suas palavras, ou seja, executando pogroms. Da mesma forma como os antissemitas faziam contra os judeus na Europa Oriental. Os últimos foram em Huwara y Turmus Ayya, na Cisjordânia.

Netanyahu apresentou na sessão da ONU do último mês de setembro um “novo mapa” da região. Nele, não existe mais Palestina, nem sequer territórios ocupados. Só existe Israel, ocupando todo o território entre o mar Mediterrâneo e o Rio Jordão. (foto do mapa apresentado na ONU por Netanyahu).

Uma analogia com a resistência judaica contra os nazistas: o Levante do Gueto de Varsóvia

A partir da invasão nazista à Polónia, em 1939, o ocupante alemão decidiu concentrar os judeus de todo o país em uma pequena região da capital, que ficou conhecida como “Gueto de Varsóvia”[2]. Os nazistas assim o fizeram para poder controlá-los como numa prisão, tinha muros e cercas em toda a volta do gueto, de modo tal que só podiam sair os que tinham determinado cartão, com a finalidade de utilizar seu trabalho em forma semelhante à escravidão. A comunidade judaica na Polônia era a maior dos países ocupados por Hitler.

Essa política dos nazistas para os judeus poloneses concentrados em Varsóvia durou até que eles resolveram partir para a “solução final” em 1942: construir os campos de concentração com câmaras de gás para exterminar todos os judeus. A partir daí foram capturando os que ainda sobreviviam no gueto e enviando-os para a morte. De 380 mil residentes no início do gueto, cerca de 300 mil foram enviados para a morte entre 1942 e 43.

Quando perceberam que esse era o destino que esperava a todos, os judeus sobreviventes resolveram resistir armados mesmo estando em uma enorme inferioridade militar e logística. Formaram uma organização de resistência unida, a ZOB, e organizaram um levante em abril de 1943 que conseguiu enfrentar os soldados alemães por mais de 30 dias, causando baixas importantes às tropas nazistas. Sabiam que havia uma decisão de serem levados e mortos nas câmaras de gás dos campos de extermínio nazista. Optaram por resistir e morrer lutando. Os nazistas chamavam os combatentes judeus de “terroristas”.

Como afirma Haidar Eid, professor da Universidade al Aqsa em Gaza, em seu artigo Gaza 2023: Nosso momento semelhante ao Levante do Gueto de Varsóvia[3], “uma clareza do destino que Israel impôs aos palestinos de Gaza e também da Cisjordânia os levou a assumir o mesmo tipo de decisão: “Em Gaza e Jenin[4], recusamo-nos a marchar para as câmaras da morte de Israel. Em Gaza e Jenin – na verdade, em toda a Palestina histórica – deixamos absolutamente claro que resistiremos ao regime de colonos, ao regime colonial e de apartheid entre o Rio Jordão e o mar Mediterrâneo.”

É nesse quadro que tem de se entender a luta armada desencadeada pelos residentes palestinos.

Do genocídio lento ao extermínio

O que está passando hoje, frente a resistência armada palestina e o fracasso do intento sionista de escravizar o povo palestino e obrigá-lo a viver em condições sub-humanas para sempre, é a decisão de Netanyahu de arrasar toda Gaza, transformar o genocídio em marcha lenta dos últimos 30 anos em genocídio direto através dos bombardeios contra todos os habitantes, corte definitivo de abastecimento de água, energia.

O governo israelense fez um chamado cínico a quem quiser sobreviver, que saia da faixa imediatamente, isso ao mesmo tempo que Israel bombardeia a passagem entre Gaza e Egito, a única ainda aberta. Como denunciaram os médicos da Cruz Vermelha e funcionários da missão da ONU em Gaza, assim como a própria Organização Mundial de Saúde, vinculada à ONU, é uma ordem impossível de ser cumprida por uma população de mais de um milhão e equivale a uma condenação à morte de doentes e feridos hospitalizados em Gaza. Ou seja, com a escusa de estar fazendo uma “retaliação” aos ataques do Hamas, Israel condenou à morte toda a população residente sob a cobertura de destruir os “terroristas”. Em forma semelhante ao que fez Hitler contra os judeus a partir da “solução final” de 1942 em diante e frente à revolta, decidiu acabar com o gueto de Varsóvia pela sua destruição.

Com a cobertura dos governos ocidentais, da esmagadora maioria da mídia e a cumplicidade dos governos que se dizem “amigos dos palestinos”, como Lula no Brasil, Israel argumenta que tem o “direito a defender-se” para declarar guerra e praticar um massacre de um povo inteiro em Gaza e na Cisjordânia. O representante israelense na ONU ficou irritado porque houve alguns embaixadores que sugeriram que tentasse poupar os civis palestinos em Gaza. Ele reafirmou que não é hora de preocupar-se com os “danos colaterais”, e sim em liquidar o Hamas, nem que para isso tenha que demolir e destruir totalmente a cidade. Ou seja, os mais de 2,2 milhões de habitantes, que obviamente inclui uma grande maioria de civis, dos quais mais da metade são mulheres e crianças, não lhes importa. E esse governo tem o cinismo de se fazer de vítima e chamar Hamas de terrorista. Outra característica copiada do regime nazista: a propaganda mentirosa de Goebbels, que tinha uma frase definidora: “uma mentira repetida inúmeras vezes vira verdade”.

Um governo que tem entre seus ministros defensores de matar ou expulsar os árabes de todo o território palestino. Como Itamar Ben Gvir, que já foi processado como terrorista até pelos tribunais israelenses, mas foi liberado e hoje é ministro de Segurança Nacional. Ele declarou publicamente que todos os árabes devem ser mortos, de tal forma que até os liberais israelenses o classificam de “fascista”. Ou seu ministro da defesa, Yoav Gallant que declarou abertamente que vai manter um cerco total a Gaza, e cortar todo o abastecimento de água, combustível e energia, porque assim destruirá Hamas. E obviamente matará dezenas se não centenas de milhares de civis, em especial crianças. O que constitui um crime de guerra para o ICIC. Anistia Internacional e Human Rights Watch já haviam classificado o regime de Israel como de apartheid. O embaixador de Israel na ONU fala abertamente e adverte publicamente na ONU “que não me venha barrar o caminho com essa preocupação pelos ‘civis palestinos’”.

Netanyahu é um sucessor político de Vladimir Jabotinsky e Menachem Begin, que eram dirigentes da ala diretamente fascista do sionismo, que manteve um grupo terrorista próprio chamado Irgun Zvai Leumi, que atacava os árabes tratando-os como um povo inferior; esse grupo foi responsável pelo massacre de Deir Yassin em que assassinaram todos os palestinos que puderam, para criar um pânico que levasse à retirada dos árabes da Palestina, como parte da Nakba.[5]

Por isso, é um cinismo abjeto de Netanyahu ao reivindicar estar vingando o assassinato em massa dos judeus pelo nazismo ao mesmo tempo que praticam a mesma metodologia de Hitler, quando eles são hoje o nazi-fascismo sionista. A diferença com o nazismo original, é que desta vez se dá contra os palestinos. O cinismo de Netanyahu não surpreende, só que desta vez contra os palestinos, mas o cinismo maior vem do coro que inclui os dois partidos norte-americanos, Democrata e Republicano, o governo Macron da França, Scholz da Alemanha, Sunak da Inglaterra. Que publicamente se colocam ao lado deste genocida, projetando a bandeira de Israel em seus prédios símbolo, como a Torre Eiffel em Paris ou o Portão de Brandeburgo em Berlim, e assim como a União Europeia se enfileiram apoiando o “direito de Israel a se defender”. Ou seja, os fascistas sionistas querem licença total para liquidar o povo palestino, e estão conseguindo.

A solidariedade à resistência palestina

O repúdio à ação genocida de Israel e a essa campanha demonizadora dos palestinos pela via de colocar Hamas como “terrorista” e classificar todos os que apoiam a resistência de terroristas ou apoiadores de terroristas está gerando uma indignação e importantes manifestações.

Houve muitas manifestações em distintos países, as maiores no Oriente Médio, como na Jordânia, no Iêmen, Iraque, Egito. Na Jordânia cantavam “somos Hamas, se Hamas é terrorista, nós somos terroristas”. Estão havendo mobilizações também nos EUA, Inglaterra, França, em outros países da Ásia, como Coréia do Sul, e ainda na Austrália e na Indonésia. Apesar do apoio incondicional a Israel por governos como Macron na França, Sunak na Grã Bretanha apareceu a resistência do movimento que embora reprimido, saiu às ruas contra o genocídio do povo palestino.

Em Paris, a polícia usou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar uma manifestação de apoio aos palestinos, após o governo francês ter proibido qualquer protesto do tipo. Apesar da proibição, milhares de manifestantes reuniram-se em Paris, Lille, Bordéus e outras cidades na quinta-feira 12/10.

Na Inglaterra, a polícia britânica alertou que qualquer pessoa que demonstre apoio ao Hamas, uma organização considerada “terrorista” pelo governo britânico, ou que se desvie da rota, poderia ser presa. Mesmo assim, milhares de pessoas saíram às ruas em Londres, Manchester, Liverpool, Bristol, Cambridge, Norwich, Coventry, Edimburgo (Escócia) e Swansea.

Na Alemanha, Scholz disse aos deputados no Bundestag (Parlamento alemão) que a segurança de Israel era uma política de Estado alemã. E proibiu as manifestações pró- Palestina.

Agora, frente a continuação da guerra genocida de Israel contra Gaza, se abre um espaço para intervir com coragem nos organismos do movimento sindical, democrático propondo que se pronuncie contra o genocídio sionista em Gaza e chamar a manifestações de apoio em todo o mundo. Apoiamos o BDS, um movimento amplo de boicote a qualquer investimento e intercâmbios artístico e esportivo em Israel até que termine o regime de apartheid, seguindo o exemplo do boicote internacional contra a África do Sul e seu regime de apartheid nos anos 70 e 80.

E chamamos ao apoio à resistência palestina, que é a forma direta para enfrentar o estado racista de Israel e seu regime de apartheid. Como se mostrou em mais de 20 anos após os acordos de Oslo, o caminho do ‘diálogo’’, da “paz” e da não violência não levou a nenhum resultado concreto, a não ser desarmar a luta palestina e a criar autoridades que não tem nenhum poder, fora o de obedecer às ordens do colonizador, como sempre foi a ANP de Mahmoud Abbas.

Qualquer alternativa de buscar um caminho do meio, tipo “dois Estados” só paralisa o movimento. Inclusive já ficou completamente impossibilitado pela colonização sionista em toda a Cisjordânia.

A saída é o fim do Estado racista de Israel e o surgimento de uma Palestina laica, democrática e não racista, uma Palestina livre, do rio  ao mar, como parte da luta socialista em todo Oriente Médio.

Cartaz do Jewish Voice for Peace de 15/10/23

Nossas diferenças com Hamas

Apoiamos a resistência palestina porque é a forma direta e legítima de enfrentar e derrotar o apartheid sionista. E o Hamas esteve à cabeça desse ato de resistência que mostrou um caminho para o povo palestino. Nossas diferenças não estão sobre se é justo fazer ações armadas contra o regime sionista genocida, como fizeram todas as revoluções coloniais contra seus opressores.

Mas consideramos a proposta que eles apresentam como saída, de um Estado Islâmico equivocada e estreita, afastando os setores seculares palestinos, democráticos e socialistas de seu projeto. Também tem uma política repressiva para a luta das mulheres, e dos LGTBQI+ como se vê no Irã atual. Por isso, sua gestão em Gaza partindo dessas premissas, teve um efeito negativo para a necessária unidade e a democracia no interior do movimento palestino.

Mas hoje é fundamental apoiar a resistência palestina, nesse combate de David contra Golias e que hoje é encabeçada por Hamas. E não caímos nas armadilhas do imperialismo, nem de setores que se dizem democráticos e de uma parte da esquerda que devido a esses problemas retira seu apoio à resistência palestina, cedendo à pressão do imperialismo e do sionismo, ao aceitar o argumento que os palestinos são atrasados enquanto Israel é avançada, devido a algumas leis como o matrimonio LGTBQI+. Nenhuma dessas medidas pode nos fazer esquecer que Israel hoje tem o objetivo de exterminar todo o povo palestino, e que temos de estar ao lado da resistência palestina a esse intento genocida.

 

[1] “A polícia israelense queria retirar as bandeiras palestinas no bairro judeu. Os judeus não permitiram isso e entraram em confronto com a polícia. A polícia israelense invadiu o bairro de Mea Shearim, onde os judeus vivem em Jerusalém, e queria retirar as bandeiras palestinas do bairro. Os judeus não permitiram isso, opuseram-se à polícia sionista e a polícia espancou brutalmente os judeus”. Publicado por Torah Judaism, 11/10/2023

[2] Essa prisão nazista a céu aberto foi chamada de ‘gueto’ em referência aos bairros que os antigos reinos europeus da Idade Média obrigaram a que se concentrassem os judeus daquela época, para poder controlá-los melhor e submete-los a massacres (os pogroms) quando bem entendessem. Esses bairros eram chamados de guetos.

[3] Publicado por Al Jazeera 10/10/2023.

[4] Jenin é uma cidade na Cisjordânia, onde está um campo de refugiados  que tem se destacado por uma forte resistência aos massacres sionistas

[5] O Irgun chegou a explodir o hotel Rei David em 1946, matando ingleses, árabes e até judeus ainda durante o mandato britânico (para assustar os ingleses pois o Irgun não concordava que se reservasse qualquer parte da Palestina aos árabes)