Debates

Voto útil é o voto na independência de classe e no socialismo

Diego Cruz

8 de junho de 2022
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Vera, pré-candidata do PSTU e do Polo Socialista Revolucionário

O PSTU e o Polo Revolucionário Socialista lançaram a pré-candidatura de Vera a fim de apresentar à classe trabalhadora uma alternativa de independência de classe e socialista nessas eleições.

Qual o sentido de lançar uma pré-candidatura minoritária, que já enfrenta um sistema eleitoral antidemocrático e a barreira da grande imprensa? Não é melhor apoiar Lula-Alckmin e elegê-lo já no 1º turno? É o que defende grande parte das organizações de esquerda como meio de se evitar alguma aventura golpista à lá Capitólio.

Uma parte dos que já declaram voto em Lula-Alckmin dizem que tudo vai melhorar depois de outubro. Outros, tentam fazer um certo contorcionismo: sabendo que a ultradireita não se derrota na urna, defendem derrotar Bolsonaro votando em Lula, e o golpismo “nas ruas”. Muitos ativistas ainda dizem algo como: até concordo com vocês, não tenho qualquer expectativa em Lula ou Alckmin, mas é urgente derrotar Bolsonaro.

Qual é o problema disso? Primeiro, que essa alternativa não é capaz de resolver os problemas mais urgentes da classe trabalhadora como o desemprego, a precarização, a carestia e a fome. Segundo, não vai derrotar em definitivo a ultradireita e o golpismo, pelo contrário, só a fortalece ainda mais e prepara a derrota da classe lá na frente. E terceiro, desarma a classe não só em relação aos enfrentamentos no futuro, mas agora mesmo, jogando contra a mobilização independente dos trabalhadores.

Uma soma que subtrai

Uma vez eleito, o governo Lula-Alckmin não irá tocar nos lucros e propriedades dos superricos e bilionários. Lula já afirmou que não irá revogar a reforma trabalhista, convocou os economistas do Plano Real para formular seu projeto econômico, e a própria Gleisi Hoffman avisou que manterá o presidente do Banco Central de Bolsonaro.

Um governo de conciliação de classes que se dedique a gerenciar a crise capitalista resulta, invariavelmente, em ataques à classe. Aqui do lado, no Chile, estamos vendo o resultado disso. Gabriel Boric, eleito com uma enorme expectativa pela esquerda, além de não tocar nos graves problemas sociais vividos pela população chilena, declarou Estado de Exceção nas regiões mapuche para reprimir a luta dos indígenas contra as mineradoras.

E qual o problema da desmoralização de um governo de conciliação numa situação de crise e polarização? Isso fortalece a ultradireita. Trotsky já sabia disso quando, nos 1930, atacou a união de socialistas com a burguesia. E a situação lá era bem pior, com o risco iminente do fascismo. Em fevereiro de 1934, uma manifestação fascista armada provocou a derrubada de um governo burguês “democrático” e a ascensão de um governo semi-bonapartista. Pois bem, nas eleições seguintes, já sob restrições nas liberdades democráticas, Trotsky defendeu a completa independência de classe e a não participação em governos burgueses.

Um governo com a burguesia “nada daria aos operários ou às massas pequeno-burguesas, pois não poderia atentar contra os fundamentos da propriedade privada. E, sem expropriação dos bancos, das grandes empresas comerciais, das indústrias-chave, dos transportes, sem monopólio do comércio exterior e sem uma série de outras medidas profundas não é possível, em absoluto, socorrer o camponês, o artesão ou o pequeno comerciante” (Onde vai a França). Trotsky vaticina que “por sua passividade, impotência, mentira“, um governo entre o então partido burguês de oposição e os socialistas, desataria uma “revolta na pequena burguesia e a empurraria definitivamente para a via do fascismo“.

Foi o que vimos, em certo grau, depois da crise do governo Dilma e do PT, no qual o bolsonarismo e a ultradireita surfaram. Agora, imagine isso numa situação de crise ainda maior, com uma ultradireita armada e organizada, contando com setores das Forças Armadas.

Independência de classe

Fortalecer a independência de classe, a luta e a organização independente dos trabalhadores é uma necessidade tanto para lutar por empregos, salários e direitos, como para fazer frente ao golpismo. Se parte majoritária da burguesia, e até o imperialismo, se opõem a um projeto de ditadura hoje, também é certo que não serão consequentes diante de um “fato consumado”, desde que continuem ganhando dinheiro.

As instituições da democracia burguesa muito menos têm compromisso com essa mesma democracia dos ricos, haja visto as vergonhosas capitulações do Supremo Tribunal Federal aos militares, ou as “consultas” da direção do PT ao comando das Forças Armadas se elas darão ou não um golpe.

Defender aliança e alimentar ilusão na burguesia, na direita e no processo eleitoral, portanto, joga contra isso. Enfraquece a luta, “nas ruas”, contra Bolsonaro e o golpismo.

O 1º turno é o momento de apresentar um programa e uma alternativa de luta e independência de classe. Mais do que expressão de protesto, cada voto numa candidatura socialista fortalece a construção dessa alternativa. E o crescimento de uma alternativa de classe contra o capital fortalece a luta contra Bolsonaro, a ultradireita, e qualquer outro governo que nos ataque.