Violência policial: Atrocidades põem governos racistas na defensiva
O ano de 2024 foi mais uma vez marcado pela violência policial sistemática contra a classe trabalhadora. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) comanda uma tropa abertamente assassina. No Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) insiste na fracassada política de operações policiais nas favelas. Na Bahia, governada por Jerônimo Rodrigues (PT), está a polícia que mais mata atualmente. Paraná, Pará, Ceará, Amapá… nenhum estado está fora desta lista macabra.
Uma velha e triste história que vitima famílias pretas, indígenas e pobres de maneira geral, Brasil afora. Contudo, as últimas semanas de dezembro trouxeram uma importante novidade: diferentemente de assumirem uma postura de pura e simples defesa das corporações, governadores se viram emparedados por casos escandalosos.
Trabalhadores arremessados para a morte, fuzilados pelas costas, executados…
Tarcísio e o Secretário de Segurança Guilherme Derrite mudaram parcialmente o discurso diante de uma conjunção de casos particularmente bizarros. As imagens do PM Luan Felipe Alves Pereira arremessando o entregador Marcelo Amaral de uma ponte, no dia 1º de dezembro, chocaram pessoas de todo o país. O agente tem três processos por envolvimento em supostos confrontos, incluindo um que resultou em morte, mas nunca tinha sido punido.
Quase ao mesmo tempo, foram publicizadas as filmagens da câmera do mercado Oxxo, mostrando o assassinato de Gabriel Renan da Silva Soares, sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, ex-Facção Central. Um policial à paisana fez 11 disparos pelas costas, em “legítima defesa”, conforme consta no primeiro Boletim de Ocorrência do caso.
Na Bahia, imagens feitas com um celular mostram dois jovens negros sendo rendidos pelo PM Marlon Oliveira. Mesmo deitados no chão, eles levaram mais de 10 tiros. Gabriel Santos Costa, de apenas 19 anos, não resistiu. O policial também alegou legítima defesa.
Esses casos derrubam o tradicional discurso que blinda os assassinos de farda: se o agente matou foi em resposta à uma agressão, em um confronto. Essa narrativa é impossível nesses três casos, que, por isso mesmo, devem levar a uma importante constatação: a polícia mata porque seu papel fundamental é fazer o serviço sujo dos governantes, impondo o medo para fins de controle social.
As máscaras caíram. Isso levou Jerônimo do PT a fugir, correndo, de um repórter que perguntou sobre a Segurança Pública na Bahia e Tarcísio, em São Paulo, a afirmar que, repentinamente, “descobriu” as vantagens das câmeras corporais.
Bahia e São Paulo
Dois estados símbolos do que a burguesia reserva para nós
O estado nordestino, governado pelo PT, lidera o ranking de letalidade policial desde 2022. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, só no ano passado foram 1.702 mortes causadas por “intervenção policial”, sendo que 1.321 delas envolveram pessoas negras.
Já na São Paulo governada pelo bolsonarismo, o salto tem sido significativo desde o começo do atual governo. Em 2022, a polícia foi responsável por 421 mortes. Em 2023, foram 503 assassinatos. Os dados são do relatório “Letalidade Policial na Capital Paulista (2013-2023)”, do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que também já contabilizou 496 casos em 2024. E o ano ainda não acabou.
É com base nessa falta de diferenças relevantes entre “esquerda” e extrema-direita que podemos afirmar que a guerra racista, erroneamente chamada Segurança Pública, é uma política de Estado.
PT, PL, Republicanos e todos os grandes partidos são promotores desta mesma lógica em todas as instâncias de governo. Basta lembrar que a estrutura militarizada das polícias foi mantida por Lula, em 2023, ao assinar a Lei Orgânica Nacional das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros.
Fora Derrite!
Por uma Segurança Pública desmilitarizada, sob controle do povo trabalhador
Neste cenário de aprofundamento da violência do Estado e de certo constrangimento das autoridades, é fundamental que os movimentos sociais aproveitem as oportunidades para fazer frente ao genocídio.
Nesse sentido, a luta pela queda do secretário Derrite tem uma importância nacional. Primeiro, porque ele é um grande símbolo do aumento da violência policial. Segundo, porque representa um profundo processo de mudança no comando da PM de São Paulo, operado por Tarcísio, justamente para abrir caminho para a atual política assassina. Terceiro, porque os resultados escabrosos no estado são parte de um plano político de médio prazo para projetar o governador paulista nacionalmente.
Organizar a luta pelo “Fora Derrite!” pode levar a uma importante vitória, que imponha um freio temporário a tudo isso, nos permita tomar fôlego e, também, para que possamos acumular forças para avançarmos rumo a uma Segurança Pública desmilitarizada, sob controle do povo trabalhador.
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