“Vender a Avibras para um grupo australiano é atacar a soberania nacional”
Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, defende a estatização empresa
Está em fase avançada de negociação a venda da Avibras, principal indústria brasileira do setor de Defesa, para a empresa australiana DefendTex. O anúncio foi feito na última segunda-feira, dia 1º de abril.
Os trabalhadores da Avibras estão em uma mobilização histórica, que já dura dois anos, em defesa dos empregos e direitos. Os operários e operárias entraram no 12º mês de atraso nos salários. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, filiado à CSP-Conlutas, é quem conduz essa luta e tem reivindicado a estatização da empresa, política defendida ainda sob governo de Bolsonaro e que segue, agora, no governo Lula.
O Opinião Socialista conversou com Weller Gonçalves, presidente do Sindicato e militante do PSTU, que ressaltou que a entidade sindical, “como legítima representante dos trabalhadores da Avibras, tem um posicionamento contrário à entrega de uma empresa brasileira estratégica para o capital estrangeiro”. Para ele, “vender a Avibras é atacar a soberania nacional” e, por isso, cobrou do presidente Lula (PT) a estatização da empresa.
Opinião Socialista – Como você avalia a divulgação da negociação da venda da Avibras para o grupo australiano DefendTex?
Weller Gonçalves – Achamos que essa negociação está errada. O Sindicato, como legítimo representante dos trabalhadores da Avibras, tem um posicionamento contrário à entrega de uma empresa brasileira estratégica para o capital estrangeiro. Vender a Avibras é atacar a soberania nacional. A Avibras é uma das pioneiras, no Brasil, na construção de aeronaves, em programas de pesquisa espacial e no desenvolvimento e fabricação de veículos especiais para fins civis e militares. Por seu histórico, é considerada estratégica para as aspirações de uma nação que quer ser soberana.
Por que o Brasil perde com a venda da Avibras?
A Avibras está localizada na cidade de Jacareí, no Vale do Paraíba, e faz parte do principal centro de tecnologia aeroespacial do país. Ela foi fundada por um grupo de engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1961. A empresa participa do Programa Espacial Brasileiro, com fabricação de motores para foguetes. Além disso, com a injeção de dinheiro público, desenvolveu capacidade de produção de armamentos e equipamentos bélicos, como mísseis, lançadores de foguetes, veículos blindados, bombas inteligentes, sistemas de comunicação por satélite e Veículos Aéreos Não Tripulados. Vendê-la significa transferir toda essa produção, de alta tecnologia, para outro país. O Brasil perde e a classe trabalhadora, também. Os maiores beneficiados serão a empresa australiana e o atual presidente da Avibras, João Brasil, que detém 98% do controle acionário. Esse incentivo ao capital estrangeiro e às privatizações também prejudica a classe trabalhadora, basta ver o que aconteceu com empresas de caráter essencial para o país que foram desnacionalizadas e privatizadas, como a Vale do Rio Doce, a Eletrobras e a Embraer.
Os trabalhadores da Avibras travam uma luta histórica contra o fechamento da fábrica, em defesa dos empregos e pelo pagamento dos salários atrasados. Como fica essa luta em meio a essa negociação de venda empresa?
A luta na Avibras continua. É uma luta em curso, uma resistência histórica dos trabalhadores e trabalhadoras, junto com o Sindicato. Nós reafirmamos a luta pela estatização da empresa como única saída para manter, em solo brasileiro, os empregos e o conhecimento acumulado. Porém, o que se viu foi a inércia do governo federal. Mas, ainda há tempo para mudar essa situação. É urgente que o governo estatize a Avibras. Enquanto isso não ocorre, segue a luta pelo pagamento de todos os salários em atraso e pela garantia dos empregos dos trabalhadores.
Qual o sentimento dos trabalhadores e trabalhadoras quanto a negociação da venda da Avibras?
Nós compartilhamos da angústia dos trabalhadores e entendemos que a notícia da venda da empresa pode representar a esperança de receber os salários. Porém, não há garantia de que os empregos serão preservados e não existe qualquer informação de que os salários serão pagos. Não podemos confiar nos empresários. Temos que seguir acreditando na nossa luta e na nossa organização e continuar com a campanha de cobrança ao governo Lula pela estatização da empresa.
Como está essa campanha? Como tem sido a postura do governo Lula?
O Sindicato tem enviado cartas, pedindo intervenção do governo federal, desde 2022. Mas nada foi feito para resolver a situação. De Jair Bolsonaro ao Lula, não houve sequer um plano emergencial de auxílio aos trabalhadores. Nós nos reunimos, em mais de uma oportunidade, com o Ministro da Defesa José Múcio Monteiro e o Vice-Presidente Geraldo Alckmin. Apesar de promessas de avaliação do caso, nenhuma medida efetiva foi adotada em favor dos operários da Avibras. Ao contrário, o governo federal chegou a comprar equipamentos de Defesa de conglomerados estrangeiros, desprezando a produção e a geração de empregos nacionais. Isso é um absurdo. Mas a nossa luta continua. Queremos uma Avibras brasileira, sob o controle dos trabalhadores.