Três meses depois: cadê o Wesley?
“Já viu alguém desaparecer em Alphaville?“, lia-se em um dos cartazes da manifestação organizada pela família do Wesley Ramos junto com apoiadores em novembro passado.
Naquele momento a angústia já era grande: fazia mais de um mês que não tinham notícias do rapaz, morador do Jd. Paulistano na Brasilândia. Agora, após mais de três meses, as autoridades ainda não foram capazes de dar nenhuma resposta sobre o paradeiro do jovem.
Lamentável! “Segurança pública pra quem?”, era o dizer em outra cartolina.
De acordo com o Mapa dos Desaparecidos no Brasil (2023), do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2019 e 2021, mais de 200 mil pessoas desapareceram no país.
Sem surpresa, vemos se reproduzir nesses números a crua realidade do racismo: 62,8% são do sexo masculino e 54,3% são negros, porcentagem que deve estar subnotificada considerando que mais de 25% dos registros não informam a raça da pessoa. Também é revelador que, embora prevaleçam entre os desaparecidos, negros são minoria entre os localizados.
Num momento em que se fala da responsabilidade do Estado no desaparecimento de pessoas na época da ditadura civil-militar, por conta do filme “Ainda estou aqui”, é preciso lembrar que na democracia dos ricos as instituições continuam cumprindo um papel no mínimo problemático, por ação ou omissão.
O luto particular que vem de não saber se um parente está vivo ou não, está sendo vivido aqui e agora por muitas famílias negras e trabalhadoras na periferia.
Ainda queremos saber: cadê o Wesley?