Trabalho do futuro?
Nem por imposição, nem por pacto, não queremos viver pior que nossos pais
No auge do mau chamado ‘milagre econômico’ o sonho de todo jovem operário era seguir uma carreira profissional nas grandes multinacionais que se instalavam no Sudeste do país. Com o PIB crescendo de 10 a 15% ao ano, a promessa de se engajar no “crescimento do bolo” como dizia Delfim Neto, para depois dividi-lo, representava a possibilidade de ter uma vida digna, com casa própria, carro na garagem e a garantia de uma educação decente para seus filhos.
Contudo, essa ilusão de ascensão social logo se esgotou. O sonho “americano” tupiniquim vendido pelos militares desabou junto com a crise política e queda de mais 40% no mercado automotivo no início dos anos 80. Veio a forte onda de greves operárias no ABC e SP, que dividiram esse bolo à machadada e derrubaram os governos militares.
Nas década seguintes, esse poderoso ascenso foi desviado através de um pacto social entre sindicatos, empresários e governo.
No entanto, quarenta anos depois, o filho do metalúrgico não manteve sequer as mesmas condições de vida da geração passada. Trabalhando mais e recebendo menos, um operário das montadoras, um dos ramos mais valorizados na indústria, se submete a jornadas exaustivas, banco de horas e um salário cada vez mais rebaixado. Muitos, para comprar e manter o carro que ele próprio fabrica, precisa complementar a renda como Uber ou fazendo bicos extra-jornada.
Não resta dúvida de que o resultado do pacto de colaboração entre patrões e trabalhadores foi um retrocesso nas conquistas e organização da nossa classe.
A maioria dos sindicatos foram fagocitados pelo Estado e aderiram ao “sindicalismo cidadão”, dando aval para as terceirizações e a reestruturação produtiva dos anos 90 através das negociações “democraticas” nas Câmaras Setoriais.
O toyotismo e as novas formas de gestão permitiram que o patrão se apropriasse do conhecimento do trabalhador mais experiente (um verdadeiro roubo do “como fazer”) e impusesse a padronização e controle dos processos, o que criou condições para a substituição por robôs ou trabalhadores menos qualificados, com salários rebaixados e sem os mesmos direitos.
No berço do ascenso operário, as montadoras e a cadeia automotiva, foi um dos setores que mais sofreu com o fechamento de plantas, demissões em massa e precarização, através do rebaixamento do piso de ingresso e as terceirizações.
Se após o poderoso ascenso que pôs fim à ditadura o pacto de colaboração de classes foi uma tragédia, agora, diante da crise econômica e catástrofe social, da divisão entre os capitalistas e a disputa dos países no tabuleiro mundial, Lula e Biden formaram a “Coalizao Global pelo Trabalho” buscando um novo pacto social, agora, como uma grande farsa.
Num país devastado pelo desemprego e subemprego, a chamada “Plataforma pelo trabalho decente” lançada em 20 de setembro durante Conferência da OIT é uma tentativa de convencer os trabalhadores a aceitarem passivamente a precarização e as novas formas de subemprego sob a roupagem de “trabalho do futuro”.
“Face aos complexos desafios globais, desde as alterações climáticas aos níveis de pobreza e à desigualdade econômica, devemos colocar os trabalhadores no centro das nossas soluções políticas. Devemos apoiar os trabalhadores e capacitá-los para impulsionar a inovação que necessitamos urgentemente para garantir o nosso futuro” diz o documento da Coalizão assinado por Lula e Biden, e pior, com a participação das maiores centrais sindicais do país que viajaram com Lula a Nova York para se sentar a mesa com o governo ianque.
Enquanto essas centrais sindicais, como Força Sindical, CUT, CTB, UGT, CSB, Nova Central, propagandeavam a carta de boas intenções sobre o emprego decente, os trabalhadores da General Motors ganharam outro tipo de carta da empresa. Em pleno sábado, cerca de 1.200 de operários receberam sua demissão por telegrama.
Saibamos: Não haverá nenhuma concessão sem luta! É o que ficou demonstrado na histórica greve das montadoras dos EUA, que unificou a campanha salarial das 3 gigantes do ramo, e agora na greve deflagrada pelos operários da GM de São José dos Campos, ligados à CSPConlutas, no dia seguinte às demissões.
Lula, que chamou os movimentos sociais a se manifestarem no seu governo, está com a palavra!