“Trabalhador tá perdendo a paciência”: crescem a indignação, as mobilizações e ocupações no RS
No momento que fechávamos esta edição, o Rio Grande do Sul enfrentava um novo período de fortes chuvas, que causaram mais estragos. Em São Luiz Gonzaga, na região das Missões, foram registrados ventos de até 150 Km/h, que destelharam mil casas e afetaram mais de 12 mil pessoas.
Milhares ainda não conseguiram voltar para suas casas, seja porque elas foram destruídas ou porque muitas ruas continuam intransitáveis, tomadas por lixo e entulhos. Há um operativo dos governos para desativar os abrigos, mas 10 mil pessoas seguem desabrigadas.
Desprotegidos
Na realidade, o povo continua desprotegido perante novos eventos climáticos extremos, o que tem causado tensão e ansiedade mesmo àqueles que conseguiram limpar suas casas. Afinal, a destruição foi enorme e o auxílio de R$ 5.100 é totalmente insuficiente para arcar com todos os custos de recuperação de casas. Ao mesmo tempo, todos se perguntam: “Recupero minha casa e pertences, mas se ela for inundada novamente? Se tudo for destruído?”
Isto porque, até o momento, os governos, inclusive o economista Pedro Capeluppi, Secretário de Reconstrução de Eduardo Leite (PSDB), e Paulo Pimenta, Ministro de Reconstrução de Lula, não garantiram os reparos nos sistemas de proteção às enchentes – muros, diques e bombas. E, pior, nas cidades da Região Metropolitana, particularmente em Eldorado do Sul, Canoas e na Zona Norte de Porto Alegre, sequer garantiram a retirada da lama e do entulho.
Assim, cidades e bairros inteiros continuam parecendo com praças de guerra, com uma lama fétida, contaminada, e entulhos bloqueando várias ruas. Há bairros, como no Arquipélago, que continuam sem água e luz. Esquecidas, abandonadas, a raiva aumenta.
População vai à luta
Moradores dos bairros têm protagonizado várias manifestações, com bloqueio de trânsito e exigindo o recolhimento dos entulhos. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), ainda tem a desfaçatez de ir à imprensa afirmar que “não adianta botar fogo, protestar, que não iremos mudar o cronograma de limpeza”.
Também aconteceram assembleias em bairros, como Porto Novo, contra a instalação de lixões próximos às zonas residenciais, uma passeata na Restinga (Zona Sul), no Dia Mundial do Meio Ambiente, e ocupações de prédios abandonados pelos desabrigados.
É necessário não só apoiar, mas ampliar e unificar as manifestações de indignação que brotam nas periferias. Apoiar as ocupações de prédios abandonados e lutar pelo avanço da organização dos atingidos, realizando assembleias de bairros e buscando a construção de um “Encontro de Atingidos”.
Os governos já se mostraram incapazes de proteger a natureza, nossas vidas e de realizar a reparação de nossas perdas. Cabe ao povo pobre e trabalhador tomar nas mãos o próprio destino.
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Todo apoio às ocupações
Nas últimas semanas, aconteceram três ocupações de prédios abandonados no Centro de Porto Alegre, uma delas num antigo hotel e outras duas em prédios públicos desativados há 10 anos. No último dia 16, uma das ocupações foi alvo de uma ação covarde da Brigada Militar (PM), a mando do governo Leite.
De acordo com a Defesa Civil, cerca de 109,7 mil casas foram danificadas ou destruídas. Já se passaram 35 dias desde que os governos Leite e Lula anunciaram que comprariam e construiriam casas. Até agora, nada foi concretizado. As ocupações são iniciativas corretas, inclusive porque dão visibilidade a uma contradição absurda: milhares de imóveis desocupados e que poderiam ser adaptados para moradia.
São imóvel que há anos estão vazios e, assim, não cumprem sua função social, segundo a própria Constituição Federal.
Muitos pesquisadores afirmam que é preciso utilizar os imóveis já existentes, antes de pensar na construção de novos. Porém, todos os governos se negam a seguir essa orientação porque estão comprometidos com a especulação imobiliária. Não aos despejos! Expropriação, sem indenização, de todos imóveis vazios na mão da especulação imobiliária.
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