Nordeste

Caruaru: PT abre mão de candidatura para apoiar frente ampla com Queiroz

Jorge H. Mendoza

15 de março de 2024
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Zé Queiroz (PDT) e Rosa Amorim (PT). Divulgação.

O Partido dos Trabalhadores em Pernambuco confirmou essa semana que Rosa Amorim não será mais candidata à prefeitura de Caruaru. A decisão foi tomada em um grupo de trabalho com a presença de Lula. Diante da nova posição, o PT apostará em uma reedição da Frente Ampla de Caruaru e deve apoiar a candidatura de Zé Queiroz (PDT), um velho e conhecido político local que, inclusive, já foi três vezes prefeito da cidade.

Ao que tudo indica, a decisão do PT será de priorizar as capitais e, em busca de apoio à sua tática eleitoral, já começa a fazer acordos e concessões pelo interior do estado. Zé Queiroz lançou sua pré-candidatura no último dia 8, contando já com o apoio do PSB e de João Campos, atual prefeito de Recife.

Em nota, a deputada Rosa Amorim declarou que a decisão “se apoia na necessidade de unidade para construir uma candidatura ampla, que represente os anseios e desafios do povo caruaruense, e para além disso, reflita na gestão municipal os avanços do governo Lula, que vem reconstruindo o Brasil.”

Novos acordos, velhos aliados

Os Queiroz são um grupo político já conhecido no Agreste e que ao longo de anos vem disputando e alternando o poder com os Lyra, da então governadora Raquel Lyra (PSDB). Mas não apenas Zé Queiroz é um velho conhecido da política caruaruense como é também uma velha conhecida a tática eleitoral adotada pelo PT. Baseada muito mais em acordões e interesses eleitoreiros do que de fato em acordos programáticos.

É a velha política de aliança de classes que, no fim das contas, acaba privilegiando mais do mesmo, mantendo coronéis em seus lugares de poder e beneficiando a classe dominante. Mesmo que para isso use uma roupagem democrática e popular.

A Capital do Agreste, como é conhecida, enfrenta há décadas problemas estruturais principalmente ligados ao saneamento básico. Por um lado, esgotos à céu aberto em toda a cidade, somados à poluição provocada pelo polo industrial, como é o caso do Rio Ipojuca, considerado um dos mais poluídos do Brasil. Do outro, a ineficiência do fornecimento de água potável que recorrentemente tem deixado inúmeros bairros sem abastecimento. Problema que afeta também os pequenos agricultores da região.

Nada disso mudará, assim como não mudou ao longo desses anos, com a alternância de poder entre essas duas frações das elites locais. Afinal, que mudança de fato pode acontecer com a eleição de alguém que tem mandados e privilégios desde os anos 1980 e que pertence a uma das famílias que há décadas alternam o poder em Caruaru?

Nada de novo sob o sol

Outros dois partidos que sinalizam embarcar nos acordões eleitoreiros à reboque do PT são o PCdoB e o PSOL. Ambos estiveram presentes no evento de lançamento da pré-candidatura de Zé Queiroz em que a tônica era repetir o que Lula e Alckmin fizeram nas eleições presidenciais. O PSOL, inclusive, recentemente assinou um pedido de formação de um bloco parlamentar na Alepe (Assembleia Legislativa de Pernambuco) que inclui até o Republicanos, um partido de direita.

Mas os acordos não devem parar por aí. Se por um lado, PT, PSOL, PCdoB e PSB cedem às prioridades eleitorais do PDT em Caruaru, por outro lado devem mirar algum tipo de acordo no Recife. Na capital, praticamente todos analistas apontam para a reeleição do prefeito João Campos – o prefeito com maior aprovação do Brasil (82%) – que deve distribuir alguns cargos em nome de uma aliança eleitoral.

Tomando a reeleição como certa, João Campos já está de olho no pleito de 2026, quando poderá enfrentar Raquel Lyra na disputa pelo governo do estado. Por isso, desde já, tem buscado construir alianças pelo estado, especialmente nesses redutos eleitorais dos Lyra, como é o caso de Caruaru.

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O que todos esses acordos tem em comum?

Ao priorizar táticas eleitorais em detrimento do debate programático, todos esses partidos rifam qualquer possibilidade de mudança real da vida do povo trabalhador pernambucano. Mesmo que digam isso em discurso, as palavras não correspondem aos atos. A verdade é que isso nunca foi uma prioridade, pelo menos para as correntes majoritárias.

Para ter mudança de fato em nosso estado é preciso que trabalhadoras e trabalhadores se organizem de forma independente. Independente financeiramente e politicamente da classe dominante e de seus velhos coronéis. Afinal, acordos com setores retrógrados só beneficiam os retrógrados.

Ao contrário, para mudar de fato a vida do povo trabalhador em Caruaru e em Pernambuco, é preciso uma oposição de esquerda e socialista, com independência de classe e que se enfrente tanto com o campo burguês representado pelos Lyra e a ultra-direita, quanto o setor burguês defendido pela Frente Ampla e setores ditos progressistas mas que, de fundo, apenas governam para outras frações da classe dominante. Só assim é possível garantir um programa que vá de encontro aos interesses do povo trabalhador pernambucano.