SP: Para derrotar Nunes e o bolsonarismo, PSTU chama voto crítico em Boulos
Seu projeto, contudo, não é alternativa. É preciso organizar a luta e uma oposição de esquerda e socialista
O primeiro turno das eleições municipais se encerrou com Nunes e Boulos passando ao segundo turno após uma eleição acirrada, marcada por baixarias e violência política.
O PSTU tem orgulho de ter apresentado uma chapa encabeçada por Altino e Silvana, que defendeu uma alternativa socialista e revolucionária, que enfrenta a extrema direita e, ao mesmo tempo, de oposição de esquerda e socialista ao governo Lula, mesmo em um processo completamente desigual que mantém no poder aqueles que governam para os capitalistas.
Agora, no segundo turno, quando não poderemos apresentar uma candidatura independente, defendemos voto crítico em Boulos. Fazemos isso porque entendemos o desejo de milhões de trabalhadores e jovens que esperam que o bolsonarismo seja derrotado na eleição e faremos campanha para ajudar em sua derrota. Mas nos opomos ao projeto de conciliação de classes, de “Frente Ampla” defendido por Boulos e não abrimos mão do programa que apresentamos durante o primeiro turno.
O programa de Boulos e os compromissos firmados durante toda a sua campanha foram com os capitalistas, com o governo Lula e com vários partidos e figurões da direita. Pelas escolhas que tomou, não confiamos que Boulos fará um governo comprometido com os interesses do povo trabalhador de São Paulo.
Perdeu, Marçal! Nunes é o candidato do bolsonarismo
Marçal surgiu na eleição provocando agressões e defendendo um projeto ultraliberal contra o povo trabalhador. Se diz antissistema, mas é um burguês que ganha milhões com a exploração dos trabalhadores e se beneficia do sistema capitalista, inclusive com negócios ligados a golpes e ao mundo do crime.
Nunes é o único representante da extrema direita no segundo turno e terá o apoio, além de Bolsonaro e Tarcísio, também do Marçal.
Tentando aparecer como bolsonarismo domesticado e institucional, nos moldes do governador Tarcísio, ele é hoje parte desse bloco de extrema direita, liderado por Bolsonaro e figuras como Silas Malafaia, além de ser personagem fundamental para o seu fortalecimento. Por isso, aceitou um vice militar defensor de agressão aos pobres, indicado por Bolsonaro, e chegou a questionar a vacinação obrigatória durante a pandemia.
Como prefeito, Nunes fez um mandato tão apagado quanto danoso. Logo no início do seu governo fez uma reforma duríssima contra a aposentadoria dos servidores municipais. Em seguida, realizou a privatização do serviço funerário, aumentando em 400% o custo dos velórios e enterros, penalizando a população mais pobre. Recentemente, Nunes ajudou Tarcísio na privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Depois do seu mandato, quase 70% do orçamento da saúde pública municipal está privatizado e oito em cada dez bebês e crianças matriculados nas unidades educacionais da rede municipal de São Paulo estão em creches ou escolas terceirizadas.
No meio da eleição, São Paulo teve, por vários dias seguidos, o ar mais poluído do mundo. Estava difícil respirar. Isso aconteceu pelas queimadas do agro. Mas Nunes também tem responsabilidade. Um ano atrás, o prefeito realizou uma mudança no Plano Diretor da cidade para atender seus amigos do mercado imobiliário, flexibilizando fortemente a legislação ambiental do município.
Como prefeito, colocou a prefeitura em guerra contra a realização do aborto legal nos hospitais públicos da cidade. O principal alvo dos ataques foi o hospital Vila Nova Cachoeirinha, referência na realização de aborto na capital. Chegou a ameaçar colocar na direção do hospital uma médica bolsonarista antiaborto.
Ricardo Nunes não é “cria da periferia”, como tenta se apresentar. Ele é o representante de Bolsonaro em São Paulo, governou por 3 anos a serviço dos bilionários e precisa ser derrotado. Depois de um governo como este, é mais do que esperado que um setor importante da população queira se livrar de Nunes.
Votar em Boulos contra Nunes, mas nenhuma confiança em Boulos
Como afirmamos, chamamos a votar em Boulos, para a derrota eleitoral de Nunes. Mas o nosso voto é crítico porque o projeto político de Boulos não responde às necessidades da classe trabalhadora da cidade.
Para chegar até o segundo turno, Boulos se aliou à burguesia e buscou se tornar palatável à Faria Lima e seus bilionários capitalistas. Deu uma guinada à direita, abandonando várias pautas dos movimentos sociais, como a defesa do direito ao aborto, à legalização das drogas, a luta contra as privatizações da saúde, da educação e do transporte e até defende dobrar a GCM com poder de polícia, o que terá como efeito inevitável mais repressão nas periferias. Chegou ao ponto de, após anos militando no movimento de luta por moradia, dizer que se for necessário vai realizar despejos.
Junto com isso se aliou a partidos e a figuras da direita. O principal exemplo, ainda que não seja o único, é a sua própria vice, Marta Suplicy, que, como prefeita, realizou um mandato marcado por ataques ao funcionalismo público e com criação de taxas para os pobres, e como parlamentar votou na reforma trabalhista do governo Temer. Quando Lula propôs que Marta fosse a vice de Boulos, ela estava ocupando um cargo de secretária na prefeitura do próprio Ricardo Nunes.
Boulos, além de aliado de Lula, tem como modelo o modo petista de governar. Lula como presidente governa em aliança com o Centrão, manteve ataques como as reformas da previdência e só em 2024 já cortou bilhões da saúde e educação, além de, recentemente, com votos do PSOL e do próprio Boulos, cortar os benefícios chamados de BPC’s de 670 mil idosos e pessoas com deficiência em situação de extrema pobreza. Tudo isso para atender aos interesses de banqueiros, ao mesmo tempo em que aplica um Plano Safra recorde de R$400 bilhões para o agronegócio que causa queimadas no país. Se for eleito prefeito, Boulos não irá romper com a lógica do arcabouço fiscal de Lula, que penaliza os mais pobres para beneficiar os bilionários.
O projeto que Boulos apresentou para a eleição municipal deste ano assume a mesma lógica de Lula: governar para os capitalistas, entregando migalhas ao povo trabalhador.
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Derrotar Nunes e o Bolsonarismo prá valer, só com independência de classe
A extrema direita se transformou em uma força política real, mobilizando uma parte da sociedade como se fosse “anti-sistema”, quando na verdade é a parte mais reacionária do sistema. E conseguiu fazer isso em grande medida por responsabilidade de uma esquerda reformista que defende a atual ordem capitalista e liberal em crise e a administra contra os trabalhadores e o povo oprimido, como fazem os governos de Frente Ampla do PT e PSOL.
Compreendemos o anseio daqueles que querem derrotar o bolsonarismo eleitoralmente, mas ele não será derrotado apenas com eleições. Basta ver que 2 anos após a vitória de Lula (com maioria na cidade) a Câmara de São Paulo tem mais vereadores de direita radical e as duas candidaturas de extrema direita (Nunes e Marçal) tiveram juntas 57%. Além de que nacionalmente continuam controlando o Congresso e aumentaram o número de prefeituras nesta eleição.
É preciso enfrentar as condições estruturais, políticas e sociais que alimentam a extrema direita. Isso não será feito dando dinheiro para o agro e para os banqueiros, dizendo para esquecer o golpe militar de 1964 ou inclusive realizando frentes eleitorais em dezenas de cidades com candidatos bolsonaristas, como faz o Lula.
Para derrotá-los de fato é preciso uma alternativa que combata os capitalistas e que chame os trabalhadores a construir sua organização independente e a lutar contra seus ataques. O projeto que Boulos apresenta não fará isso, a menos que rompa as alianças com a burguesia, se oponha pela esquerda ao governo Federal e chame a mobilização dos trabalhadores para derrotar as privatizações de Tarcísio e o Arcabouço Fiscal de Lula.
Construir uma alternativa socialista e revolucionária e organizar a luta em defesa dos nossos direitos
É preciso avançar na organização independente dos trabalhadores para enfrentar os capitalistas e seus ataques. Sem isso é impossível derrotar a extrema direita bolsonarista que se alimenta desse sistema podre.
É necessária a completa independência da classe trabalhadora em relação aos patrões e em oposição de esquerda e socialista aos governos das três esferas, inclusive os que governam em conciliação com a burguesia, como faz Lula e como defende fazer Boulos.
Faremos uma campanha pelo voto crítico em Boulos nos somando à todos e todas da classe trabalhadora e da juventude que querem derrotar eleitoralmente Nunes mas, ao mesmo tempo, queremos fortalecer e construir a luta e a organização independente da classe trabalhadora e do povo pobre, pelas pautas que o próprio Boulos abandonou, como a luta contra as privatizações e em defesa de uma educação, saúde e transporte 100% públicos e de qualidade, a defesa do aborto legal realizado no SUS, pelo controle popular da GCM e contra sua ampliação e transformação em polícia e por despejo zero.
Para realizar essas tarefas precisamos de mobilização e organização dos trabalhadores e do povo independente dos capitalistas e seus governos, e construir uma oposição de esquerda, de classe e socialista aos governos municipal, estadual e federal. É necessário um governo socialista dos trabalhadores, onde a classe, junto com o povo pobre, governe através de assembleias populares. Venha com a gente construir um partido revolucionário e socialista, para lutar por esse projeto.