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SP: O que esperar do novo governo Ricardo Nunes (MDB)

Preparar a luta e construir uma alternativa socialista contra Nunes e Tarcísio e em oposição de esquerda ao governo Lula

Deyvis Barros, de São Paulo (SP)

5 de novembro de 2024
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Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito com o apoio de Bolsonaro e Tarcísio | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Passada a eleição, parte da burguesia e da imprensa burguesa tentam emplacar a ideia que a vitória de Ricardo Nunes (MDB) à prefeitura da cidade de São Paulo, apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seria o triunfo de uma direita moderada, de “centro”, aliada com valores democráticos, contra aqueles que quiseram levar a eleição aos extremos, sendo Marçal a principal expressão dessa direita polarizadora e antidemocrática.

Acontece que, ao contrário dessa ficção de um bolsonarismo institucionalizado, o resultado eleitoral expressou um “centro” mais à direita, abrigando figuras dessa direita extremada e sendo pautado por seus valores.

Ainda que Bolsonaro (PL) tenha tido uma postura vacilante diante da candidatura de Nunes, buscando evitar uma quebra de braço definitiva com Pablo Marçal, que arriscava ampliar a divisão de sua base eleitoral e política, e que, por outro lado, o próprio Nunes tenha se demonstrado hesitante em relação ao apoio do ex-presidente, temeroso de herdar sua rejeição, seria um erro concluir que a vitória de Ricardo Nunes seja o triunfo de uma direita moderada e, portanto, sem relação com o que é o fenômeno bolsonarista.

Buscando recompor forças após a derrota eleitoral de 2022 e as consequências da tentativa de golpe fracassada do 8 de janeiro, Bolsonaro assumiu uma estratégia eleitoral que combinava o estímulo a candidatos de origem e perfil diretamente bolsonarista em algumas cidades, com o apoio a candidaturas de outras origens que possam ser base ao seu projeto de poder e suas pautas, em outras. Foi essa segunda opção a adotada em São Paulo quando o ex-presidente rifou Salles e impulsionou Nunes.

Nunes, com uma aparência institucional, é parte desse bloco de extrema direita e um personagem fundamental para sua recomposição. Além de um vice ex-comandante da Rota indicado por Bolsonaro, que defende abordagens violentas nas periferias, o prefeito vai assumindo o programa do bolsonarismo, chegando ao ponto de questionar a vacinação obrigatória durante a pandemia.

Nunes após a eleição é categórico sobre que lado está. Numa entrevista ao jornal O Globo dizia que “Quando o Bolsonaro trouxe o PL para nos apoiar, trabalhando para indicar o nome do coronel Mello pra vice, ele depois acabou tendo sucesso de conseguir convencer os outros partidos. Foi uma contribuição importante que ele trouxe pra campanha” e sobre a disputa presidencial em 2026 que “a prioridade é do presidente (Jair) Bolsonaro, que representa a direita a nível nacional”.

O governador Tarcísio, apontado como possível candidato de uma direita institucional para 2026, vem aplicando em seu mandato um projeto que, além de ultraliberal, é de aumento das características autoritárias do regime. No seu primeiro ano, trocou mais da metade do primeiro e a parte do segundo escalão da Policia Militar (PM) para incorporar um comando alinhado com a sua política que significava chacina no Litoral Sul naquele momento, incorporava a luta contra o uso de câmeras corporais pela PM e dava um passo no caminho de uma corporação mais violenta. O resultado são os aumentos sucessivos do número de jovens negros assassinados pela polícia desde o início do seu governo.

Ao mesmo tempo, o governador ampliou o nível repressão contra os movimentos sociais. Desde que Tarcísio assumiu, foram realizadas ações violentas contra manifestantes em relação ao aumento das tarifas do metrô e trens, a militarização das escolas, a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e agora em relação à privatização das escolas públicas, com manifestantes presos em várias delas. Além disso, o governador demitiu 8 metroviários e tentou aplicar medidas punitivas contra centenas deles em função dos protestos contra as privatizações.

O projeto de Tarcísio e Nunes combina violência contra o povo trabalhador e negro a serviço da aplicação de uma política que atende ao interesse de lucro dos grandes monopólios capitalistas.

O que esperar de um novo governo Ricardo Nunes

Já desde o seu primeiro mandato, Nunes foi um fiel aliado de Tarcísio em medidas como a privatização da Sabesp, as escolas cívico-militares e a política de violência e dispersão da Cracolândia.

Um segundo mandato de Nunes será marcado por um apoio ainda maior a Tarcísio na sua batalha para concluir medidas como as privatizações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a mudança da sede do governo para o Centro da cidade que ampliará o processo de gentrificação na região. Assim que passou a eleição, Tarcísio iniciou a privatização de dezenas de escolas e Nunes já ameaça com aumento das tarifas de ônibus, do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e com novas privatizações.

Governador e prefeito estarão juntos para aplicar um projeto anti-povo que precisa ser enfrentado com unidade de ação e com uma clara política de independência de classe.

Alternativa socialista

Passada a eleição será necessário organizar a mais ampla unidade de ação para enfrentar o projeto privatista, anti-povo e violento do governo Tarcísio.

Um projeto que enfrente de forma consequente Tarcísio e Nunes não será feito sem se confrontar diretamente com Lula (PT) e seu governo de frente ampla a serviço dos interesses dos bilionários capitalistas.

Hoje, Lula ajuda diretamente na implementação de projetos contra os trabalhadores impulsionados por essa extrema direita, como é o caso da privatização das escolas promovida por Tarcísio e financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Boulos (PSOL), quando assume parte do programa de Marçal e vai à entrevista com ele, passa a ideia de que existe algo de progressivo no candidato empreendedor-anticomunista.

A tarefa central dos trabalhadores e jovens precisa ser construir uma alternativa socialista, com independência de classe, que vá a fundo no combate aos governos e seus ataques, sem conciliar com a burguesia que é fiadora e interessada nas medidas que estão sendo aplicadas por eles.

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