Juventude

Sobre o retorno das aulas presenciais nas universidades públicas

Mandi Coelho, da Rebeldia, Juventude da Revolução Socialista

21 de março de 2022
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Enem no Pará Foto Ricardo Amanajás/Ag.Pará

Sabemos que a variante Ômicron mudou bastante a pandemia. Sendo a variante mais transmissível, de acordo com a OMS, desde que foi identificada mais casos foram relatados do que no ano de 2020 inteiro. O número de mortes não acompanhou o crescimento no número de casos, porém em todos os países está crescendo o número de mortes, principalmente naqueles em que a vacinação está num ritmo mais lento.

A posição negacionista propagada por Bolsonaro e seus aliados desde o início da pandemia foi a responsável pelas mais de 650 mil mortes que tivemos no país. Foram vários absurdos que ouvimos ao longo desses dois anos: que a pandemia não era nada, de que o vírus era uma “gripezinha”, de que a vacinação não era importante, disseminação de fake news e indicação de tratamento com remédios ineficazes, dificultar a vacinação de crianças e um longo etc.

Contra o negacionismo do governo, defendemos que tivesse quarentena no país, com garantia de renda e salário. À medida que os governos estaduais foram todos pressionando o retorno, nós batalhamos para que isso não acontecesse, com greves, assembleias, mobilizações, em defesa da vida dos trabalhadores. Nós tomamos todas as medidas de segurança desde o início e já iniciamos 2022 exigindo a vacinação das crianças.

Qual deve ser a política do movimento estudantil nesse momento?

Ao longo de toda a pandemia, o movimento estudantil esteve atravessado por uma pergunta: quando será possível retornar as aulas presenciais? E no momento que isso for acontecer, como se dará? Desde o meio de 2021, foi travada uma batalha nas universidades contra as Reitorias que tentaram retornar as atividades presenciais, sem nenhum tipo de envolvimento da comunidade acadêmica nessa decisão.

Na época, fomos contra a retomada presencial. Era o momento de surgimento da variante Delta, e apesar da vacinação ter iniciado para a população jovem, que representa o maior contingente das universidades, ainda não havia nenhuma certeza de como as coisas correriam.

No entanto, sabíamos que só dizer “contra o retorno presencial” era uma resposta incompleta, e foi por isso que também acoplamos a reivindicação de que o movimento estudantil deveria elaborar um plano de retorno seguro em conjunto com os docentes, funcionários e terceirizados.

No entanto, nos parece que a pandemia está em outro momento. A maior parte da população adulta já possui as duas doses da vacina, e a terceira dose também está sendo aplicada. Além disso, já houve uma retomada do presencial na sociedade de conjunto, as escolas, por exemplo, estabeleceram o ensino presencial desde fevereiro. Cinemas, restaurantes, bares, empresas, escritórios, já fizeram a volta ao presencial. O próprio Carnaval aconteceu também, mesmo que de maneira privatizada! Dessa forma, a universidade também deve se inserir nesses marcos.

Assim, achamos que esse é o momento de exigir o retorno presencial e seguro das reitorias, a partir da elaboração feita pelo movimento, em conjunto com professores e funcionários, das necessidades para o retorno presencial. Cada local de ensino tem sua demanda para que o retorno presencial seja seguro. São necessárias mais salas, para que os estudantes não fiquem aglomerados? É necessária mais contratação de professores, para dar conta da demanda? É necessária a reforma dos prédios? Tudo isso deve ser questionado e exigido perante as reitorias, responsáveis para garantir que o retorno seja de fato seguro e que possa ser realizado.

Além disso, achamos que, para que esse retorno seja seguro, todas as medidas sanitárias devem ser tomadas: garantia de espaços ventilados, sem aglomeração e com possibilidade de distanciamento, álcool e máscaras distribuídos para a comunidade, testagem e possibilidade de se afastar das aulas e do trabalho sem punição e perseguição,água nas torneiras de banheiros, rodízio de aulas, mais transporte estudantil, medidas que assegurem que será possível se alimentar nos restaurantes universitários sem aglomeração e o que mais for necessário.

Também achamos importante que as universidades cobrem o passaporte de vacinação. Só pode participar de atividades presenciais aqueles que tiverem tomado no mínimo as duas doses da vacina. A CNN fez um levantamento de que, em pelo menos 4 capitais do país, mais de 80% dos internados não estão com o esquema vacinal completo. Hoje, portanto, exigir o passaporte de vacinação, é uma medida que pressiona a população a se vacinar. Posturas como a da Reitoria da UFMG, que afirmou que exigir o passaporte não é educativo, devem ser extremamente repudiadas (com a pressão que sofreu o reitor voltou atrás nessa política).

Precisamos lutar contra qualquer forma de ataque a educação!

Por outro lado, sabemos que, por conta do cenário atual, ainda que retornemos presencialmente, o mais provável é que as atividades aconteçam de maneira semipresencial, ou melhor dizendo, híbrida. Se o ensino híbrido é uma necessidade momentânea, uma vez que ainda não é possível retornar ao funcionamento presencial das universidades da exata forma como era antes da pandemia, devemos ser cautelosos porque não há dúvidas que os governos todos e a burguesia se utilizarão disso para aprofundar os ataques à educação.

Esse projeto de ataques se aprofundou absurdamente na pandemia. São vários os interessados na hibridização do ensino. Isso porque ela barateia os custos de manutenção de uma universidade: diminui o quadro de funcionários, não exige tanta manutenção de estrutura física, não é necessário garantir todos os materiais didáticos para os alunos, uma vez que nós que arcaremos com internet e computadores etc.

A burguesia, os governos e os tubarões da educação – as grandes empresas da educação – já atacavam a educação pública antes mesmo da pandemia. Agora, não há dúvidas que se utilizarão do ensino híbrido para aprofundar esses planos. Nós não rechaçamos o uso de tecnologia, e nem negamos que o online e o presencial são esferas complementares de atuação, mas fazemos esse alerta porque, em todas as distintas etapas da pandemia, e mesmo antes dela, todos eles nos atacaram. Não será agora que farão diferente.  

Dessa forma, nossa luta nesse momento é pelo retorno presencial, seguro, com todas as medidas de segurança sendo exigidas pela reitoria. É preciso continuar a luta também em defesa da universidade pública, com mais verbas para educação, para que a burguesia e os barões da educação não se utilizem desse momento para privatizar, precarizar, cortar gastos e, assim, aumentar seus lucros as custas da educação!

  • Que o movimento estudantil comece a organizar o retorno presencial nas universidades
  • Pela garantia de todas as medidas sanitárias necessárias
  • Essas medidas devem ser elencadas pelo movimento estudantil em conjunto com professores e funcionários, num plano de retorno elaborado de forma coletiva
  • Organizar as nossas demandas de forma democrática, contra a imposição de planos de retorno da reitoria, de cima para baixo
  • Contra o projeto dos governos de aprofundar a desigualdade social na educação com a hibridização do Ensino