Sobre o ataque armado à creche em Blumenau, Santa Catarina
Primeiramente, manifestamos nosso pesar e solidariedade a todos os familiares e amigos das vítimas desse crime hediondo recém-cometido em uma creche de Blumenau, bem como aos trabalhadores da creche, e aos trabalhadores da educação de conjunto. Infelizmente, não foi o primeiro ataque do tipo em nosso país e nem em nosso estado. Pelo contrário, já havíamos visto um ataque semelhante em São Paulo na semana passada.
Estamos todos chocados, pensando no que levaria alguém a invadir uma creche armado com um machado para assassinar crianças. Essa violência terrível não é gratuita, nem representa um caso isolado. Já é comum se dizer que esse tipo de ataque é reflexo de uma sociedade doente, que supervaloriza o mercado em prejuízo da vida dos trabalhadores, exigindo-lhes cada vez mais produtividade e retribuindo-lhes cada vez menos ganhos. Que é resultado da falta de perspectivas. Não só em termos de trabalho e renda, mas também no que diz respeito à saúde, educação, lazer, transporte, sustentabilidade, alimentação e cultura.
Mas se é verdade que este ataque se insere no marco do adoecimento da sociedade capitalista, também é fato que vivemos há muito tempo sob esse mesmo capitalismo, mas que estes sintomas de barbárie têm crescido nos últimos anos, o que deve ser explicado. Segundo artigo da Folha de S. Paulo, a média destes ataques passou de um por ano no país para um por mês no último período.
Não é o caso de tornar o criminoso uma “vítima da sociedade”, pelo contrário, devemos exigir punição exemplar dos envolvidos. Mas não se pode perder de vista que o atentado é um reflexo desta realidade deprimente e decadente, da impunidade de outros crimes, minimizados ou mesmo perpetrados por quem está no poder, em quaisquer dos três poderes instituídos. Como foi o caso do juiz que absolveu dois neonazistas que espalharam suásticas e cartazes alusivos à celebração do aniversário de Hitler em Itajaí em 2019. Ou de personalidades públicas que defenderam abertamente a organização de um partido nazista em 2022 e não receberam imediata voz de prisão. Assim como de falas de apoio a torturas, recorrentes falas racistas, machistas, xenofóbicas, LGBTfóbicas do último ex-presidente do país e de vários dos seus homens e mulheres de confiança que, por não responderem judicialmente por isso da forma necessária, acabaram por se tornar porta-vozes de ideologias nefastas e incentivar sua organização e proliferação pelo país. Neste sentido, impressiona a falta de ação do governo Lula no combate à extrema-direita.
Sim, o ataque à creche de Blumenau é claramente um ataque de extrema-direita!
Mesmo que ainda não conheçamos todos os detalhes do acontecido, foi um ato de violência dirigido não contra os exploradores, os ricos, governos e poderosos, mas contra os mais vulneráveis, as crianças. E este é o foco dos ataques da extrema-direita, os vulneráveis, crianças, idosos, pessoas com deficiência, oprimidos, trabalhadores, humildes, mulheres, negros, indígenas, LGBTs, gente em situação de rua. É uma ideologia que direciona o ódio existente na sociedade não contra os responsáveis por toda a degradação existente, mas contra os mais fracos. É o suprassumo da covardia e da canalhice!
Pior, a extrema-direita agora tentará se aproveitar desta tragédia para propagandear sua saída reacionária, exigindo mais repressão, policiamento, pena de morte, etc, sem tocar nas causas de toda essa degradação.
Portanto, as causas deste ataque devem ser buscadas, por um lado, na degradação da sociedade em si e na extrema-direita, e por outro na ausência de uma alternativa que direcione o justo ódio a esta sociedade contra quem é merecedor deste ódio, os poderosos, ricos, governantes – em uma palavra, contra o capitalismo.
O sucateamento dos serviços públicos, o desemprego, a inflação, a falta de oportunidades e perspectivas, associados à impunidade ou ao abrandamento para crimes de ódio, ao não julgamento dos crimes da ditadura, ao não combate efetivo e permanente ao crescimento das células nazistas no país é que criam o cenário propício para psicopatas e criminosos desesperados se encherem de motivação para perpetrarem esse tipo de crime que sofremos hoje todos nós. A internet está cheia de fóruns e grupos que discutem abertamente a organização de atentados do tipo.
Para uma mudança verdadeira…
Por que o ódio e indignação contra essa realidade de aprofundamento da barbárie que vivenciamos dia após dia não se reverte num amplo processo de lutas dirigido contra a sua causa real, e não contra suas vítimas? É resultado de uma absoluta falta de alternativa ao capitalismo para a imensa maioria da população, que em busca de soluções aos seus problemas mais urgentes e contra a extrema-direita, encontra uma esquerda, hoje no poder, personificada no PT, sua “frente ampla” e seus satélites, convertida nos grandes defensores do regime capitalista.
Uma “esquerda” que não se dispõe a romper com o sistema existente, que não apresenta nenhuma solução de fundo a estes problemas, gerando apenas decepção, desmoralização e desmobilização. Como exemplo, o Governo Lula-Alckmin se recusa a revogar o tal Novo Ensino Médio de Temer e Bolsonaro, que empurra a educação pública do país mais um degrau abaixo na longa escada de sucateamento e degradação, deixando a juventude sem perspectivas e cada vez mais desesperada, convertendo-a em um alvo fácil para ideologias de extrema-direita. Assim como se recusa a revogar as privatizações realizadas sob os governos de direita e se esforça por agradar aos “mercados”!
São necessários serviços públicos de qualidade. É necessário criar empregos, reduzir a jornada de trabalho, aumentar salários, investir pesado em ciência, educação e saúde públicas, construir escolas, creches e universidades de qualidade, com financiamento adequado e gratuito para todos. As pessoas empregadas, com melhores salários que garantam melhor nível de vida a suas famílias, com mais tempo livre, sem as jornadas esgotantes de trabalho atuais, tempo para socialização, tempo com as crianças, melhor qualidade na educação, melhores perspectivas de futuro. Tudo isso eliminaria as bases da extrema-direita, teríamos uma sociedade saudável. E isso tudo é perfeitamente possível! Mas não sob o capitalismo, não nos iludamos.
É necessário organizar os setores explorados e oprimidos dentro das escolas e na sociedade, para levar adiante a conscientização da luta contra a exploração e opressão, mas também para organizar a autodefesa nas escolas contra a extrema-direita, para coibir ataques como este. E neste marco, exigir do governo punição da extrema-direita, dos neonazis, nenhuma anistia aos golpistas que incentivam o ódio e a violência contra os trabalhadores e oprimidos.
…construir outra sociedade
É preciso mudar tudo, e seria ingenuidade esperar que um sistema que serve ao capital possa fazê-lo. Somente a luta organizada do povo trabalhador e oprimido poderá pôr fim a essa barbárie que o capitalismo criou e nos impõe. Não há solução por dentro do capitalismo. Não há burgueses bonzinhos, preocupados com o bem-estar da população. Precisamos discutir um outro tipo de sociedade, em que a riqueza produzida por todos seja retribuída a todos em forma de renda digna e de serviços públicos de qualidade em todas as áreas.
Assim como a humanidade proibiu a escravização de seres humanos uns pelos outros, deve proibir a exploração de seres humanos uns pelos outros. Isso é socialismo, que em nada se confunde, como querem nos fazer crer a extrema-direita e a esquerda reformista, com o que existe na Venezuela ou em Cuba, onde burocratas do Estado se esbaldam com as riquezas do país, deixando o povo na miséria. Lá não existe socialismo, mas capitalismo, do mais selvagem e ditatorial!
A juventude não pode nem se render à barbárie capitalista, e nem se voltar para a extrema-direita. E tampouco deve dar ouvidos ao canto de sereia da esquerda reformista, que tenta convencer que é possível melhorar de vida sob o capitalismo, em aliança com os exploradores, bastando para isso votar neles e ter paciência. Isso também é mentira! Há que combater nas ruas a extrema-direita bolsonarista, que, como parasitas, se alimentam da barbárie, e ao mesmo tempo construir uma alternativa verdadeiramente de esquerda, socialista e dos trabalhadores ao Governo Lula/Alckmin, que não combate de fato nem a extrema-direita nem as causas de todas as mazelas. Há que se organizar e lutar por uma sociedade socialista, sem exploradores, em que se eliminem as condições que geram tragédias como mais essa que vimos em Blumenau.