Declarações

Sobre a tentativa de golpe bolsonarista que planejou a execução de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes

Redação

20 de novembro de 2024
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Cerimônia Comemorativa do Dia do Exército, com a Imposição da Ordem do Mérito Militar e da Medalha do Exército Brasileiro. Foto: Marcos Corrêa/PR

A operação da Polícia Federal que prendeu quatro militares e um policial da própria corporação neste dia 19 expôs detalhes sórdidos do intento de Bolsonaro e de seu entorno de dar um golpe e instaurar um regime de exceção no país. A operação Contragolpe, que prendeu altos oficiais, como um general e ex-ministro de Bolsonaro, um  major, um comandante das Forças Especiais (os “kids pretos”), causou enorme repercussão, porque mostra um plano para executar Lula, seu vice eleito, Geraldo Alckmin, além do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. 

Longe de ser uma ação tresloucada, o que a PF vem revelando trata-se de um plano articulado com agentes treinados em ações de guerrilha, terrorismo e sabotagem, sob a direção de generais do Exército. A intentona golpista se daria no dia 15 de dezembro e recebeu a sugestiva alcunha de “Punhal Verde e Amarelo”. Segundo os planos dos golpistas, após os assassinatos, se formaria um “gabinete de crise” comandado pelo General Heleno e Braga Netto, uma espécie de reedição da junta militar que tomou o país após o golpe de 1964. 

A operação da PF desta terça joga ainda mais luzes na política golpista do bolsonarismo, com a diferença de que agora, além de documentos e minutas, mobilizações financiadas pela ultradireita, como os acampamentos golpistas, fechamentos de estradas, ameaça de bombas em aeroporto e torres de energia, ou o próprio 8 de Janeiro, aparecem evidências de uma tentativa de golpe que foram para além do mero planejamento. O que se sabe até agora é que, além dos alvos terem sido intensamente monitorados, o ministro Alexandre de Moraes esteve prestes a ser interceptado, ou seja, preso ou até mesmo executado.

Todo o caso ganha um aspecto ainda mais grave quando se descobre que pelo menos dois dos militares presos estavam em pleno G20 no Rio de Janeiro, sendo que um deles, integrante dos “kids pretos”, acompanhou, a pedido próprio, a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) que o governo Lula decretou na cidade.

Polícia Federal apreende documentos sobre tentativa de golpe de Estado Fotos Públicas

Crescimento e retrocesso da ultradireita

A resiliência da ultradireita, ainda que com divisões em suas disputas por protagonismo, mostra que ela está hoje mais consolidada do que estava em 2018, quando Bolsonaro foi eleito, ou mesmo imediatamente após a derrota do 8 de Janeiro, com influência significativa em setores de massas. 

Esse processo prova que a extrema direita não será derrotada enquanto se mantiverem as condições que a geram, ou seja, enquanto se sustentar essa democracia dos ricos, com a implementação do mesmo plano social-liberal que promoveu a desindustrialização e a decadência do país, como fizeram os governos do PSDB e do próprio PT. E que o governo do PT agora, além do mais, aprofunda em meio a uma grande crise do sistema capitalista. Ao contrário, à medida em que os problemas sociais e estruturais do país não se resolvem, mas se aprofundam em meio à crise e à decadência capitalista, a ultradireita ganha cada vez mais força. 

Ganha ainda mais impulso com as políticas levadas a cabo pelos governos ditos de esquerda que, uma vez no poder, seguem governando para o grande capital, atacando a classe trabalhadora e, desta forma, se desmoralizando, e perpetuando a ultradireita como alternativa. No Brasil, o governo Lula impôs o arcabouço fiscal, não reverteu a reforma trabalhista como prometeu, mas, ao contrário, prepara um pacote de ataques para beneficiar os bilionários capitalistas para os quais governa de fato.

O resultado das eleições municipais mostraram isso de forma bastante categórica, assim como a recente vitória esmagadora de Trump nos EUA. 

O malfadado atentado bolsonarista no Congresso Nacional e no STF, porém, e as recentes revelações do plano golpista, colocaram, pelo menos por agora, a extrema direita na defensiva. O projeto de anistia, que ganhava adesão e peso, perdeu força. Um projeto que, evidentemente, não pretendia livrar a cara dos pobres coitados instrumentalizados pela extrema direita na tentativa de golpe de 8 de janeiro, mas reabilitar Bolsonaro para 2026. Bolsonaro, porém, está hoje mais próximo da cadeia que do Planalto.

Derrotar de verdade a extrema direita

A bem da verdade é que o que vimos com este inquérito da PF foi que as instituições da democracia burguesa, bastante ágeis quando se trata de tirar direitos dos trabalhadores e da classe média em prol de bilionários capitalistas,  não são capazes de enfrentar até o fim a extrema direita. Fosse por essas instituições, Alexandre de Moraes estaria agora conversando com seu colega Teori Zavascki. Tampouco o governo Lula consegue, ou deseja, enfrentar de forma consequente e até o fim a ultradireita. Pelo contrário, adere à política da conciliação, inclusive com a direita.

O ascenso da extrema direita é um fenômeno internacional, fomentado e impulsionado pela crise capitalista e pelo processo de desagregação social que ele produz. As instituições e os governos, de esquerda capitalistas, progressistas ou democrático-liberais, não conseguem ou não querem derrotá-la definitivamente, porque gerem o mesmo capitalismo em crise que produz a ultradireita, muitas vezes, inclusive, em aliança com ela. 

Logo, a única forma de derrotar de forma definitiva a ultradireita é acabando com as condições socioeconômicas que a fazem florescer, como cogumelos no esterco. Em outras palavras, é preciso enfrentar o capitalismo. E isso não é possível pela via eleitoral, ou pela via da conciliação de classes, ou, muito menos, com um projeto social-liberal como o de Lula no Brasil. Isso só garante sua perpetuação e mais tração para a ultradireita lá na frente.

O arcabouço fiscal de Lula-Haddad, o pacote contra direitos históricos que o governo está prestes a anunciar e até mesmo políticas históricas e caras ao PT, como a questão indígena e a negligência, para não dizer conivência pura e simples, com o agro contra os povos originários, são medidas que mostram que esse governo atua para e com os bilionários capitalistas, o grande agronegócio, as grandes empresas e o imperialismo. Por isso é preciso denunciar também que o governo Lula segue aplicando as políticas neoliberais, capitalistas, de ataques contra os trabalhadores para garantir os lucros das grandes corporações bilionárias.

Essa política de conciliação se estende aos militares golpistas, e à falta de empenho em banir esse pessoal, alterar completamente a estrutura das Forças Armadas e mudar, inclusive, a doutrina militar, o ensino nas escolas e academias, acabando com todos os resquícios da ditadura. Se existe uma oportunidade para fazer isso é agora, mas, infelizmente, o governo não fará.

Os trabalhadores não podem ficar reféns da Justiça dos ricos e das instituições do regime atual, pois elas são incapazes de enfrentar as ameaças bolsonaristas, que ainda são usadas contra os próprios trabalhadores.

É preciso exigir nenhuma anistia a golpista, prisão já para quem tentou impor uma ditadura, a começar por Bolsonaro, Braga Netto e todos do alto-comando das Forças Armadas envolvidos nesse ardil, principalmente os de quatro estrelas.

Bolsonaro e Braga Netto em cerimônia militar Foto Marcelo Camargo/ABr

Para derrotar a ultradireita, é preciso enfrentar o capitalismo

Só a classe trabalhadora, de forma independente, com um projeto seu, pode realmente combater e derrotar, de forma definitiva, a extrema direita e o golpismo. Mas isso exige organização, independência de classe e luta, inclusive contra os ataques e as condições de vida em que perece a maior parte da classe trabalhadora. Isso passa pelo enfrentamento ao arcabouço fiscal, pelo fim da escala 6×1 e os pacotes de cortes a direitos que vêm por aí. Ou seja, é preciso enfrentar o governo Lula, Lira, o Congresso Nacional e a ultradireita. Se são diferentes do ponto de vista político e de projeto, quando é para descarregar os efeitos da crise nas costas dos trabalhadores em prol dos bilionários capitalistas estão juntos. A diferença, quando existe, é de grau, em muitas medidas.

Por fim, a extrema direita só será derrotada de verdade quando acabarmos com esse sistema capitalista. E a única classe que pode fazer isso é a classe trabalhadora com sua própria luta, com um programa socialista e revolucionário. Um projeto que aponte para outro tipo de sociedade, contra a escravidão moderna do capitalismo ou o aprofundamento da barbárie que deseja a ultradireita. É necessário construir uma oposição de esquerda socialista ao governo de Lula, uma alternativa que aponte para uma sociedade socialista, onde a classe trabalhadora governe e as riquezas sejam compartilhadas por quem de fato as produz. Essa é a única forma de a classe trabalhadora ter uma vida digna.

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