“Só o PSTU fez uma campanha de enfrentamento aos grandes capitalistas no Rio Grande do Sul”
Qual a avaliação do primeiro turno no Rio Grande do Sul?
No Rio Grande do Sul, houve um deslocamento de votos para o bolsonarismo, não detectado pelas pesquisas. Assim como no Paraná e em Santa Catarina, Bolsonaro teve, aqui, a maioria dos votos e chegou a quase 49%. Essa recuperação da ultradireita e de um governo que se revelou genocida tem relação com a estratégia exclusivamente eleitoral do PT, do PSOL e da esquerda reformista.
O PSTU sempre defendeu que a campanha pelo “Fora Bolsonaro” tinha que ser a prioridade, com fortes mobilizações, nas ruas, até a derrubada desse governo. E isso era possível. Porém, o PT e as direções das maiores centrais sindicais esfriaram o movimento, se colocando como dique de contenção das lutas, visando apenas às eleições. A priorização da estratégia eleitoral é sempre o erro mais perigoso para os trabalhadores e trabalhadoras: substituir e enfraquecer a força da classe trabalhadora pela crença nas instituições da democracia burguesa.
Aqui no Rio Grande do Sul, somente o PSTU fez uma campanha de enfrentamento aos grandes capitalistas, defendendo a expropriação das grandes empresas e que mais exploram os trabalhadores. O PSOL aderiu vergonhosamente ao programa de colaboração de classes do PT gaúcho, que abandonou a pauta da classe trabalhadora e a defesa da reforma agrária, para não se enfrentar com o agronegócio e o latifúndio. Prova disso é o PT e PSOL ao lado de Alckmin e Meirelles, expressões da rendição à política de conciliação com a burguesia.
Você foi criticada por alguns militantes do PT, que culparam você pelo fato do candidato deles ao governo, o deputado estadual Edegar Pretto, ter ficado a 2.500 votos de ir para o segundo turno das eleições estaduais. Como você responde a esta essa crítica?
Creio que isso é uma falta de compreensão política descabida. Para que serve o primeiro turno das eleições? Para os partidos apresentarem suas propostas, seu programa, suas candidaturas etc. É um direito e um dever de um partido fazer isso: apresentar seu programa e suas propostas.
E nós não abriremos mão do nosso papel em nome de outro partido, com o qual não temos acordo, nem com o programa nem com as alianças que fazem com a direita.
Não adianta choramingar e jogar a culpa pra cima de nós pelo fato de não terem conseguido votos suficientes e não terem convencido as pessoas das contradições, ao abraçarem o inimigo. Não dá pra fugir dessa realidade. O problema nunca foi o PSTU. O problema está no PT, que não conseguiu votos suficientes para ir ao segundo turno por conta de suas próprias escolhas políticas.
E no 2º turno no RS? Qual é a posição do PSTU?
A eleição no segundo turno está entre dois candidatos representantes do capitalismo, de profunda confiança da burguesia. Ônix Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB) estiveram à frente de duríssimos ataques aos trabalhadores nos últimos anos. Leite se elegeu abraçado a Bolsonaro, depois procurou ser a “terceira via” burguesa, pelo PSDB nacional, e não conseguiu. Onyx teve participação direta no governo genocida de Bolsonaro e, aqui no estado, apoiou todas as reformas e ataques promovidos por Leite.
O PSTU está fazendo um chamado aos trabalhadores e trabalhadoras a não legitimarem nenhum deles. E organizarem, desde já, a luta e a oposição a esses governos! É necessária uma forte campanha pelo voto nulo e o desmascaramento dessas duas candidaturas da classe dominante. Só a revolta popular, a luta organizada da classe trabalhadora e a greve geral poderão derrotar os ataques, as privatizações e a violência promovida por esses governos. O PSTU está a serviço dessa luta e da construção de uma alternativa socialista e revolucionária.
O que os partidos da esquerda reformista estão defendendo?
Há uma crise em relação a esse tema. Os setores mais oportunistas, como o do ex-governador Tarso Genro (PT), estão apoiando Eduardo Leite e procurando incluí-lo em um tal “campo democrático”, que ninguém vivenciou – e nem poderia mesmo. É a colaboração de classes mais aberta, diretamente a serviço do grande capital nacional e estadual. Outros setores estão em silêncio ou se pronunciam apenas nas entrelinhas.
Somente o PSTU enfrentará de forma revolucionária esse debate. Existe uma experiência tão profunda da vanguarda lutadora com Eduardo Leite, e, obviamente, com Onix, que a organização de uma campanha pelo voto nulo no Rio Grande do Sul tem uma grande importância. Juntamente com a luta pelo Fora Bolsonaro.
Como foi a experiência da sua primeira campanha eleitoral e como foi a recepção à sua candidatura dentre os trabalhadores?
Foi emocionante a nossa campanha. Fui a única mulher negra, trabalhadora e socialista, candidata ao governo do estado. Enfrentamos o boicote da grande imprensa, mas conseguimos fazer uma campanha verdadeiramente revolucionária junto à classe trabalhadora e aos setores mais oprimidos da população.
Meu ingresso no PSTU foi precedido de uma longa atuação comum na luta de classes, no estado e no país. Para fazer a tão necessária revolução é preciso um partido revolucionário. E o PSTU mostrou que só um governo socialista, dos trabalhadores e trabalhadoras, junto com uma grande mobilização, pode fazer as mudanças. Saímos politicamente fortalecidos para os próximos embates.