Nacional

Só com auto-organização poderemos defender os trabalhadores, o povo e a natureza

PSTU-RS

6 de junho de 2024
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Protesto de moradores em Porto Alegre

Vivemos, no Rio Grande do Sul, uma grande experiência de auto-organização, tanto nos resgates quanto na formação de abrigos e, agora, na limpeza e higienização das casas. Vizinhos e pessoas que não se conheciam passaram a se ajudar, em uma rede de solidariedade que demonstra o potencial da auto-organização operária e popular.

Várias mobilizações começaram a pipocar espontaneamente e iniciativas, buscando unificação destas ações, estão sendo gestadas. Ao mesmo tempo, o prefeito Sebastião Melo (MDB) e o governador Eduardo Leite (PSDB) querem esvaziar os abrigos e construir as cidades “provisórias”.

Ficaria mais fácil invisibilizar os desabrigados se eles estiverem em verdadeiros campos de refugiados “provisórios”, que têm tudo para se transformarem em permanentes. Esta decisão não deveria ser submetida aos desabrigados? Não é o destino da vida deles que está sendo decidido?

O povo continuará na lama

Querem desmobilizar voluntários e atingidos e deixar nas mãos dos governos, deputados e vereadores as decisões e o dinheiro.

No jornal “Zero Hora”, há mais de uma semana, a jornalista Juliana Bublitz estabeleceu uma polêmica com a ultradireita e sua campanha, cujo lema foi “civil salva civil” e “o povo pelo povo”. Campanha que tenta se apropriar, fraudulentamente, da gigantesca solidariedade voluntária da população, como se o grande empresariado negacionista e inimigo da natureza e do povo fosse o “herói”.

Porém, esta campanha surfa no fato dos governos não garantirem o socorro da maioria das pessoas, nem a organização da solidariedade, além das falhas na prevenção e Defesa Civil. A conclusão da articulista é: “vivemos um momento-limite em que o voluntariado já não aguenta mais. Deixemos, a partir de agora, na mão do Estado.” Leia-se: deixemos nas mãos dos governos.

Mas, se ficarmos reféns dos governos e demais instituições desse Estado, o povo vai continuar na lama. E não estamos falando apenas das questões mais emergenciais. Onde as casas definitivas serão construídas? E a CEEE (energia) continuará na mão da Equatorial?

Impulsionar a auto-organização pela base

É fundamental que cada bairro e cada abrigo se organizem, realizem reuniões, assembleias e discutam suas necessidades e propostas para resolver os problemas da moradia, água, luz, auxílios, da Educação, dos ônibus etc.

Cada assembleia deve se conectar às demais, eleger diretamente representantes, controlados por ampla organização e participação popular. Pois, somente com mobilização e demonstração de força, teremos condições de impor que a “reconstrução” atenda às necessidades das vítimas da catástrofe

Neste momento, o papel dos sindicatos e coletivos é estarem a serviço da auto-organização. Não se trata de “horizontalismo”. Se trata de ampla organização, pela base e muita democracia, desde baixo, para unir, mobilizar e auto-organizar.

Não confiamos nas instituições desta democracia capitalista, que é dos ricos e cada vez mais restrita e teatral. O poder precisa estar na solidariedade, na mobilização, na auto-organização e na força da nossa classe. Do contrário, os grandes beneficiados serão os bilionários de sempre.

Polêmica

Manifesto de Maria do Rosário não responde à tragédia do povo pobre

Denior Machado, de Porto Alegre (RS)

O manifesto “Compromisso com Porto Alegre”, assinado pelo PT, o PV, o PCdoB e o PSOL, passou longe das necessidades urgentes dos trabalhadores e da população mais pobre atingida pela enchente. As pessoas continuam no meio do drama e nem sabem se daqui a alguns meses o pesadelo não voltará.

As respostas, além de vagas, não apontam o capitalismo e os governos que sustentam os bilionários como responsáveis pela crise climática e falta de proteção das cidades. Não cobram que bancos e grandes empresas paguem a conta da crise.

O Manifesto afirma: “Em nenhuma circunstância estruturas públicas serão privatizadas”, mas não diz que os governos das três esferas têm sucateado os serviços que poderiam proteger a natureza e o povo. Por que o Manifesto não propõe a reestatização da CEEE Equatorial? Por que não propõe o fim das terceirizações no DMAE (água e esgoto), cujo quadro funcional caiu pela metade?

O texto fala em coleta seletiva do lixo e valorização de profissionais, mas omite que o DMLU (departamento de limpeza urbana) foi privatizado nas gestões petistas da prefeitura.

Limites das propostas

Sobre a situação das pessoas em abrigos, propõe “qualificar espaços de acolhimento até que os que perderam tudo tenham novas moradias asseguradas”, sem informar que estas não serão gratuitas para todos. Não denuncia a especulação imobiliária, que vai aproveitar a tragédia para expulsar os pobres de seus bairros.

Cita as pequenas empresas, quando fala do auxílio do governo federal, mas omite que são as grandes empresas que estão recebendo os maiores recursos. No tratamento das infecções, reivindica o SUS, omitindo o avanço do sucateamento e privatização do sistema. Exatamente o mesmo no que se refere à Educação.

O que explica um programa tão limitado? A Frente em torno da candidatura de Maria do Rosário (PT) representa uma alternativa que não ultrapassa os limites do social-liberalismo.

Não é possível que a Frente pense em um governo que atenda aos interesses mínimos dos trabalhadores, o que dirá em um sistema socialista. O seu horizonte é o de um capitalismo “democrático”, dentro dos limites do Arcabouço Fiscal, submetido aos bancos.

A urgência de um projeto socialista
Seu programa deriva disso e por isso não entra na reestatização, no confisco de parte das fortunas ou dos lucros dos grandes, para pagar a reconstrução. É um projeto de conciliação de classes, amparado, como o de Lula, num Conselhão “com especialistas, setores econômicos, comunidades, e afetados pelas enchentes”. Leia-se, de conciliação com quem manda: os capitalistas.

Junta culpados e vítimas, exploradores e explorados, nos limites da ordem vigente, em vez de organizar os de baixo para enfrentar e romper com o sistema.

A necessidade de um partido revolucionário, que organize a luta dos trabalhadores contra o capitalismo, é cada vez mais urgente. O PSTU se dedica a isso.

É necessário construir um partido revolucionário, que defenda, junto à classe trabalhadora, um programa para que ela protagonize a revolução necessária. Que propague a independência de classe, incentive a auto-organização em conselhos populares, para que a classe trabalhadora decida, com democracia operária, os passos da sua luta, como no futuro deverá decidir tudo, em uma sociedade socialista.

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