Sem ações urgentes, Amazônia pode atingir ponto de “não retorno” em 2050, com consequências dramáticas
Risco de colapso na floresta amazônica é apontado em artigo que foi capa da revista científica Nature, nesta quarta-feira (14)
Estudo publicado, nesta quarta-feira (11), na revista científica Nature, aponta que a Amazônia pode atingir até o ano de 2050 o chamado ponto de “não retorno”, com perda substancial da cobertura da floresta tropical. Esse fato significaria mudanças irreversíveis no bioma da região, com consequências dramáticas para todo o planeta.
O artigo é assinado por 24 pesquisadores do mundo todo, entre os quais 14 brasileiros que coordenaram o estudo.
Os cientistas estimam limites críticos que, se forem atingidos, poderão causar um colapso de partes ou de toda a floresta. Eles são o aumento na temperatura média global acima de 1,5 graus Celsius (ºC), volume de chuvas abaixo de 1,8 mil milímetros (mm), duração da estação seca superior a cinco meses e desmatamento superior a 10% da cobertura original da floresta, somada à falta de restauração de, pelo menos, 5% do bioma.
Segundo o artigo, além do aumento das temperaturas, das secas extremas e do desmatamento, os incêndios e queimadas também são fator de estresse na Amazônia. O estudo considera esses fatores, que têm ocorrido ao mesmo tempo, para apontar o colapso de um dos mais importantes biomas do planeta cada vez mais iminente.
“Estamos nos aproximando de todos os limiares. No ritmo em que estamos, todos serão alcançados neste século. E a interação entre todos eles pode fazer com que aconteça (o colapso) antes do esperado”, disse Bernardo Flores, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), um dos coordenadores da pesquisa, à Agência Brasil.
“A gente encontra aí mais ou menos 50% de possibilidades. Significa [redução de] uma quantidade substancial de floresta, o que influencia na quantidade de água, na quantidade de carbono que a floresta é capaz de manter e reciclar água”, disse também a cientista Marina Hirota, professora do departamento de física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das coordenadoras do estudo.
”O clima da Amazônia é muito dirigido pelo que acontece na temperatura global do planeta, assim como em qualquer parte do mundo. A temperatura global aumentando vai ter impacto em cascata no clima regional da Amazônia. E as previsões, e o que a gente já vê acontecendo, são de redução gradual da quantidade de chuvas, aumento da duração e da intensidade das secas, aumento de eventos extremos de seca, de chuva, intercalados”, disse.
Impactos ambientais e sociais
As mudanças que resultariam da ultrapassagem do ponto de não retorno causariam impactos não apenas sobre as populações locais, mas também ambientais, sociais, culturais e econômicos.
A Amazônia atua na regulação do clima e da umidade no Brasil e na América do Sul, e num eventual colapso dessa floresta tropical haveria menos chuvas, afetando setores como a agricultura.
“Quando muda o ecossistema, muda toda a biodiversidade. As espécies são substituídas por outras. O tipo de solo muda, os rios se modificam, modifica tudo. […] A Amazônia contribui para o balanço energético da atmosfera. Haveria menor fluxo de umidade para outras partes do mundo, sem falar que a emissão de gases de efeito estufa estocados na floresta aceleraria”, explicou Flores, em entrevista ao Nexo.
No ano passado, a Amazônia enfrentou uma das maiores secas de sua história.
Medidas
O estudo cita, dentre as medidas que devem ser tomadas para afastar a ameaça de colapso parcial da floresta, o combate ao desmatamento. Outra medida é a restauração ecológica a partir de meios eficientes, o que depende de diferentes modelos de governança dentro do Brasil e de outros países amazônicos. Um terceiro ponto importante diz respeito a estratégias de mitigação das mudanças climáticas que dependem e uma governança mundial.
As propostas vão ao encontro do que cientistas e ambientalistas têm exaustivamente apontado como medidas para impedir o colapso não só da Amazônia, mas de outros biomas do planeta. Medidas, vale destacar, que seguem sendo ignoradas pelos governos capitalistas.
Essa situação reforça que a saída para a crise climática e destruição do planeta só pode ser dar com a superação do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista.