SC: Território Indígena Laklãnõ Xokleng pede socorro!
As mais de 500 famílias indígenas Xokleng, afetadas pelas chuvas em Santa Catarina, pedem socorro. Em nota lançada hoje, a Associação da Juventude Indígena Xokleng (Ajix) diz que desde o último dia 7, “após a ação truculenta do estado, que por meio da Policia Militar transformou a terra indígena em um cenário de guerra, atuando de forma violenta com sua cavalaria, Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e policiais com armas de bala de borracha, pistolas, spray de pimenta e gás lacrimogênio”, a violência segue. Agora, “se perpetuando a partir da negação de direitos básicos e essenciais à vida humana, como a negação de água potável”.
A nota da Ajix afirma que a comunidade está vivendo uma crise humanitária: “Não há água para beber, não há remédios básicos para atender pessoas que dependem de medicação controlada, ou mesmo anti-inflamatórios. Não há também médicos ou meios para acesso a atendimento médico em caso de urgência”.
O território indígena segue bastante afetado pelas fortes chuvas, a Ajix informa que desde ontem à noite, a Barragem Norte começou a verter para o canal extravasor, conhecido como vertedouro. “Embora o vertedouro seja comum em estruturas de barragens e sua função seja exatamente a de coletar a água que extrapola o canal principal, no caso da Barragem Norte esse canal extravasor nunca teve sua estrutura finalizada, bem como a obra da barragem em si nunca foi sequer inaugurada”, denuncia a comunidade.
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É a primeira vez na história que a água extrapola o canal principal da barragem. Daí o medo e insegurança que passa o Território Indígena, já que não se sabe se a estrutura da barragem tem condições de segurar o atual volume de água. Caso rompa essa que é maior barragem do estado, poderá ocorrer uma tragédia similar a de Brumadinho (MG), vitimando milhares de pessoas no Vale do Itajaí.
As casas da comunidade já estão alagadas. As que não foram inundadas, estão em áreas de risco devido à erosão do solo e deslizamentos. Isso tem forçado a comunidade a montar acampamentos em volta da barragem, como forma de fugir das aldeias que estão isoladas e pelo risco de erosão por conta das cheias. A comunidade indígena diz que nenhuma outra alternativa foi dada.
A violência do governo estadual
O governador Jorginho Mello (PL), que fez uso da violência policial contra os indígenas para fechar à força as comportas da Barragem Norte, segue com sua política de descaso com o Território Indígena Laklãnõ Xokleng.
A nota publicada hoje pela Ajix denuncia que a Defesa Civil de Santa Catarina tem divulgado “nota oficial tendenciosa e totalmente mentirosa” apontando a normalidade na condição atual da barragem, sendo que a própria Defesa Civil foi obrigada a divulgar um laudo após o fechamento arbitrário e violento das comportas onde apontou-se graves anormalidades na estrutura da barragem.
“A falta de posicionamento da Defesa Civil de Santa Catarina sobre a gravidade apontada pelo laudo da vistoria está colocando em risco a vida de todos nós, Povo Xokleng, bem como a de todas famílias não-indígenas que também serão afetadas em caso de rompimento dessa estrutura”, denuncia a nota da Ajix. Leia o documento na íntegra AQUI.
Ajuda solidária
O Povo Xokleng está realizando uma campanha solidária para a compra insumos, remédio e itens necessários para as famílias desabrigadas e afetadas pela cheia.
Também estão recebendo doações de alimentos, produtos de higiene pessoal, colchões, cobertas e quaisquer itens que possam auxiliar os afetados.
A contribuição pode ser realizada via PIX: 466994281/0001 ou juventudexokleng@gmail.com.
Não é uma tragédia “natural”
Mais uma vez, as cenas das enchentes, deslizamentos e desabrigados se repetem em Santa Catarina, a exemplo das catástrofes que vitimaram a população do estado em 2008 e 2011. Hoje, a situação é agravada pelas mudanças climáticas provocada pelo capitalismo, mas o descaso dos sucessivos governos permanece o mesmo. As causas dessa nova tragédia não recaem apenas nas chuvas, mas na falta de ação dos governos federal e estadual, que não garantem obras de prevenção, liberam a construção de residências nas encostas e margens dos rios, e não contam com uma política para garantir moradia digna e segura à classe trabalhadora e ao povo pobre.
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