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São Paulo: A “Frente democrática” de Boulos e a opção do PSOL por um governo de conciliação de classes

Deyvis Barros, do Ceará (CE)

21 de fevereiro de 2024
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À frente nas pesquisas para a Prefeitura da capital paulista, Guilherme Boulos (PSOL) busca reconstituir, em São Paulo, a experiência da Frente Ampla anti-bolsonarista que, em 2022, levou Lula à Presidência da República. 

Em um vídeo recente, gravado em seu programa “Café com Boulos”, o candidato afirmou que a situação do país iria exigir “colocar determinadas diferenças de lado e construir uma frente mais ampla possível em torno de valores democráticos e de combate às desigualdades sociais”.

É compreensível que os trabalhadores e trabalhadoras de São Paulo queiram derrotar Ricardo Nunes (MDB) e que uma parcela deles veja em Boulos a possibilidade de vitória contra o candidato apoiado por Bolsonaro. 

O primeiro mandato de Nunes foi tão apagado quanto danoso para os trabalhadores, os pobres e os setores oprimidos. Ele concluiu a Reforma da Previdência, iniciada por Haddad, piorando a aposentadoria dos servidores; aprovou leis que entregam, ainda mais, a cidade para a especulação imobiliária; privatizou equipamentos e serviços públicos; ajudou o governador Tarcísio na privatização da Sabesp (companhia de saneamento) e dificultou o acesso de mulheres ao aborto legal. Para completar, Nunes é aliado e fortalece o grupo político liderado por Bolsonaro. 

Mas as escolhas políticas feitas por Boulos e pelo PSOL revelam a opção de formar um governo com a burguesia para administrar a maior cidade do país a serviço dessa classe. Não serão os trabalhadores, os mais pobres e os setores historicamente marginalizado que serão beneficiados em um governo como esse.

“Frente Democrática” é frente com a burguesia

Na “frente mais ampla possível em torno de valores democráticos e de combate às desigualdades sociais” encabeçada por Boulos cabem, inclusive, aqueles que não têm tanto compromisso assim com os valores democráticos e com o combate às desigualdades sociais.

A escolha de Marta Suplicy para sua vice é emblemática. Para assumir o posto de vice na chapa com Boulos, Marta teve que se demitir do cargo que ocupava como Secretária de Relações Internacionais na prefeitura de Nunes. Quando foi prefeita de São Paulo, ela atacou os servidores públicos com uma Reforma Administrativa e criou taxas que prejudicaram os mais pobres. Como senadora, votou a favor do Teto dos Gastos e da Reforma Trabalhista de Temer.

A Frente de Boulos abarca uma série de partidos burgueses, como a Rede Sustentabilidade, o Partido Verde e o PDT. Durante o ato de filiação de Marta ao PT, Boulos fez uma brincadeira afirmando que “se bobear, o Lula trás até o Tarcísio pra essa Frente”. Não seria de se estranhar, já que os partidos do governador Tarcísio, o Republicanos, e inclusive do próprio prefeito Nunes, o MDB, são parte base do Governo Federal e possuem ministérios.

O próprio Boulos tem buscado se afastar da imagem de um “radical que ocupa imóveis” e se aproximar de empresários, adotando um programa cada vez mais aceitável para os capitalistas e buscando mostrar que pode ser um prefeito eficiente para administrar a cidade, sem ameaçar os interesses das grandes empresas. Isso implica, por exemplo, em se manter afastado de lutas e greves da classe trabalhadora. 

Para enfrentar os capitalistas 

Combate à ultradireita só com independência de classe

Vários trabalhadores e trabalhadoras defendem votar em Boulos para derrotar o bolsonarismo. Nós entendemos essa sensibilidade. Mas acontece que o tipo de governo que Boulos propõe não pode combater, até o fim, a ultradireita. 

Para começar, porque incorpora em seu leque de alianças figurões que foram base, direta ou indiretamente, do bolsonarismo até pouquíssimo tempo atrás. A própria Marta Suplicy, que se manteve em silêncio como secretária de Nunes, apesar da aproximação deste com Bolsonaro, é reflexo disso. 

O exemplo do governo Lula, em quem Boulos se espelha, também é emblemático. Lula governa junto com conhecidos bolsonaristas, como Arthur Lira e José Múcio, alimenta setores burgueses que são base estrutural do bolsonarismo e não leva até o fim o enfrentamento contra os militares golpistas.

O resultado é que, após todos os escândalos de corrupção e de uma tentativa golpista, Bolsonaro segue com sua base social e popularidade praticamente intactas. 

Não é possível levar até o fim o combate à ultradireita sem combater frontalmente os grandes capitalistas que a alimentam e que não hesitarão em fazer uso dela novamente para explorar e oprimir ainda mais os trabalhadores e o povo pobre. Boulos e Lula, com seus projetos de governar com a burguesia, não cumprirão esse papel.

Vergonha

Boulos lava as mãos diante do genocídio palestino

A decisão de se manter palatável para a burguesia está levando Boulos a cumprir um papel vergonhoso em relação ao genocídio praticado por Israel contra o povo palestino. Após meses de silêncio, em uma entrevista recente o psolista declarou que “não sou candidato a prefeito de Tel Aviv”, lavando as mãos diante do massacre de milhares de mulheres e crianças palestinas. 

O caminho não é a conciliação 

Construir uma alternativa socialista e independente

É preciso construir uma alternativa para São Paulo em oposição frontal a Ricardo Nunes e à direita bolsonarista. Mas que, tampouco, seja parte da Frente Ampla que, no Governo Federal, está junto com Arthur Lira, os banqueiros e os latifundiários que lucram com a miséria do povo pobre. Boulos e o PSOL infelizmente escolheram ser parte desse campo. 

É preciso enfrentar as privatizações, a retirada de direitos e os problemas como o desemprego e a pobreza que são causados pela ganância dos bilionários. Um governo para os trabalhadores paulistanos precisa enfrentar os super-ricos da Faria Lima (avenida símbolo do capital, em São Paulo) para garantir direitos sociais para os que mais precisam. Algo que nunca acontecerá governando junto com eles.