RS | El Niño vem aí: É urgente uma política de classe para prevenir um novo desastre
Direção Municipal do PSTU
O jornal gaúcho Zero Hora do último final de semana publicou uma reportagem com o título “O que o RS precisa fazer para se preparar antes do temporal”.
O questionamento é totalmente pertinente. Mas as conclusões e propostas apresentadas na matéria, totalmente insuficientes.
O inverno começou sob a perspectiva da volta do fenômeno El Niño. Ele inverte os efeitos causados pela La Niña, fenômeno que estava em predomínio desde 2020.
Apesar de serem fenômenos naturais, estão sendo muito mais intensos por conta das mudanças climáticas. Estamos lidando com as consequências do aquecimento global, que provoca eventos meteorológicos extremos, mais frequentes e mais fortes.
E a previsão é que o Sul do Brasil seja uma das regiões mais impactadas pelas mudanças da temperatura e circulação dos ventos causadas pelo El Niño.
Frente a isto, este tema precisa ser encarado com a importância que merece. E qual a grande medida do governo estadual? O governador Eduardo Leite (PSDB) afirma que reforçará o apoio às defesas civis municipais. E qual a medida do Prefeito Sebastião Melo (MDB)? Planeja agregar 30 servidores para a Defesa Civil da Capital. E, pasmem, o órgão tem apenas 15 funcionários atualmente!
É verdade que o investimento em pessoal e aquisição de estações e radares meteorológicos é muito importante. Mas isto não muda a condição de milhares de pessoas, que seguirão morando em áreas de risco.
Sabemos muito bem que, majoritariamente, quem vive em áreas de risco são os pobres, por total falta de opção. A vulnerabilidade e exposição das pessoas aumentam na mesma proporção em que crescem a desigualdade social.
Não há como ter qualquer política de prevenção sem a realização de um mapeamento detalhado das áreas de risco ou sujeitas a desastres, um plano de obras públicas urgentes para construção de moradias em locais seguros, saneamento básico universal, além de investir com seriedade numa forte equipe de Defesa Civil e obras de contenção de encostas, limpeza de rios e valões prevenindo enchentes.
Quanto mais tragédias ocorrem, porém, menos dinheiro se gasta nessas áreas, inclusive no Governo Federal. Em 2022 foram pagos, pela União, R$1,879 trilhão em juros e amortização da dívida pública aos banqueiros (46,3% do orçamento), em habitação foi investido 0,0001% e em saneamento 0,0072% (dados da Auditoria Cidadã da Dívida em https://auditoriacidada.org.br/). Um absurdo que vai piorar com a aprovação do arcabouço fiscal de Lula.
Por isso, é preciso inverter essa lógica de investimento, suspendendo o pagamento da dívida pública. Mas essa luta deve vir acompanhada de outra mais profunda, que passa pela mudança radical do sistema econômico que gera todo este desequilíbrio. O aquecimento foi provocado pelo capitalismo, que promoveu o uso generalizado dos combustíveis fósseis (petróleo, gás etc.) e a destruição dos ecossistemas. A expansão do agronegócio vem acompanhada do desmatamento e pela violência contra os indígenas.
Ao contrário do que os governantes falam, não são as “pessoas”, individualmente, responsáveis pela destruição do planeta. É o capitalismo, que nunca foi e nunca será sustentável ambientalmente.
Sem romper com o capitalismo e a construção de sociedade socialista, ambientalmente sustentável, tudo não passará de discursos hipócritas dos governantes que, quando muito, sobrevoam as áreas atingidas, fingem solidariedade com os atingidos e prometem mudanças. Tudo para que, no próximo ano, a tragédia se repita.