Nacional

PSOL unificado no apoio ao governo Lula-Alckmin

Júlio Anselmo

18 de dezembro de 2022
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Foto: Ricardo Stuckert

A resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PSOL sobre a relação com o governo Lula é aparentemente bastante confusa. Tanto que permitiu com que ambos setores, com posição também aparentemente antagônicas, afirmassem em público que a resolução dava a vitória para seu setor.

Em debate realizado no PSOL no dia 12 de dezembro haviam duas posições em debate. No dia 17 foi aprovado uma resolução praticamente unitária. Para entender a dubiedade da resolução do PSOL basta nos darmos conta de que em cinco dias, este partido foi de um debate com diferentes posições para uma resolução comum votada por todos.  Como isso foi possível? Vamos tentar responder esta questão.

No debate, a direção majoritária dizia nitidamente que defendia apoiar o governo Lula e entrar no governo inclusive aceitando cargos. Defendem que o governo supostamente é uma frente de várias classes sociais e que estaria em disputa, o que não é verdade e polemizamos em outro artigo [leia aqui]. Chegando até ao Luiz Araújo, ex-presidente do PSOL, dizendo que quem seria contra disputar o governo por dentro tinha que ir pro PSTU. Enquanto outros setores se posicionaram contra entrada no governo. Eram estes o MES, o campo Semente (Resistência e Insurgência), assim como a CST.

Uma resolução que serve a todos os setores só foi possível porque no geral todos os setores tem um acordo político e estratégico comum: apoiar o governo Lula. Tanto é assim que está definido compor a base aliada do governo no Congresso Nacional. Então, as diferenças que existiram são táticas no marco de todos concordarem com a política de apoiar um governo burguês.

Os setores contra entrada no governo falam que o problema é que isto acabaria com a independência ou autonomia do PSOL. O problema é que a questão não se trata do PSOL  supostamente ter “autonomia” ou não, porque não existe a mesma “autonomia” muito menos independência, sendo base do governo (tendo ou não ministros). Trata-se então de ser oposição ou situação. Ou seja, apoiar um governo burguês ou não. Não existe um posicionamento mediado entre isso.

Essa argumentação dá munição para o setor majoritário que afirma que entrar no governo não significa perda de independência ou autonomia e a prova disso seria justamente que não vão apoiar Arthur Lira (PP) para presidência da Câmara Federal, diferentemente do que vai fazer o PT. De fato, todo partido que compõe um governo pode votar coisa contra o governo em matérias especificas no Congresso. Isso ocorre com qualquer partido que opta por entrar no governo. Vimos até mesmo setores que compunham o governo votando a favor do impeachment do “seu governo”.

Ou seja, todos os setores dizem que apoiam o governo. Todos os setores dizem que defendem autonomia e independência do PSOL. Assim como todos os setores dizem que tem que fazer luta fora do governo, mobilizar os movimento sociais ,etc. A diferença é se faz isso com cargos ou sem cargos na administração federal.

Este problema dos cargos não é menor. Mas mesmo nisso a resolução autoriza os filiados e dirigentes do PSOL a aceitar os cargos com a condição de se licenciar. Ou seja, tentam criar uma barreira jurídico/formal onde um possível ministro ou quadro do PSOL que esteja no governo, não influa nos órgãos do partido.

Alguém acredita que isso preservaria o PSOL de não sofrer influência e pressão política dos seus membros licenciados que estariam em um cargo? Se Sônia Guajajara ou Boulos aceitarem serem ministros ou outros cargos, estando licenciados dos órgãos do PSOL, não influenciarão seus rumos? Óbvio que teriam outras pessoas ligadas a eles presentes na direção nacional e demais órgãos para “levar suas políticas”.

O MES afirma que foi uma vitória da minoria sobre a direção majoritária, pois foram obrigados a usar um jogo de palavras para aceitar cargos e não declarar isso abertamente. Mas inclusive os marcos em que se deu o debate já é uma vitória da ala majoritária sobre a minoria, dado que é tratado como fato consumado o apoio ao governo.

O setor que é contra entrar no governo sofre de uma contradição grande. Porque ao capitular no que é estratégico, ou seja, na definição do caráter de classe do governo e também no apoio político a ele, não conseguem sustentar sua tática de se manter fora do governo. Ao manter o debate no terreno da tática pela tática dão razão à ala majoritária do PSOL.

O que justifica a não entrada no governo Lula não é tático. É um problema estratégico e de princípios e está ligado ao caráter de classe do novo governo. O problema de apoiar o governo mesmo sem entrar, supostamente disputar por dentro, e coisas desse tipo, é uma política que ultrapassa a barreira de classe. Pois o governo Lula-Alckmin-Biden-Boulos não é da classe trabalhadora.