Nacional

Por que votar em Edmilson é um erro político: Um diálogo sincero com o ativismo e militantes de esquerda

PSTU-PA

1 de julho de 2024
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Otávio Luiz Pinheiro Aranha, de Belém-PA 

“Olhar a realidade de frente; não procurar a linha de menor resistência; chamar as coisas pelo seu nome; dizer a verdade às massas, por mais amarga que seja; não temer obstáculos […]”

(Leon Trotsky, Programa de Transição)

Na última pesquisa eleitoral para a prefeitura de Belém, divulgada no dia 4 de junho pelo Instituto Doxa, o deputado federal de ultradireita, delegado Eder Mauro (PL), pontua 20% das intenções de voto. Em segundo lugar, empatados tecnicamente, encontram-se o atual prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), com 14,8% e o candidato apoiado pelo governador do estado, Igor Normando (MDB), com 14,4%.

Na pesquisa espontânea, quando os nomes dos pré-candidatos não são apresentados, o bolsonarista Éder Mauro aparece apenas com 8,7%, num empate técnico com Edmilson, que aparece com 7,8% e Igor Normando, com 7,3%. Nesta modalidade de pesquisa, que se aproxima muito mais da situação da urna eletrônica, o número de indecisos apresenta um elevado índice de 58,4%.

Assim, os números da pesquisa não apresentam um resultado em definitivo, mas possibilidades de cenários para um segundo turno que está em aberto. Contudo, é preciso considerar um outro dado igualmente relevante: o índice de rejeição. Dos entrevistados, 55,2% afirmam não votar em Edmilson Rodrigues de jeito algum. O prefeito do PSOL possui um índice de desaprovação de seu governo na ordem de 78,4%. Atualmente, este é um dos maiores índices de rejeição de um prefeito numa capital brasileira, o que revela, agora sim com mais certeza, que é pouco provável que Edmilson Rodrigues chegue ao segundo turno e, pior, caso chegasse, não teria muitas chances contra seu adversário, seja ele quem for.

Sabemos que a campanha eleitoral ainda não começou oficialmente e que muita água ainda vai rolar. Mas se a preocupação da militância de esquerda for realmente pragmática e sob a lógica do “menos pior”, como pregam algumas correntes internas do PSOL, tais como a “Resistência”, então deveriam abrir mão da candidatura de Edmilson o quanto antes e apoiar de cara o candidato de Helder Barbalho (MDB) para Belém, que vai jogar todo o seu aparato e máquina administrativa para vencer este pleito. Nós, do PSTU, não vamos fazer isso porque não acreditamos na lógica do “mal menor”!

A ultradireita avança nas pesquisas como resultado da péssima administração de Edmilson

A ultradireita é um fenômeno mundial que se desenvolveu em decorrência da putrefação do modo capitalista de produção e do fracasso de governos social democratas, de conciliação de classes e de frentes populares que, ao chegarem ao poder, implementam com afinco as políticas neoliberais, o que na prática significa redução de direitos sociais e trabalhistas, cortes orçamentários em serviços públicos e estatais, redução de empregos formais, etc., na mesma proporção em que novos patamares de exploração e opressão foram desenvolvidos, tornando a vida da classe trabalhadora mais difícil.

Isto se deve por uma opção de governos desse tipo: eles objetivam administrar os interesses das elites capitalistas, em vez de se enfrentar com elas. Em razão disso, respeitam a institucionalidade burguesa, em vez de questioná-la; desmobilizam a organização independente dos trabalhadores, em vez de incentivá-la; apontam para um caminho de reformas por dentro do sistema, criando falsas ilusões, em vez de apontar para uma verdadeira revolução social. Em geral, o resultado disso é uma grande decepção dos trabalhadores. Esta frustração, o que inclui grandes camadas populares e da pequena burguesia, é o que tem alimentado a força de partidos de ultradireita.

Neste sentido, a prefeitura do PSOL em Belém não foi muito diferente. A gestão de Edmilson Rodrigues possui um dos maiores índices nacionais de desaprovação pela população justamente porque, dentre outros, não fez nada que pudesse diferenciá-la das gestões passadas da direita tradicional (PSDB e PTB), muito pelo contrário! Continuamos a ser uma das capitais com o menor índice de cobertura de esgotamento sanitário e saneamento básico; o transporte urbano coletivo, mesmo agora nas vésperas da COP 30, continua péssimo e de má qualidade (um vídeo recente que viralizou nas redes sociais com um cadeirante que tenta subir num ônibus “adaptado”, mas não consegue, é só uma das provas disso); a coleta de lixo, uma questão básica, mesmo agora em ano eleitoral, continua a ser uma dor de cabeça para os belenenses, isto sem contar o Lixão do Aurá que foi reativado, o que demonstra a total falta de compromisso desta prefeitura com a pauta ambiental; o salário dos servidores municipais, que foram levados à greve por defenderem a equiparação ao salário mínimo, promessa de campanha do prefeito, foram duramente atacados por Edmilson; a situação precária de postos de saúde e prontos-socorros, sem medicamentos e funcionários, pois seguem sob a ótica da administração privada das Organizações Sociais (OS), sem contar o atraso recorrente no pagamento de salários de médicos e enfermeiros e a falta de concurso púbico no setor; mesmo na educação, principal propaganda da gestão do PSOL, não conseguiu zerar a taxa de analfabetismo (censo de 2022), ficando atrás de Ananindeua, por exemplo. A lista dos problemas é maior, mas ficamos por aqui

A síntese da gestão de Edmilson Rodrigues é que sua prefeitura causou uma grande frustração na população belenense e este é um dos principais motivos, não só do crescimento de Éder Mauro nas pesquisas eleitorais, como também, da candidatura de Igor Normando, um dos filhotes dos Barbalhos. Portanto, Edmilson não só foi incapaz de combater o crescimento da ultradireita em Belém, como ajudou a fermentá-la.

A necessidade estratégica de construir uma alternativa para a cidade

No primeiro turno destas eleições, há nove pré-candidatos em disputa, todos homens, brancos, héteros e que não se enfrentarão com as elites burguesas da cidade. O pré-candidato do PSOL, infelizmente, é só mais um deles. Nós achamos que é necessário combater a ultradireita conservadora e bolsonarista, mas também que é fundamental denunciar a candidatura que será apoiada pelos Barbalhos, uma família da elite paraense corrupta e comprometida com o latifúndio e o agronegócio até a medula. As outras pré-candidaturas são frações da classe dos grandes empresários da cidade e mesmo Edmilson Rodrigues, que provavelmente fará uma campanha de balanço positivo de sua gestão, não conseguirá apresentar um programa político verdadeiramente voltado para os interesses das trabalhadoras e dos trabalhadores.

O PSTU está apresentando a pré-candidatura de Wellingta Macedo (ou simplesmente Well), uma jovem ativista preta e periférica, mãe solo de dois filhos, jornalista, educadora social e atriz. Well representa não somente a cara da classe trabalhadora excluída e oprimida da capital amazônica, como apresentará um programa político voltado à defesa dos interesses desta classe social. Neste sentido, fazemos um chamado a todas e todos os ativistas e militantes de esquerda desta cidade a não perder tempo e agir no que acreditamos ser a tarefa mais importante deste processo eleitoral: construir uma verdadeira alternativa operária, negra, periférica e socialista.

É somente com a construção desta alternativa, revolucionária e socialista, que poderemos verdadeiramente derrotar a ultradireita, assim como a família Barbalho e as frações burguesas em suas múltiplas variantes. Nesta urgente tarefa, não há atalhos!