Nacional

Paz nos estádios, guerra aos senhores!

PSTU-SP

23 de outubro de 2023
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O torcedor Rafael Garcia, assassinado pela Polícia no dia 24 de setembro

João, do PSTU-Oeste

No último dia 24 de setembro, ocorreu o jogo da final da Copa do Brasil, e o que era para ser um dia de festa para os torcedores do São Paulo F. C. e todos os amantes do futebol foi transformado pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, que resolveu manchar a comemoração com sangue, em um dia de luto.

De forma truculenta, a PM assassinou Rafael dos Santos Tercilio Garcia, de 32 anos, torcedor do São Paulo e membro da principal e maior organizada, a Torcida Independente. Rafael fazia parte do setorial de surdos da torcida e foi assassinado covardemente enquanto comemorava o título inédito da Copa do Brasil ao redor do estádio do Morumbi.

O tiro que assassinou Rafael veio das mãos da PM. Foram necessárias mais de duas semanas para a Polícia assumir a autoria do crime. Segundo ela, era preciso investigar o que causou a morte do rapaz e se o tiro teria vindo da Polícia – como se fosse comum que outras pessoas que não os policiais andando nas ruas com uma calibre 12 e balas bean bags.

Bean bags: não-letal apenas no manual

Em uma pesquisa rápida na internet pode-se encontrar diversos casos de mortes relacionadas ao uso dessa munição, que consiste em pequenas esferas de chumbo que ficam dentro de sacos de tecido sintético. Rafael foi atingido à queima roupa na região da cabeça. O boné que ele utilizava ficou destruído.

Apesar do fabricante recomendar que não se atire na região da cabeça, genitálias ou nos seios, a polícia assassina faz questão de não cumprir a recomendação. Nos vídeos divulgados pelas redes sociais vemos policiais correndo para se aproximar da aglomeração e atirar a queima roupa. Um desses tiros foi o que assassinou Rafael, alvejado na nuca apenas por comemorar o título de seu time.

PM paulista: mata preto, mata pobre e mata trabalhador

As estrelas do brasão da PM remetem às chacinas, ou, como podemos encontrar em seu site, “marcos históricos da instituição”, que é o modo como chamam as repressões contra o povo brasileiro.Ou seja, a PM se orgulha de ter assassinado seu próprio povo, como ocorreu repressão da Revolta da Chibata, Canudos e a Greve Geral de 1917 em São Paulo.

Mas as chacinas da PM não ficaram no passado, a poucos quilômetros do Morumbi, a PM há 4 anos cometeu uma chacina no baile funk da DZ7, em Paraisópolis. A comunidade, inclusive, surgiu durante a construção do estádio do Morumbi, com a chegada de trabalhadores que vinham para a região para trabalhar na obra. Até hoje em Paraisópolis há uma quantidade enorme de São Paulinos. Da mesma forma que na final da Copa do Brasil, a presença da PM serviu para banhar de sangue um momento de alegria e diversão dos jovens que aproveitavam o baile.

PM e seu ódio a todo tipo de manifestação cultural e organizada do Povo

A PM em sua história está intimamente atrelada à repressão da população preta e toda forma de organização e expressão cultural que ela possa criar. O pesquisador Almir Fellite, em entrevista à Ponte Jornalismo, afirmou: “As polícias se desenvolvem justamente a partir do momento em que a abolição começa a tomar forma. A polícia tem uma história muito mais vinculada ao controle de negros livres do que ao controle de negros escravizados. Não é coincidência que onde a Polícia Militar está presente ocorram mortes: é sua missão assassinar pobre, preto e trabalhador para garantir a ordem da burguesia.

Ou seja, tanto os jovens em Paraisópolis quanto os torcedores de futebol são reprimidos por serem do povo pobre ou preto das periferias. Qualquer pessoa que frequenta estádios no Brasil nota a diferença que existe na composição racial e social dos setores das organizadas para o restante do estádio. A PM tem um histórico de violência contra torcedores que se organizam para ir aos estádios, que são tratados como criminosos, da mesma forma que os jovens nos bailes funk são criminalizados apenas por estarem no baile.

Tarcísio tem sangue nas mãos

A morte de Rafael não pode ser desvinculada do principal comandante da polícia, o Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para a polícia reprimir uma aglomeração, é necessário autorização do Governador. E Tarcísio, como bom bolsonarista, é inimigo do povo preto e moradores da periferia e de todas as suas formas de manifestações.

Não é à toa que após a morte de Rafael o porta-voz da PM afirmou que a instituição não irá rever o uso da munição que assassinou Rafael, tampouco afastar os policiais envolvidos. Tarcísio disse apenas que poderá revisar os protocolos da PM. O mesmo Tarcísio que é contra o uso de câmeras no uniforme dos policiais. Não adianta revisar o protocolo, pois o mesmo já diz que não se pode atirar à queima roupa, nem na região da cabeça, e isso não impede a polícia de fazer o contrário e sair completamente impune! Para nossa segurança, o que precisamos é a desmilitarização da PM, e mais: que tenha fim a instituição da forma como é hoje!

Paz nos estádios, guerra aos senhores

Por isso que acreditamos ser necessário a paz nos estádios e canalizarmos nosso ódio contra a classe dominante que tenta nos jogar um contra o outro, e quando não consegue, lança seus cães de guarda contra nós.

Somente unidos e organizados conseguiremos implementar essas medidas. Com uma luta consequente, disciplinada e com independência de classe é que poderemos vencer a dominação burguesa. As chacinas e a atuação da polícia em geral provam que, seja ela comandada por partidos de “esquerda” (como o PT na Bahia) ou de direita (Republicanos em São Paulo), o genocídio preto e indígena, que também oprime todos os trabalhadores pobres, continuará enquanto o Estado for comandado pela burguesia e os diferentes partidos representarem os seus interesses.