Internacional

Palestina, causa internacional dos oprimidos e explorados 

Soraya Misleh

25 de julho de 2024
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Mais de 300 judeus antissionistas e aliados foram presos no Capitólio dos Estados Unidos, em protesto contra Israel

A Palestina não é apenas uma causa dos palestinos, mas uma causa de todo revolucionário, onde quer que esteja, como uma causa das massas exploradas e oprimidas na nossa era.” A frase do revolucionário palestino marxista Ghasan Kanafani (1936-1972) sintetiza a afirmação: ninguém será livre até que a Palestina seja livre. Do rio ao mar.

Não é retórica. Não fosse suficiente expressar solidariedade internacional com o povo palestino, que se enfrenta agora com a busca de solução final por parte de Israel – uma nova fase da Nakba, a catástrofe palestina cuja pedra fundamental é a formação desse estado sionista em 1948 –, o genocídio em curso há quase 300 dias em Gaza ameaça o futuro da humanidade. Literalmente.

Doenças e risco mundial

Conforme divulgado pela agência de notícias da ONU, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identificou em amostras de águas residuais na estreita faixa o vírus tipo 2 da poliomielite e alertou, em 23 de julho, que, devido à terrível situação sanitária em Gaza, este pode se espalhar não só localmente, mas para além de suas fronteiras. “Também pode alastrar-se internacionalmente”, informou em conversa por vídeo com jornalistas o chefe da equipe de emergências sanitárias da OMS em Gaza e na Cisjordânia, Ayadil Saparbekov.

Diante da destruição de toda a infraestrutura de saneamento e saúde na estreita faixa, por dez meses de bombardeios incessantes israelenses, ele destacou estar “extremamente preocupado” com a possibilidade de um surto de doenças transmissíveis por vírus, não só da pólio e não só em Gaza. Vale lembrar que no ano passado já havia sido confirmada ali a propagação de hepatite A. 

Vírus não respeita fronteiras. E nessas condições de tamanha degradação ambiental e sanitária em função da tentativa de extermínio do povo palestino por parte de Israel, não é ilógico pensar que o genocídio ameaça toda a humanidade, que pode vivenciar uma nova pandemia mundial.   

Condições sanitárias e contaminação

Em meio ao genocídio, conforme a OMS, a maioria do povo palestino que vive em abrigos conta com apenas um banheiro para 600 pessoas e 1,52 litro de água por dia. Cada metro está coberto por 107kg de entulhos. São 39 milhões de toneladas de detritos, conforme a ONU. 

Para além dos assassinados pelas bombas e balas sionistas, bem como da fome e sede, o espraiamento de doenças e infecções em função da falta de condições sanitárias e a contaminação da terra, mar e ar levam à estimativa da publicação científica The Lancet, apresentada em 5 de julho: pelo menos 186 mil palestinos morreram, direta ou indiretamente, nesse genocídio. Isso representa 8% da população total de Gaza. Mesmo que o cessar fogo ocorresse hoje, muitos ainda poderão perecer como consequência da carnificina nos próximos meses ou mesmo anos. 

Aquecimento 

Piora situação climática mundial

Num quadro de emergência climática no mundo, o genocídio em Gaza adiciona mais um componente. Segundo reportagens, Israel detonou até o início de junho, conforme notícias, cerca de 80 mil toneladas de bombas sobre as cabeças de crianças, mulheres, homens, jovens e idosos palestinos. Entre estas, estão armas incendiárias como o fósforo branco e químicas como as denominadas bombas esponja, que promovem uma explosão de espuma que se propaga rapidamente.

Um estudo britânico-estadunidense revela que apenas nos dois primeiros meses do genocídio em curso – iniciado no começo de outubro de 2023 – as emissões de gás carbônico superaram as de 20 países mais vulneráveis ao clima em um ano. Seria o equivalente à queima de pelo menos 150 mil toneladas de carvão.

Nakba ambiental

Os pesquisadores que realizaram o estudo falam em dados parciais e subestimados. Multiplique-se essas consequências por cinco – já que agora são quase 300 dias de genocídio – e se terá noção da dimensão da catástrofe também ambiental, conforme a ONU, sem precedentes. Mas não começou agora: a Nakba também é ambiental, com a destruição por 76 anos de fontes de água, matas, rios, nascentes, milhares de árvores, da terra agricultável e de toda possibilidade de subsistência para milhões de palestinos.

Outra preocupação é que muitas terras agrícolas e infraestruturas energéticas e hídricas foram destruídas ou poluídas, com implicações devastadoras para a saúde e o meio ambiente que seguirão por gerações.

Em função do criminoso bloqueio imposto por Israel há 17 anos, Gaza se notabilizou como a área com maior densidade de painéis solares para tentar suprir a restrição dramática no fornecimento de energia por parte do estado sionista, que controla tudo. Estes painéis solares contêm metais pesados como chumbo e cádmio, e seu derretimento em função dos bombardeios genocidas também contamina o solo e a água.

Como afirmou Eoghan Darbyshire, da ONG Observatório de Conflitos e Ambiente, à Reuters, “os impactos ambientais não serão sentidos apenas localmente, onde ocorrem os combates, mas poderão ser deslocados ou mesmo sentidos à escala global através das emissões de gases com efeito de estufa”. De novo, o genocídio em Gaza é ameaça à humanidade.

Exportação da carnificina

Israel envia sua tecnologia de morte ao Brasil

E Israel segue a converter o povo palestino em cobaias humanas para testar suas tecnologias militares para depois exportar ao mundo. Setenta por cento destinam-se à exportação. O Brasil, nos últimos 15 anos, portanto ainda durante os primeiros governos de Lula e depois de Dilma, se tornou um dos maiores importadores dessas tecnologias. Lamentavelmente essa cumplicidade, que ganhou aliado explícito com Bolsonaro e avançou durante seu governo, segue. 

Governos e militares

Governos estaduais seguem a adquirir armas e equipamentos israelenses que são entregues às polícias para o genocídio pobre e negro e o extermínio indígena. Santa Catarina acaba de comprar 145 fuzis israelenses de alta performance para entrega a sua Polícia Civil. 

Em março deste ano, a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciou um contrato de R$ 86 milhões com a Israel Aerospace Industries (IAI) para manutenção e suprimento de peças a dois drones israelenses comprados durante o segundo governo Lula, em 2009.

Mais recentemente o Brasil recebeu uma carga de mísseis Spike LR2 de Israel para o Exército. Os mísseis foram comprados durante o governo Bolsonaro, ainda em 2021, e entregues agora, um ano e meio depois. Também em meio ao genocídio, o mesmo Exército anunciou a aquisição, via licitação, de 36 blindados obuseiros da empresa militar sionista Elbit Systems por R$ 1 bilhão de reais – recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A assinatura do contrato com a Elbit foi suspensa por dois meses em maio último em função da mobilização em solidariedade ao povo palestino. 

Lula, rompa relações com Israel

A pressão por embargo militar a Israel pelo Brasil é parte fundamental das campanhas do movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções). Um passo rumo à exigência de que Lula rompa imediatamente relações econômicas, militares e diplomáticas com Israel.

São os tanques e tecnologias que estão matando os palestinos, em Gaza e também na Cisjordânia, onde já foram assassinados por Israel, somente nos últimos dez meses, cerca de 600 palestinos. E matam nas periferias brasileiras, cujo sangue derramado se converte em lucro para sustentação do genocídio sionista. E nesta busca por extermínio, Israel ainda utiliza como combustível petróleo brasileiro – o principal item da pauta de exportação brasileira para o estado sionista. Essa cumplicidade é um ataque a todos os oprimidos e explorados no país e precisa acabar. Ninguém será livre enquanto os palestinos não forem livres.

Bárbaros são os imperialistas 

Muda alguma coisa sem Biden?

Agora que Biden finalmente saiu da disputa eleitoral com o candidato republicano da extrema direita Donald Trump, será que mudará a política do imperialismo para a Palestina ocupada? Isso representa alguma esperança para o povo palestino, com a provável candidata democrata Kamala Harris, e não mais o Genocide Joe (Joe genocida, como os ativistas pró-palestina apelidaram Biden)?

A resposta é não. Israel é um enclave militar do imperialismo. Kamala afirmou em 2017 o apoio dos EUA ao estado sionista como “sólido como uma rocha”. Defendeu o aumento da ajuda militar para US$ 38 bilhões na década – o que foi aprovado ao final do governo Obama, que tinha como vice Joe Biden (Genocide Joe). Um dos grandes financiadores de sua campanha é o Comitê Americano de Assuntos Públicos de Israel (Aipac, na sigla em inglês).

Enquanto fechamos esta edição, o genocida Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, está nos Estados Unidos. No Congresso dos EUA voltou a classificar a carnificina que comanda em Gaza como guerra entre “civilização e barbárie” – parte do discurso que demoniza e desumaniza o povo palestino para alimentar e justificar a continuidade do extermínio.

“Não em nosso nome”

Judeus antissionistas protestam contra Netanyahu

Os protestos contra sua presença contaram com centenas de judeus antissionistas a partir da mobilização feita pela organização Jewish Voice for Peace (Vozes Judaicas pela Paz) em prédio do Congresso dos EUA, com camisetas vermelhas nas quais havia a frase escrita: “Não em nosso nome”.  Centenas foram presos pela repressão.

Mas os protestos em repúdio ao encontro de genocidas no coração do imperialismo não param. Manifestantes arrancaram e queimaram três bandeiras dos EUA na Union Station em Washington, principal estação de trem e metrô da cidade. Em seu lugar colocaram bandeiras palestinas. A esperança está nas mãos também desses ativistas, entre os quais milhares de judeus antissionistas que crescem mundo afora, inclusive no Brasil.

Não virá de um novo presidente dos EUA a saída para o povo palestino, mas da resistência palestina heroica e histórica, que segue viva. Dos oprimidos e explorados em todo o mundo em solidariedade internacional ativa e efetiva. Para além das palavras, na compreensão de que esta é sua luta. Até a Palestina livre do rio ao mar.