Cultura

Obrigado por tudo! Seguimos na guerra, Dum Dum (1969-2023)

Tácito Chimato

12 de maio de 2023
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O rap nacional perdeu uma de suas vozes mais importantes hoje. Faleceu na manhã dessa terça-feira (12/05), o rapper Dum Dum, do grupo Facção Central, aos 54 anos. Ele estava internado desde o último dia 6 de abril, após sofrer um acidente vascular cerebral e ficar em estado de saúde grave. Após realizar uma cirurgia, o rapper entrou em coma induzido, mas não resistiu.

Ao lado de seu companheiro Eduardo Taddeo, Dum Dum formou o Facção Central, no longínquo ano de 1989, no bairro do Glicério. A realidade dos cortiços da região, cercada de criminalidade e opressão indiscriminada do Estado, serviram de combustível para as composições do grupo, que sempre se diferenciou por ter um discurso muito mais agressivo que outros colegas do mesmo período.

Essa postura de permanente denúncia sobre o genocídio nas quebradas brasileiras foi megafonada no estouro da primeira geração do Rap nacional, quando o Facção tornou-se um dos principais expoentes do gênero no país. Isso não veio sem consequências. Dum Dum, Eduardo e outros integrantes sofreram brutalmente com a censura do Estado e da mídia burguesa.

Em 1999, com o lançamento do álbum “Versos Sangrentos”, o clipe “Isso aqui é uma guerra” foi censurado pelo Ministério Público sob acusações de apologia ao crime. O processo gerou inúmeras manchetes sensacionalistas veiculadas amplamente em inúmeros noticiários da época. Ameaças de morte pelo telefone, censura nas rádios e prisões arbitrárias durante turnês tornaram-se parte da rotina do grupo, que edificava seu nome na história em uma clara mensagem de enfrentamento contra o Estado burguês.

O grupo ainda lançaria três discos e um ao vivo na formação clássica, mas em 2013, Eduardo se separa. Dum Dum seguiu levando o Facção até o fim, se tornando o único integrante original ao longo dos anos, que continuou lançando novidades até 2020.

Gostaríamos de prestar essa homenagem pois entendemos a inegável importância do Facção no enfrentamento cotidiano da população pobre e preta para existir, se tornando referência para gerações de lutadores que foram impactados pela obra de Dum Dum diante da brutalidade da realidade capitalista com nossa classe.

Nossas condolências ao amigos, familiares, integrantes e ex-integrantes do grupo. Diretamente do campo de extermínio, seguimos na luta!