O pseudorradicalismo do PT catarinense e a real alternativa para os trabalhadores
Durante duas décadas, a imprensa e a “esquerda” catarinense defenderam uma análise (quase) unânime: o PT daqui era mais à esquerda, mais “radical”, do que o PT nacional! Desde o final da década de 1980, e ainda com mais força a partir do surgimento da Articulação de Esquerda (em 1993), o PT catarinense sempre foi dominado por figuras ligadas ao MST e à Via Campesina (isso se deu por dentro de correntes como a AE e sua irmã, a Consulta Popular). Isso teria conferido um perfil mais à esquerda a todo o PT estadual. Tal análise permaneceu viva até bem pouco tempo atrás. Mas, seria isso verdade? É fato que o PT catarinense, neste período, esteve à esquerda do PT nacional?
Objetivamente, não se trata de dizer que o PT catarinense tenha tido algum caráter socialista (no sentido científico da palavra), ou revolucionário, ou marxista, ou algo parecido, não! Trata-se apenas de comparar o PT nacional com o PT catarinense, e verificar se, de fato, este era mais à esquerda que aquele. Um mero exercício de uma comparação apenas.
Talvez exista um argumento respeitável que corrobore esta análise, o de que, por muitos anos, existiu em Santa Catarina uma organização de unidade na ação classista que não existiu em nenhum outro estado da federação, o MUCAP (Movimento Unificado Contra as Privatizações). Este movimento teve participação ativa em ocupações de terras e de prédios públicos, manifestações em ruas e praças, greves de categorias, etc. Sempre liderado pelo mesmo grupo que controlava o diretório estadual do PT: a AE/Consulta Popular. Então, talvez este tenha sido sim um diferencial a ser considerado, mas… Basta isso para se concordar com a tal análise?
Analisemos outros dados: em relação aos mandatos legislativos (especialmente o Senado) e os mandatos executivos em grandes cidades catarinenses (Joinville, Blumenau, Itajaí, Chapecó, Criciúma e Florianópolis) não se pode auferir nenhum diferencial “mais à esquerda” em relação aos mesmos cargos do PT nacional! Todos iguais! Os prefeitos petistas em Santa Catarina começaram aplicando uma medida extremamente limitada que foi “democratizar” 9% ou 10% do orçamento municipal (o chamado “Orçamento Participativo”) e, anos depois, já tinham eliminado até mesmo essa reforma miserável que envergonharia até mesmo um reformista sério! Exatamente como fizeram os prefeitos petistas de outras capitais e metrópoles brasileiras.
Se analisarmos a política de alianças eleitorais, veremos então o exato oposto do que diz esse senso comum: o PT catarinense sempre esteve bem à direita do PT nacional! Basta lembrar que a primeira vez que o PT se coligou com um partido objetivamente burguês em todo o território nacional foi exatamente em 1988 em Lages, apoiando o tucano Francisco Küster para prefeito. Esta aliança municipal contou com o empenho das mesmas lideranças estaduais catarinenses que, anos mais tarde, comporiam a tal “esquerda radical do PT (AE e Consulta)”.
Nas eleições de 1990, o PT catarinense, exceção no Brasil todo, apoiou e aliou-se a Nelson Wedekin (PDT) para governador. Mais do que aliar-se, o PT catarinense dizia publicamente nos palanques dos comícios que aquela era uma “aliança estratégica”, para todo o sempre, e não apenas uma tática eleitoral momentânea. Notem que no Brasil todo o PT lançou-se com “chapa pura”, mas em Santa Catarina a tal “esquerda radical” aliou-se, de novo, a um partido objetivamente burguês!
E isso seguiu acontecendo por toda a década de 1990, 2000 e 2010: o PT-SC, liderado pela sua ala radical, assim como o PT nacional, foi se tornando aos poucos um partido completamente a serviço da burguesia e do imperialismo sem nenhum diferencial!
Agora, em 2022, com a ala tida como mais à esquerda (AE e Consulta) completamente diluída e derrotada, e sob a coordenação da ala historicamente mais flexível, o PT-SC se apresenta de novo com uma das chapas mais à direita neste quadro nacional, uma chapa inimaginável há pouco mais de 6 meses! Dois fatos comprovam isso:
O candidato a governador Décio Lima não bate nem mesmo na burguesia catarinense mais reacionária! Lula chega a, eventualmente, falar mal de alguns setores bolsonaristas do agronegócio, Décio nem mesmo isso! Pelo contrário, defendeu o agronégocio! Recentemente, Décio disse não crer que os empresários catarinenses tenham alguma simpatia pelas atitudes de extrema-direita! É sério isso, Décio? Nem mesmo o brusquense Luciano Hang, o “Véio da Havan”, nem ele é de extrema direita?
Santa Catarina é um dos estados mais bolsonaristas do Brasil e isso não vem de graça! É fruto dos prefeitos, deputados e a senadora eleitos do PT, que fizeram uma política de conciliação e de enfraquecimento do movimento operário. Além de uma ideologia eurocêntrica reacionária aqui implantada (a partir de características econômica peculiares) pela burguesia, ainda no início e meados do século passado, e impulsionada a cada instante até hoje! E que, portanto, também deve ser combatida igualmente a cada instante. Mas Décio Lima faz o oposto ao negar o caráter reacionário da burguesia local! A mesma burguesia que até hoje luta para esconder o genocídio racista branquelo que foi a guerra do Contestado, essa mesma burguesia conta com a crença de Décio de que ela não é reacionária!
O candidato ao Senado na chapa petista é Dario Berger (PSB), um político nascido nas hostes do PFL e da direita! O PT historicamente combateu ferrenhamente os mandatos executivos e parlamentares do bolsonarista Dario, mas agora, seguindo o exemplo de Alckmin, faz dele um “burguês bonzinho”, um “aliado dos trabalhadores”! Nada mais nojento!
E o PSOL-SC, que em tese lançou uma “candidatura alternativa” para o Senado (o vereador Afrânio Boppré), acaba, na prática, ajudando Dario! O PSOL-SC apoia e faz campanha pra Lula, o mesmo Lula que pede voto pra Dario: ou seja, no frigir dos ovos, a campanha do PSOL acaba sendo “vote em Dario de uma vez!
Portanto, a tal análise de que o PT-SC era “radical” se comparado ao PT-BR não se sustenta perante os fatos! Estão todos defendendo o capitalismo! Mas colocar a questão de ser radical ou não, importa para a realidade? Para Marx ser radical é se agarrar à raiz, ou seja, é necessário ter um programa de mudança dessa realidade. E não existe forma de mudar sem enfrentar o capitalismo e os ricos. O PT, PSOL, PDT de Santa Catarina e todos esses que se dizem à esquerda se aliam com aqueles que financiam e vivem da exploração da classe trabalhadora.
Avançar na consciência radical dos trabalhadores é apoiar uma política de independência de classe, trabalhadores junto com os trabalhadores, mas é nítido que o PT de Santa Catarina foi uns dos primeiros a rasgar o princípio da independência classista. E, mais que isso, hoje faz uma frente que deixa muitos partidos de centrão com inveja dessa unidade. Para nós, essa unidade é vergonhosa e muito menos serve para a classe trabalhadora. Fica difícil imaginar como movimentos e partidos que se dizem comunistas vão de reboque a esse apoio que nada mais faz do que confundir a nossa classe.
Aos trabalhadores catarinenses, assim como aos brasileiros, afirmamos que existe alternativa que são as candidaturas socialistas e revolucionárias do PSTU e do Polo Socialista Revolucionário, com independência de classe, sem esse vale-tudo eleitoral, e um programa para solucionar a nossa vida!
Uma chapa de trabalhadores, jovens e setores oprimidos
Nestas eleições, apresentamos as candidaturas de Vera (16), mulher, negra, operária e socialista para a Presidência, e de Raquel Tremembé, mulher, líder indígena e socialista como candidata à Vice-Presidência. E do Professor Alex Alano (16) para o Governo de Santa Catarina, e da também professora Gabriela Santteti de Vice. Além da candidatura de Gilmar Salgado, ativista socialista histórico para o Senado Federal. Uma chapa sem coligações espúrias e bem distante do vale-tudo eleitoral.
A Coletiva Rebeldia para Deputado Federal 1600 vem para denunciar o sistema capitalista, que não oferece nenhuma perspectiva de futuro para a juventude. E a Coletiva Educação – Professores Socialistas para Deputado Estadual 16016 pela independência de classe e em defesa da educação! A Revolução Socialista é a única maneira de salvar a humanidade de sua destruição!