Meio ambiente

O Pantanal queima, e o Brasil também

Jeferson Choma

25 de julho de 2024
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Agência Brasil

Incêndios criminosos colocam em risco um dos principais biomas do país, o Pantanal. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pantanal registrou alta de 898% nas queimadas nos primeiros cinco meses de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado. No acumulado dos últimos 12 meses, até o dia 20 de junho, o bioma somou 9.014 ocorrências de focos de fogo, quase sete vezes mais que os 1.298 registrados pelo sistema no mesmo período do ano passado.

O Pantanal é regido pelas chuvas, mas enfrenta uma seca devastadora que afetou os ciclos anuais de enchentes e vazantes. A seca severa está relacionada é mais um evento climático extremo provocado pelo El Niño, um fenômeno climático ligado ao aquecimento do Oceano Pacifico, mas que tem se intensificado pelo aquecimento global provocado pela emissão de dióxido de carbono da indústria capitalista.

Agricultura capitalista está destruindo o Pantanal

Mas a seca atual não é surpresa para ninguém. Ano após ano o Pantanal vem secando. É o bioma que mais secou entre de acordo com a série histórica do MapBiomas. Dados mostram que a área de superfície de água (corpos hídricos naturais, como rios e terrenos alagados, e também por reservatórios) de 2023 foi 61% menor que a média histórica.

Além das mudanças climáticas, a agricultura capitalista contribui imensamente para a sua destruição a ocupação territorial imposta pelo capitalismo. Mais de 95% são terras do Pantanal são privadas. Com a integração da pecuária brasileira às grandes redes do mercado global, grandes fazendeiros, muito dos quais arrendaram terras para outros pecuaristas ampliarem a criação de gado, pressionam o bioma ao extremo. Quem arrenda a terra busca tirar o maior proveito possível para obter maior taxa de lucros, mesmo que isso signifique a exploração sem limites dos recursos naturais, substituindo a vegetação, seja para lavoura ou pastagem. “Ao arrendar, esses proprietários colocam muito gado nessas terras para fazer o dinheiro girar, esse gado vai comendo o pasto nativo, inclusive os brotinhos, desgastando a pastagem”, explicou a jornalista Cláudia Gaigher em entrevista ao Portal da Agência Pública.

Além disso, o Pantanal também sofre com a expansão territorial dos grandes cultivos de soja no seu entorno. Calcula-se que na Bacia do Alto Paraguai o agronegócio já ocupa 60% da região. O resultado é o assoreamento dos rios e a diminuição da água por conta da construção de barragens.

Temporada de incêndios

Brasil vai queimar ainda mais

As queimadas no Pantanal diminuíram temporariamente, em função das mudanças no tempo. Mas o pico da estiagem é entre agosto e setembro, principalmente. Ou seja, há ricos de novos incêndios surgirem nos próximos meses.

Mas não é só o Pantanal que está queimando. Em todo o país, a área atingida pelo fogo no primeiro semestre de 2023 foi de 4,48 milhões de hectares. Nesse aspecto, o bioma mais castigado é a Amazônia que registrou  66% do total atingido pelo fogo no país (2,97 milhões de hectares), seguido pelo Cerrado com 947 mil hectares queimados, quase 50% a mais, em comparação ao mesmo período de 2023, segundo dados do MapBiomas.

Situação de calamidade

O Amazonas pode enfrentar uma seca ainda pior do que a vivida no ano passado, quando foi registrada a maior seca da história do estado. Até o momento, 20 das 62 cidades do estado já estão em situação de emergência, isoladas por causa do rebaixamento das águas dos rios que impede a navegação. Algumas já enfrentam problemas de abastecimento. No estado vizinho, o Acre, a seca também já é um problema. Isso ocorre poucos meses após uma cheia recorde em fevereiro.

Assim como no Pantanal, a seca também está relacionada ao El Niño e às mudanças climáticas, que provocam longas estiagens no Norte do país e chuvas torrenciais no Sul, como ficou demonstrado com a catástrofe do Rio Grande do Sul, em maio.

Muito mais do que fogo

Mas o pior ainda está por vir. O auge das queimadas na região é entre agosto e setembro, quando a situação sempre piora. A catástrofe climática tende a se agravar, especialmente quando ela se combina a uma outra grande catástrofe que castiga a Amazônia: a transformação da floresta em propriedade privada capitalista.

Incêndios e desmatamentos estão relacionados diretamente a expansão da fronteira agrícola do agronegócio.  Existe uma espécie de economia política do fogo. Nesse sentido, os incêndios servem como instrumentos dos grandes proprietários de terras para se apropriar de novos territórios que, em geral, são terras públicas, limpando eles do “mato” e eventualmente das populações que se encontram nela, tal como camponeses, indígenas e quilombolas. Assim, a floresta é convertida em fazenda, em pasto ou em novos territórios para o plantio de soja.

O aumento das queimadas criminosas faz parte de um projeto político e econômico dos capitalistas, e está vinculado com a política econômica vigente, principalmente a política fundiária aplicada pelo Estado. Em 2023, o governo Lula destinou R$ 287,16 bilhões do Plano Safra para o agronegócio. Para o próximo período, o governo anunciou mais de R$ 400 bilhões para a agricultura capitalista.  É essa montanha de dinheiro que financia a expansão do agro sobre a destruição dos biomas brasileiros.

Como evitar?

Uma nova tragédia anunciada

Há tempo para ações de prevenção e impedir que o avanço do fogo. Mas para isso é preciso priorizar fortalecer as brigadas voluntárias e comunitárias voltadas para a prevenção e manejo integrado do fogo; punir e expropriar todos os agricultores capitalistas, proprietários ou arrendatários, que degradam o bioma ampliando o desmatamento, a criação de gado e promovendo os incêndios; ampliar as unidades públicas de conservação e, no caso do Pantanal, é necessário remover todos os monocultivos de soja das cabeceiras dos rios.

A catástrofe dos incêndios evidencia que a tragédia ambiental brasileira anda de mão dadas com a apropriação privada capitalista da terra e sua integração ao mercando mundial. Por isso, um combate efetivo aos incêndios só pode ser realizado enfrentando decisivamente o agronegócio e o latifúndio.