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O ópio dos liberais: Uma resposta a Demétrio Magnoli

A religião política da moda é acreditar que o capitalismo irá impedir a barbárie que ele mesmo cria.

Julio Anselmo

6 de maio de 2024
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Reprodução CSP-Conlutas

Demétrio Magnoli, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, fez caricatura dos jovens estudantes que fazem história ao ocupar as universidades dos Estados Unidos contra o genocídio promovido por Israel. Chacoalha o esqueleto do stalinismo tomando-o como marxismo, como forma de polemizar com o socialismo. Mistura a tese decolonial, com marxismo e a luta real dos estudantes em apoio ao povo palestino. Prova a pequenez teórica do liberalismo e seu mau caratismo.

Para o liberal tudo isso não passaria de uma religião política. Esquece que não há nada mais místico do que os próprios liberais. Estes ignoram os fatos, deturpam a realidade e produzem ideologias ou explicações mágicas para justificar a sua defesa do capitalismo. Assim, de abstração em abstração, defendem a democracia como um entidade autônoma que existiria acima de tudo e todos, como uma democracia pura acima das classes sociais, acima dos seres humanos reais com suas relações sociais reais que expressam seus interesses igualmente reais. Por isso, Demétrio Magnoli prefere fechar os olhos para os fatos. Nenhum palavra sobre o genocídio praticado por Israel. Nenhuma análise sobre a criação do Estado de Israel tomando terras, propriedades dos palestinos, expulsando-os de suas casas e de seu país, criando um regime de apartheid baseado na força e colonialismo europeu e dos Estados Unidos.

Não compartilhamos das concepções pós-modernas, ou seja, idealistas, da tese decolonial. Mas Demétrio usa isso para zombar da justa denúncia do colonialismo europeu. E, vai além afirmando que os defensores da causa palestina são antissemitas e defensores de regimes totalitários. Deve ter se esquecido que os nazistas, foram a máxima expressão do antissemitismo e de um regime totalitário. E esse foi um projeto imperialista, capitalista, branco, reacionário de ultradireita que se deu no coração da Europa.

Defender a causa palestina e inclusive o fim do Estado de Israel é um direito democrático. E isso não tem nada a ver com antissemitismo. A prova disso é que há muitos grupos de judeus antissionistas e contra o Estado de Israel. O Estado de Israel e o sionismo formam um projeto político reacionário, opressor, violento e colonialista, que se utiliza do judaísmo mas que não representam todos os judeus.

Autodeterminação

Qual a opinião do liberal, supostamente defensor da democracia, sobre um povo que luta por sua autodeterminação? O povo palestino é impedido do seu direito de ter um Estado. Antes da criação de Israel, em 1947, viviam sob domínio de uma nação estrangeira que era a Inglaterra. Depois com o apoio dos Estados Unidas e da extinta União Soviética, se construiu uma nação opressora fortemente armada, em base a submissão do povo palestino que ali residia, através de uma limpeza étnica. O liberal troca os fatos e dados reais por uma narrativa sobre o “bem e o mal”, sendo Hamas o mal absoluto. Mas o Hamas nasceu em 1987. E, antes disso já havia Israel, guerra contra os palestinos, colonialismo e apartheid. Sobre isso: nada, nenhuma palavra.

Temos diferenças com os métodos e o programa político do Hamas que tem uma direção burguesa. Mas apesar da sua direção, a luta e a resistência armada do povo palestino contra o colonialismo do Estado assassino de Israel deve ser saudada e apoiada.

A luta do povo palestino é a luta democrática mais importante dos últimos tempos. Mas os democratas burgueses fazem malabarismo para defender o regime colonialista, genocida e de apartheid do seculo 21. Esta é a prova da incapacidade do capitalismo de resolver até os mais básicos direitos democráticos, que em palavras diz defender. Enquanto isso, a máquina de guerra vai rodando e faturando bilhões.

A falsidade do pensamento liberal

A falsidade do pensamento liberal é tão grande que basta ver como em nome de uma democracia no geral, na verdade defendem sempre os interesses da burguesia e do imperialismo. Democracia para eles é sempre a democracia capitalista, burguesa ou do mercado. Ao ponto que não veem problema em que ela se transforme em ditadura, se assim for necessário. Está aí a ultradireita bolsonarista ou trumpista para provarmos esse caso de amor entre o liberalismo e o bonapartismo. Foi assim ao longo da história no século 20, e está sendo no século atual.

No passado, faziam isso sob o signo da luta contra o comunismo, que na verdade significava o medo da burguesia em perder a posse dos meios de produção e o controle político da sociedade. Agora, em pleno 2024, as relações promíscuas do liberalismo com o bonapartismo se dão pura e simplesmente em nome do aprofundamento da barbárie capitalista. Diante da crise econômico crônica, do caos social, da degeneração desse sistema dos ricos, da destruição ambiental, os liberais não tem temor de abraçar um Bolsonaro, Trump ou Netanyahu.

Aqueles defensores do capitalismo chapados de ópio liberal, que ainda não abraçaram a ultradireita, defendem um Biden. Esta ala do imperialismo, apesar de ser diferente da ultradireita, segue sendo reacionária, defensora do capitalismo e violenta. Porque o que move o mundo não são as ideias, caro liberal. Aí está o Biden como o maior fiador do genocídio israelense de Netanyahu.

Quando um analista político liberal fala de democracia, os trabalhadores devem levar as mãos no rosto, porque lá vem as pancadas da polícia, dos exércitos e das tropas defensoras da “democracia” dos ricos. E aqui temos um comentarista liberal contra as manifestações democráticas dos estudantes justificando as ações terroristas do Estado de Israel e da policia dos Estados Unidos.

Magnoli abraçado com Netanyahu, que está abraçado com Biden, enquanto sonha com a volta de Trump. Tudo em nome da democracia, é claro. Na força dos interesses materiais e reais dos capitalistas, as distintas frações burguesas vem buscando as melhores formas de massacrar os trabalhadores em todo mundo.

Magnoli na sua polêmica com os estudantes acaba se aproximando e bebendo na fonte do negacionismo bolsonarista que jura combater. Chega inclusive a mostrar certo menosprezo pela ciência, pelas universidades e pelos professores. Estamos chegando no ponto de degeneração do capitalismo, que mesmo as universidades e as ciências sendo burguesas e capitalistas, está cabendo a esquerda e aos marxistas defendê-las, tamanho é o retrocesso capitalista. Está aí a campanha da ultradireita dizendo que vacina é coisa de comunista.

O papel dos liberais é garantir os interesses dos capitalistas, tentando manter algum verniz democrático burguês ou usando o bonapartismo com mais parcimônia. Mas nem isso se prestam devidamente porque, evidentemente, que diante da volúpia dos capitais e diante do agravamento das crises, escolhem sempre o lado da violência aberta do capitalismo, mesmo que tenham que ficar contra direitos democráticos burgueses básicos.

Fim da exploração e opressão capitalista

Com a restauração capitalista feita pelos stalinistas, os liberais prometiam o paraíso na terra com mais capitalismo. E de lá pra cá vivemos mais guerras, mais crises econômicas, aumento da pobreza e das desigualdades no mundo. Adicione a crise ambiental que pode levar a extinção da raça humana. Dizer que “o capitalismo está destruindo o mundo e a humanidade” é um devaneio ideológico marxista? Ou isto é uma realidade constatada com fatos e dados? Qual a proposta do colunista liberal para a “cinzenta realidade” do capitalismo atual?

A religião política da moda é acreditar que o capitalismo irá impedir a barbárie que ele mesmo cria. A luta do povo palestino, a solidariedade dos estudantes dos Estados Unidos, devem ser apoiadas. Estas podem se combinar com o levante dos trabalhadores em todo mundo, para lutar pelas liberdades democráticas que o capitalismo sufoca e oprime, combinando com a luta pela expropriação dos bilionários capitalistas, pelo fim da exploração e opressão capitalista causadora de guerras e da destruição da humanidade.

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