Editorial

O lucro dos bancos mostra para quem Lula governa

Redação

9 de agosto de 2024
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Sempre quando os trabalhadores exigem mais salários, mais empregos e mais direitos sociais, como Saúde e Educação públicas, a grande imprensa capitalista, as grandes empresas e os governos dizem que o problema é que não há dinheiro. O governo Lula diz que o país precisa crescer e o capitalismo se desenvolver, para, aí sim, dividir o bolo com os trabalhadores e trabalhadoras. Será que isso é verdade?

Há expectativa de certo crescimento econômico no país. Ou seja, as medidas adotadas pelo governo, de fato, estão estimulando os negócios capitalistas. O problema é quem se beneficia disso. Mesmo quando há uma relativa diminuição do desemprego e crescimento econômico, os salários seguem desvalorizados e direitos são questionados. E já se fala da necessidade de fazer uma nova Reforma da Previdência.

Mais de R$ 500 bilhões são distribuídos aos bilionários, como até mesmo Lula reconheceu. Mas, o que ele faz sobre isso? O governo prevê cancelar 11% dos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC), deixando de pagar mais de R$ 7 bilhões à população mais pobre.

Tirando dos pobres para beneficiar os bilionários

O governo diz que é para combater fraude. Claro, as fraudes devem ser combatidas. Mas, o governo está usando essa desculpa para tirar esse dinheiro da população mais pobre e utilizá-lo para dar benefícios fiscais às empresas bilionárias ou para o pagamento dos títulos da dívida aos banqueiros. Se o governo economiza combatendo “fraude”, que redistribua este dinheiro para os mais pobres.

Esta é uma demonstração do que significam o Arcabouço Fiscal e a Reforma Tributária, apresentados como soluções para os problemas econômicos do país, mas que fortalecem as grandes corporações capitalistas e garantem que os bilionários continuem a lucrar, enquanto a classe trabalhadora enfrenta cortes em áreas sociais como Saúde e Educação.

Enquanto isso, o Secretário Executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, que está à frente do ministério nas férias de Haddad, afirma que o Arcabouço será cumprido “custe o que custar”. Ou seja, não importa o quanto os trabalhadores sofram.

A realidade vem mostrando que os grandes monopólios capitalistas seguem ganhando bilhões de lucro. Recentemente, foram divulgados os dados trimestrais das empresas listadas na Bolsa. Os bancos Itaú e Bradesco registraram lucros de R$ 10 bilhões e R$ 4 bilhões, respectivamente, no último trimestre. O Santander lucrou R$ 3,33 bilhões; a Vale abocanhou R$ 8,9 bilhões; e o lucro da Weg chegou a R$ 1,44 bilhões. Poderíamos citar muitas outras.

Para onde vão esses lucros? A maior parte deles vai para o bolso dos donos e dos acionistas. Grande parte nem mora no Brasil. São os grandes bilionários capitalistas imperialistas dos países ricos. Até julho, as remessas de lucros e dividendos para o exterior atingiram US$ 20,735 bilhões, mais de R$ 100 bilhões. Mesmo valor que o banco JP Morgan prevê que a Petrobras distribuirá aos seus acionistas.

A subordinação do Brasil ao imperialismo, em particular dos EUA, impede qualquer avanço real nas condições de vida dos trabalhadores. Não apenas sugam as riquezas naturais, exploram os trabalhadores e remetem o lucro para o exterior, mas fazem isso ampliando a monopolização.

Estudo divulgado pelo portal “Intercept” mostra que, em 2019, os 200 maiores grupos empresariais controlavam 63,5% do PIB brasileiro. As seis maiores empresas de Saúde controlam outras 192 empresas. Os lucros dos planos de saúde, por exemplo, somaram R$ 3,3 bilhões, só no primeiro trimestre de 2024. Isto é fruto da ampliação da privatização da Saúde em nosso país.

Expropriar os bilionários

Imaginem se, ao invés de servir ao lucro dos acionistas, essas 200 grandes empresas fossem dos trabalhadores e do povo, e se usássemos esse lucro para atender as necessidades do Brasil, seja para o real desenvolvimentismo do país, seja para o atendimento das reivindicações dos trabalhadores e a ampliação dos direitos sociais. Não teríamos a crise fiscal nem os problemas do mercado cobrando arrancar o coro dos trabalhadores.

Para isso, é preciso tirar as empresas das mãos dos bilionários capitalistas. Ou seja, expropriá-las. Para que sejam colocadas nas mãos dos trabalhadores, as empresas devem ser do Estado. Mas, não desse Estado atual, controlado pelos bilionários; mas de um Estado construído pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras, que governem através de conselhos populares.

Então, teríamos que ter uma verdadeira democracia dos trabalhadores, com seus organismos controlando e decidindo os rumos do Estado e destas empresas. Este seria, de fato, um programa socialista para derrotar os bilionários capitalistas, de verdade, e mudar o país.
E apesar do que Lula fala, ele segue governando com e para os bilionários capitalistas. Ao contrário do que diz a ultradireita, Lula não tem nada de socialista ou anticapitalista.

Aqui ou na Venezuela, governar com e a para a burguesia alimenta a ultradireita

Os bolsonaristas e a ultradireita são os representantes de um setor mais reacionário, ditatorial e violento dos bilionários capitalistas. Um setor que tem um programa para aprofundar a exploração e a opressão. São um perigo para os trabalhadores e precisam ser derrotados de uma vez por todas.

Por isso mesmo, se, de fato, queremos enterrar o bolsonarismo e a ultradireita, é preciso enfrentar os bilionários capitalistas e não governar junto com eles. Lula acabou de convidar Biden para uma aliança em defesa da democracia e contra a ultradireita.

Mas, convenhamos, quem acredita que o presidente dos EUA, o bastião de golpes, das guerras e das medidas autoritárias contra a América do Sul, através de sua rapina imperialista, pode ser aliado de alguém para enfrentar a ultradireita golpista e autoritária?

Vejamos o exemplo da Venezuela de Maduro. Décadas de um governo que se dizia de esquerda, mas que governou durante todo este período para um setor burguês – a chamada “boliburguesia” –, alinhado com o imperialismo chinês e russo, e levou a uma ditadura capitalista, dirigida por um partido que se diz de esquerda, mas que cumpre o papel de desmoralizar os trabalhadores, além de reabilitar os setores burgueses capitalistas da elite venezuelana, vinculados ao imperialismo dos EUA.

A Venezuela mostra que não há caminho para a esquerda caso ela se mantenha administrando o capitalismo. E, também, como esta postura, além de levar fome, miséria e repressão aos trabalhadores, ainda alimenta a própria direita e ultra direita.