Opinião Socialista

O dinheiro no centro das relações sociais do capitalismo

Ana Godoi

14 de dezembro de 2022
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Foto: Pixabay

Ana Godoi, de Belo Horizonte (MG)     

“Os senhores do mundo dominam tudo!”, “O dinheiro é o poder”, “O dinheiro existe para dominar as pessoas!”. Muitos de nós já ouvimos essas frases e muitas outras, como formas de explicar o mundo em que vivemos.

Muitas delas, inclusive, associadas a teorias da conspiração, que nos parecem extremamente fora da realidade, criando argumentos alucinados sobre os eventos que vivenciamos. Mas por que essas explicações ganham força? Por que vemos o poder exacerbado do dinheiro, como a do “grande senhor” que a tudo governa?

O fato de vivermos em uma forma de sociedade muito específica gera uma percepção de mundo também muito específica. Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que o capitalismo é uma forma de sociedade. Isso significa que este sistema possui algumas características que lhe são próprias e que fazem ele ser exatamente como é, se mantendo estável ao longo do tempo.

Chamamos isso de relações sociais, ou seja, relações que se repetem cotidianamente e que, sem elas, a sociedade possuiria outra forma. Seria outra sociedade. Essas relações formam a base do capitalismo.

Por exemplo, quando vamos ao supermercado comprar alimentos, estamos estabelecendo uma relação social. A questão é que no capitalismo essas relações são encobertas, elas ficam ocultas da nossa percepção.

Ou é evidente, transparente, que quando pagamos por nosso alimento, estamos estabelecendo uma relação social e não uma relação qualquer? Não é evidente! Muito pelo contrário. Isso porque no meio do caminho há um elemento que poderia ser trivial, mas, na verdade, é o centro de toda a questão: o dinheiro.

Ah, o dinheiro! Aquilo que nos permite ter acesso aos bens, aos serviços e tudo mais que a sociedade produz. E ele nos permite isso justamente por mediar e encarnar essas relações sociais. No mercado, quando pagamos, não vemos as relações que produziram a riqueza. Não vemos relação de qualquer tipo, pois nos relacionamos, ali, não com pessoas, mas com uma coisa, o dinheiro.

Vemos apenas esse dinheiro que estava na nossa carteira e que passará para a mão do vendedor. Ai mora toda a autonomia do dinheiro. Ele acaba circulando autonomamente, justamente por mediar e expressar as relações sociais. Assim, nossa percepção não alcança o que está por trás, o que está sendo expresso pelo dinheiro.

Ideologias

Explicações que ocultam a realidade

Não vemos como o valor do dinheiro é produzido. Assim, só percebemos que o dinheiro é a grande chave que abre todas as portas do capitalismo, que dá poder a seu possuidor, mesmo não entendendo bem de onde vem esse poder de fato.

Ora, se não vemos, se não percebemos, as relações que de fato constituem o capitalismo, precisamos tapar os buracos que nos faltam, precisamos criar explicações que deem conta desse não visto, desse não percebido.

E é assim que muitas das teorias que tentam explicar o mundo em que vivemos surgem, tentando tapar buracos, o que as tornam muito unilaterais em suas tentativas, não explicando, de fato, como as coisas funcionam.

Até os delírios conspiracionistas tomam alguns desses elementos da realidade como base, seja a autonomia do dinheiro, seja a existência de uma casta de poderosos que concentram a riqueza e o poder, ou seja, a grande burguesia internacional.

E é assim que a conciliação de classe também passa a fazer sentido. Tentando tapar os buracos, ela assume a possibilidade de unir todos os setores da sociedade em prol de um projeto político que melhore a vida de todos.

O grande problema dessas explicações que tapam buracos é que elas não vão além da percepção, elas param onde a vista alcança. E, evidentemente, não tomam as relações sociais existentes e essas continuam encobertas para nós. E qual a saída para desvelar o que está encoberto, para trazer a tona o que está submerso, para ir além do poder autônomo do dinheiro? O comunismo!

A luta pelo comunismo

A única forma de desvelar a realidade

Sim, essa palavra tem sido alvo de uma disputa mundial, ganhando significados variados. Não por acaso, as pesquisas pela pergunta: “O que é comunismo?” cresceram tanto no último ano. Comunismo é outra forma de sociedade que se centra em outras relações sociais e, principalmente, por não encobri-las.

E como isso é possível? Ao não possuir mais a estrutura do capitalismo, ao não ter o dinheiro como mediador e encarnação das relações, temos uma nova configuração da sociedade.

Mas, como fazer isso acontecer? Destruindo o capitalismo, expropriando a grande burguesia e assim, criando condições para que o comunismo surja, e não conciliando as classes. Por isso o comunismo dá tanto medo para alguns e precisa ser transformado em um demônio. E desvelar as relações do capitalismo é parte fundamental desse processo.

Por isso a teoria marxista e, com ela, a construção de um partido revolucionário é tão fundamental. Pois assim, não tapamos mais os buracos. Desvelamos. Revelamos. Não criamos conspiração. Mas, sim, uma alternativa de construção de uma nova sociedade, completamente livre.

Para tal, vamos responder de fato: O que é comunismo? A resposta estará no  próximo artigo.