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Nosso adeus à Diana, ‘a cantora apaixonada do Brasil’

Roberto Aguiar, jornalista cultural

25 de agosto de 2024
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Nascida Ana Maria Siqueira Iório, Diana iniciou sua carreira durante a fase final da Jovem Guarda, em 1969 | Foto: Reprodução YouTube

As músicas bregas fazem parte do repertório musical da minha vida. Quando menino, em Ourém, cidade do interior do Pará, a noite chegava e trazia com ela as músicas bregas que saiam do alto-falante instalado em frente ao “Casqueiro”, um cabaré localizado próximo à minha casa. Entre essas músicas estava “Porque brigamos”, na inconfundível voz da Diana, que se tornou um clássico da música brega-romântica brasileira.

Na última quarta-feira (21), Diana morreu. A cantora e compositora carioca estava com 76 anos. André Iorio, seu filho, a encontrou sem vida na casa onde vivia, em Araruama, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. A suspeita é de que ela tenha tido um ataque cardíaco enquanto dormia.

Diana foi uma das vozes mais reconhecidas da música romântica do Brasil.

Quem foi Diana?

Nascida Ana Maria Siqueira Iório, Diana iniciou sua carreira durante a fase final da Jovem Guarda, em 1969. Gravou quatro compactos simples até 1972, quando obteve seu primeiro grande sucesso comercial com o lançamento do compacto de “Ainda Queima a Esperança“, música do compositor e cantor baiano Raul Seixas. Esse sucesso permitiu o lançamento do seu primeiro LP naquele mesmo ano, sob a direção artística do pai do rock brasileiro.

Primeiro disco da cantora Diana lançado em 1972, sob a direção artística de Raul Seixas | Foto: Reprodução

É nesse disco, que recebeu o título de “Diana”, que está o maior sucesso de sua carreira, “Porque brigamos”, uma versão de “I Am… I Sad”, de Neil Diamond. A canção “Tudo Que Tenho” (uma versão de Rossini Pinto para “Everything I Own”, do grupo Bread), também presente no disco homônimo, tomou parte da trilha sonora do filme “O Céu de Suely” (2006), de Karim Aïnouz.

Em 1974, Diana lançou outro sucesso musical, “Foi tudo culpa do amor”, composição dela com Odair José, outro grande nome da música brega-romântica. Eles foram casados e tiveram uma filha, Clarice, nascida em 1976. O relacionamento foi marcado por brigas intensas que chegaram às manchetes dos jornais e revistas da época. Em 1986, lançaram juntos o disco “Reencontro – Diana & Odair”.

Em 2001, gravou o álbum “Diana” com 12 faixas inéditas, antes de modificar a grafia de seu nome para Diannah.

Em 2013, Diana recebeu uma merecida e linda homenagem da cantora Bárbara Eugênia, que regravou “Porque brigamos” no disco “É o que Temos”. Em março de 2014, o jornal Folha de S. Paulo registrou, na “TV Folha”, o encontro entre Diana e Bárbara cantando a famosa versão de “I Am… I Sad”, feita por Diana e Rossini Pinto.

Conhecida por sua personalidade marcante, com um estilo único, marcado por canções apaixonadas e melancólicas, Diana deixou sua marca na música sentimental-romântica do Brasil. Embora sua popularidade tenha diminuído nas últimas décadas, permanecia ativa, realizando shows pelo interior do país, mantendo vivo os títulos recebidos de “A voz que emociona” e “A cantora apaixonada do Brasil”.

Uma matéria a ser escrita

Essas músicas da minha infância seguem sendo parte de mim. O disco “Diana” integra minha coleção de vinis, assim como discos de outros artistas do gênero, a exemplo de Fernando Mendes, o meu cantor-brega preferido.

No semestre passado, mexendo em minhas gavetas, encontrei uma lista de matérias jornalísticas que tinha planejado desenvolver, ainda no período da pandemia, mas que acabou ficando de lado. Na relação, tinha uma ideia de pauta sobre a música brega e análise do primeiro disco da Diana e do Fernando Mendes.

Mês passado, em uma madrugada fria de São Paulo, comecei a estruturar o texto. No dia seguinte falei com o assessor de Fernandes Mendes pelo WhastApp e com Diana. Não cheguei a fazer a entrevista com a “cantora apaixonada do Brasil”. Hoje, numa madrugada fria em Salvador, escrevo esse adeus a uma das vozes que marcaram a música brega brasileira, que caminhou e seguirá caminhando comigo nas lembranças do menino de Ourém que se encantou com aquela voz que vinha de um alto-falante de um cabaré.

Obrigado, Diana! Descanse em paz!

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DICAS

Para saber um pouco mais da música brega brasileira, deixou como dica dois documentários:

– “Vou rifar meu coração” (2011), com direção de Ana Riepe.

– “Waldick, sempre no meu coração” (2007), com direção de Patrícia Pilar.

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