Editorial

Nos EUA e no Brasil: a independência política da classe trabalhadora é tudo

Redação

25 de julho de 2024
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Manifestação de 1º de maio em SP Foto Sindmetal/SJC

O que acontece nos EUA, principal potência imperialista, influencia todos os países.  A disputa entre as diferentes nações imperialistas pelo aumento da taxa de lucros, principalmente com a ascensão da China, agravou também a disputa e tensões dentro do próprio imperialismo norte-americano. A ascensão da ultradireita, ao mesmo tempo, é causa e consequência do aprofundamento desta disputa interna entre os ricos e poderosos.

Ninguém duvida do perigo que representa para os trabalhadores do mundo inteiro uma vitória de Trump. Seria um fortalecimento da ultradireita a nível mundial e a possibilidade de um recrudescimento dos ataques aos direitos dos trabalhadores, imigrantes, mulheres, LGBTs, negros e todos os setores oprimidos e explorados pelo capitalismo. Além de uma forte pressão sobre o regime democrático burguês daquele país, haja visto, inclusive, a tentativa de golpe frustrada com a invasão do Capitólio.

Em todo o seu mandato, porém, Biden não fez outra coisa senão manter intacta a arma de guerra imperialista, ajudando suas multinacionais a explorarem todo o globo, sufocando e dilapidando trabalhadores em todo o mundo. O genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza é o exemplo mais drástico da política imperialista dos EUA. Biden e o Partido Democrata são uma ala do imperialismo, e Trump é outra ala. Mas os dois defendem os mesmos interesses do ponto de vista de classe, ou seja, defendem a burguesia imperialista dos EUA.

Muitos alegam, porém, que, pela necessidade de derrotar Trump e o Partido Republicano, a independência de classe deve ser colocada de lado para apoiar Kamala Harris e o Partido Democrata, mesmo que isso signifique apoiar um outro partido burguês imperialista. Mas esquecem que essa nova ascensão da ultradireita norte-americana é a prova de que não adianta votar nos Democratas para derrotar a extrema direita.

Apesar de mulher e negra, a política defendida por esta representante da burguesia imperialista é a mesma da elite branca, imperialista, racista e capitalista. Como vice-presidente, confere apoio à política de Biden de dar mais poder e dinheiro às multinacionais explorarem os trabalhadores dos EUA, os imigrantes e todos os trabalhadores do mundo, que em sua maioria são não-brancos.

Neste contexto, a onda de capitulação de parte da esquerda mundial à burguesia imperialista cresceu bastante com a possibilidade da candidatura de Kamala. Assim como Lula e o governo do PT, até mesmo representantes do PSOL como Talíria Petrone, e inclusive o MES, como Pedro Ruas (PSOL-RS) saíram na defesa da democrata.

Escancara-se, assim, a gravidade da cooptação de uma esquerda, que perdeu completamente sua bússola de classe, a uma democracia burguesa e à ordem capitalista. Acariciam como salvador um projeto não só burguês, como completamente imperialista, que significa mais ataques e subordinação dos trabalhadores e nações do planeta. 

A exploração e a dominação do imperialismo dos EUA no Brasil

Biden não endossou a tentativa de golpe bolsonarista. Trump, à frente da Casa Branca, poderia ter outra atitude. Mas até para enfrentar esse perigo trumpista, a esquerda não pode deixar na mão de outra ala do imperialismo a luta contra os perigos autoritários e ditatoriais da ultradireita. Basta dizer que o golpe de 1964 no Brasil contou com a participação e o apoio dos EUA e de seu então presidente, o democrata Lyndon Johnson. Sem contar a hipocrisia pelo fato de Biden e Kamala apoiarem o Estado teocrático e o regime de apartheid de Israel, ou o regime saudita. Ou as recorrentes incursões militares dos EUA, como no Afeganistão e no Iraque. Se necessário, não há dúvida de que Biden, Kamala, ou qualquer setor burguês, vão mudar de ideia sobre golpes mundo afora.

Não há nada que interesse ao Brasil a eleição de Trump, ou tampouco a manutenção de Biden ou vitória de Kamala. O Brasil não tem como se desenvolver se não romper com a dominação do imperialismo dos EUA, da Europa ou da China. As promessas de Lula de colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto, além de serem só palavras, são impossíveis enquanto o país seguir a cartilha imposta por Washington de garantir a remuneração da dívida pública, as privatizações e garantia dos interesses das multinacionais que mandam as riquezas para as suas matrizes nos países imperialistas.

O que o governo Lula vem fazendo, como o arcabouço fiscal, a reforma tributária e cortes de verbas na saúde, educação, aposentadorias e BPC, não só são ataques diretos aos trabalhadores como também ajudam a própria ultradireita. A manutenção de um bolsonarismo forte no Brasil é a prova de que não dá para derrotar a ultradireita apoiando um governo que se alia com os bilionários capitalistas.

Alternativa socialista e revolucionária

Precisamos defender, na luta do dia-a-dia, uma posição de independência da classe trabalhadora em relação aos governos. E de enfrentamento aos diferentes setores e campos burgueses e capitalistas, que se enfrentam nesta polarização política. Isso se expressa também na necessidade de construir uma oposição de esquerda e socialista ao governo Lula.

É necessário defender uma alternativa que lute contra os ataques do governo, mas que também apresente uma alternativa socialista e revolucionária a essa sociedade desigual que vivemos. Será enfrentando os bilionários capitalistas, do campo governista e do campo bolsonarista, que conseguiremos ter também capacidade de derrotar de uma vez por todas a ultradireita, inclusive Trump, jogando-os na lata de lixo da história ao quebrar este sistema capitalista que os alimenta.

Esta tarefa está colocada também na eleição municipal aqui no Brasil. Eleições em que se repetem a política de submissão à ordem capitalista de grande parte da esquerda, que endossa candidaturas e alianças do PT com a burguesia em torno a um programa social-liberal, de endosso à ordem capitalista neoliberal. Algumas destas alianças até encabeçadas pelo PSOL, como a de Boulos em São Paulo, onde até o PCB embarcou na frente ampla com os bilionários da Faria Lima. 

Jogar a toalha da defesa da independência de classe, no Brasil ou nos EUA, não é um caminho para derrotar a direita e muito menos para o socialismo. O caminho do eleitoralismo e da colaboração de classes, enfraquece a classe trabalhadora, empodera o sistema e alimenta a extrema direita.