“Nos Correios, a postura do governo foi igual às outras categorias: reajuste zero”
Os trabalhadores e trabalhadoras dos Correios estão em greve desde o dia 7 de agosto. A paralisação exige reajuste salarial imediato, enquanto o plano do governo Lula é deixar os ecetistas sem correção dos salários este ano. Outras demandas são a redução no custeio do Plano de Saúde, além de melhorias nas condições de trabalho e outros benefícios. Confira a entrevista com Geraldo Rodrigues, o Geraldinho, militante do PSTU e diretor da Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Fentect/CSP-Conlutas)
O que levou à deflagração da greve? Houve adesão de todos os sindicatos da categoria?
Há vários motivos para que a categoria entrasse em greve. Primeiro, a questão econômica, as perdas da categoria, há um bom tempo. Principalmente em 2020, quando foram tiradas mais de 50 cláusulas do nosso acordo e houve uma redução nas remunerações salariais dos trabalhadores, de quase 40%.
O segundo motivo tem a ver com as condições de trabalho. Tem uma sobrecarga muito grande e falta de efetivo. Hoje, a categoria é uma categoria adoecida e envelhecida, com falta de concurso público. Tudo isso fez com que os trabalhadores dos Correios tivessem motivos de sobra para entrarem em greve.
O grande problema foi a adesão de todos os sindicatos, que não teve. Ou seja, inicialmente, a gente trabalhou com uma perspectiva de adesão unificada da categoria e dos 36 sindicatos e das duas federações. Mas, infelizmente, isso não aconteceu. E não aconteceu porque a ampla maioria dos sindicatos é da CUT. São petistas. E, para defender o governo e não ter um enfrentamento ele, estas entidades se unificaram em torno de uma política de não fazer greve. Mas, mesmo assim, teve alguns sindicatos da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentact, filiada à CUT) que saíram em greve. Foram uns seis sindicatos, que passaram por cima das suas direções e aderiram à greve.
Quais são as principais reivindicações da categoria? Como está a situação dos trabalhadores dos Correios?
Uma das principais reivindicações da categoria era redução das mensalidades do Plano de Saúde. Nós tínhamos um Plano de Saúde e até 2017 a gente não pagava as mensalidades. Pagávamos apenas uma participação, um compartilhamento, quando usava o Plano de Saúde. O Plano era administrado pela empresa, pelos Correios. Mas, de 2017 para cá, foi imposto uma mensalidade. E essa mensalidade é calculada em cima do salário da categoria. Ou seja, toda vez que o cara faz uma hora extra a mais, essa mensalidade aumenta. Toda vez que o trabalhador sai de férias, ou tem uma função e recebe algo a mais por essa função, a mensalidade aumenta.
E essa mensalidade faz com que, hoje, mais de 50% dos trabalhadores não consigam pagar o Plano. Estão fora dele. Por isso, uma das principais bandeiras é a redução da mensalidade do Plano de Saúde. Além do Plano de Saúde, tem a reivindicação do 70% de férias. Antigamente, quando você saia de férias, você tinha 70% de férias a mais. E isso também foi retirado e há uma expectativa muito grande de que essa campanha salarial possa resgatar esse direito.
Qual foi a postura adotada pelo governo na mesa de negociação?
A postura do governo foi igual ao que aconteceu com os outros trabalhadores federais, professores e todos tiveram que enfrentar o governo nas suas campanhas salariais e negociações.
O governo afirma que os Correios não têm dinheiro, que está no vermelho. E isso é uma narrativa que vem sendo construída, ano após ano. Quer dizer, na prática repetiu o que aconteceu no ano passado. Obviamente, o governo não falava claramente que defendia uma política de reajuste zero para os trabalhadores. Nos Correios, a postura foi igual às outras categorias que fizeram campanhas salariais: reajuste zero. Dizendo que não poderia dar reajuste algum para esse ano, jogando para 2025. Mas, a gente vê, por aí, que não falta dinheiro e isenções fiscais para os empresários. Só o agronegócio vai receber mais de R$ 400 bilhões, em 2025. Já para os trabalhadores e trabalhadoras, a conversa é outra.
Qual é a perspectiva do movimento grevista neste momento?
Hoje, quem está em greve são cinco sindicatos da Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect), que é ligada à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Essa Federação dirige os dois maiores sindicatos da categoria, que são os de São Paulo e do Rio de Janeiro. O peso desses dois estados é muito grande, já que lidam com mais de 60% do fluxo postal.
A Findect manteve a greve e, aqui em São Paulo, isso foi decidido na última segunda-feira (19). Na quinta-feira (22) haverá uma nova assembleia. Na quarta-feira (21), haverá uma audiência no Tribunal Superior do Trabalho (TST), para pedir a conciliação. Mas, não sabemos se a empresa vai aceitar. E, obviamente, a empresa, hoje, está tranquila, porque ela tem na mão um acordo para aprovar com os sindicatos filiados à Fentect/CUT. Então, o problema da greve é que essa Federação jogou contra a mobilização. Além de não incentivar a greve em seus sindicatos, também orientou pela assinatura do acordo.
O governo Bolsonaro queria privatizar os Correios. O atual governo Lula defende a manutenção da empresa como estatal. Como você compara a situação entre esses dois governos?
Obviamente, há uma diferença entre o governo Bolsonaro, que tinha uma política clara, desde sua campanha, que era destruir os Correios, privatizar a empresa. Ele só não fez isso graças às lutas da categoria. Graças à mobilização e também à crise política que o governo Bolsonaro teve durante a pandemia. Esse canário ajudou a gente para barrar a privatização.
O governo Lula já assumiu dizendo que retiraria os Correios e outras estatais da lista da privatização. É claro que, com isso, os trabalhadores dos Correios se sentiram mais aliviados. Também acreditaram que as coisas seriam diferentes, porque o governo é mais aberto às negociações etc. Mas, tem um porém. Ao mesmo tempo em que o governo tira os Correios da privatização, ele também não investe na empresa, para acabar com a terceirização, que só faz aumentar.
Hoje, temos 81 mil trabalhadores, quando, no passado, já fomos mais de 120 mil. Quer dizer, houve uma enorme redução de efetivo e todas essas vagas foram preenchidas por terceirizados. Então, qual era a nossa bandeira nessa campanha? O fim da terceirização e a realização de concurso público, já. Mas, não esse concurso público que o governo defende, para criar apenas 3 mil vagas. Hoje, o concurso público teria que ser para mais de 20 mil vagas. Foi isso que perdemos nos últimos quatro anos.