Movimento Mulheres em Luta (MML) completa 15 anos e lança revista comemorativa
O relógio marcava 19h, na noite do último sábado (dia 9), quando o auditório nobre inferior do Clube Guapira, em São Paulo, começou a ser ocupado por ativistas que iriam acompanhar o lançamento da revista comemorativa aos 15 anos do Movimento Mulheres em Luta (MML).
O espaço era grande, mas em pouco tempo, foi tomado por uma plateia animada, que nem parecia que tinham passado o dia todo em debates e votações no 5º Congresso Nacional da CSP-Conlutas. Mulheres de diversos lugares do Brasil entoavam palavras de ordem e demonstravam o orgulho e satisfação em construir um movimento de mulheres trabalhadoras que enfrenta o machismo e a exploração capitalista com grande empenho.
Ana Rosa Minutti, uma das fundadoras do MML, relembrou que lá em 2008 os marcos da construção desse movimento foram justamente a independência de classe e a necessidade de responder aos ataques do governo do PT, que naquele momento tinha os movimentos de mulheres majoritários do país sob o seu comando.
“Imediatamente após o encontro de fundação do MML, diversas categorias organizaram atividades em suas bases para apresentar aquele novo projeto, a exemplo da construção civil de Belém, que reuniu as operárias para discutir a sua condição de trabalho e de vida. Foi assim também com as trabalhadoras da confecção feminina do Ceará, que organizaram um encontro para propor a construção desse processo de luta contra o machismo e a exploração na categoria”, destacou Ana Rosa.
E não tinha como ser diferente, já que o projeto do MML surge no seio da CSP-Conlutas, uma central diferenciada, que une trabalhadoras e trabalhadores organizados em sindicatos, autônomos, camponeses, povos originários, quilombolas e ativistas dos movimentos de luta contra as opressões. Quando o MML foi fundado, uma das metas do movimento era justamente criar e fortalecer as secretarias de mulheres nos sindicatos.
Internacionalismo
Foi ressaltado a forte base internacionalista do movimento, que desde o seu início passou a compor espaços internacionais que discutem a luta das mulheres trabalhadoras. O MML fortaleceu, como parte da CSP-Conlutas, a construção da Rede Internacional Sindical de Solidariedade e Luta.
Como parte dessa luta internacional, o evento contou com a saudação de uma delegação internacional, que contou com a presença da enfermeira Oksana Slobodyana, da Ucrânia. Também falaram saudaram a atividades as euatorianas Jaqueline Artieda e Diana Noboa; as francesas Cybele e Murielle; e Soraya Misleh, ativista pela causa Palestina.
Enfrentar o machismo e a exploração capitalista
A ativista Marcela Azevedo, da executiva nacional do MML, destacou o orgulho em construir uma ferramenta que há 15 anos organiza as mulheres trabalhadoras para enfrentar o machismo e a exploração capitalista.
“Muito tem se falado sobre a questão das mulheres. É verdade, em várias rodas de conversa surge o tema do papel e do lugar das mulheres na sociedade. Porém, grande parte dos movimentos de mulheres que existem hoje apontam o caminho da conciliação de classe que vai levar as mulheres trabalhadoras e inevitavelmente a uma derrota, já que não é verdade que mulheres ricas e mulheres trabalhadoras vivem a opressão da mesma forma”, afirmou Marcela Azevedo.
“O que unifica as mulheres que estão no MML é o fato de serem trabalhadores. Dentro dessa unidade, o movimento busca reconhecer, respeitar e impulsionar o protagonismo da diversidade de mulheres como as mulheres negras, as mulheres indígenas, as mulheres LBTI’s, já que cada uma dessas vive a opressão de uma maneira distinta”, completou Marcela.
A luta e o protagonismo das mulheres negras foram ressaltadas na fala de Maristela Farias, representante do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, também filiado à CSP-Conlutas.
A revista
A revista foi produzida a muitas mãos e traz a história de 15 anos do MML. “Pautamos na publicação a nossa história, os desafios e obstáculos em construir um movimento nacional de mulheres, de forma independente, sem amarras com governos e patrões. Nadando contra o fluxo da maré, já que a maioria dos movimentos foram cooptados por governos”, explicou Marcela Azevedo.
“Mas também compartilhamos muitas alegrias ao percebermos a força que as mulheres trabalhadoras têm ao se auto organizarem e ao impulsionarem a luta do conjunto da classe trabalhadora”, pontuou a integrante da direção nacional do MML.
A revista saiu com 2.000 exemplares na primeira tiragem. Até o momento da plenária, já tinham sido reservados 1.700 exemplares para diversas cidades, de diferentes regiões do país.
“É muito importante que a revista chegue em cada local de trabalho, de estudo e moradia para que as mulheres não só conheçam a história do MML, como se sintam representadas nela e sintam que há sim um movimento que pode abarcar suas demandas e fortalecer a sua luta”, finalizou Marcela Azevedo.
Não podemos deixar de ressaltar que a atividade contou com a presença de vários homens da classe trabalhadora. As ativistas do MML ficaram feliz, pois para elas é necessária a unidade da classe trabalhadora contra o machismo, para que de conjunto, enquanto classe, possamos golpear o capitalismo, nosso maior inimigo.
Ao final da plenária foram aprovados alguns encaminhamentos:
— Participação nas lutas deste semestre, como o 28 de setembro – Dia de Luta pela Legalização do Aborto, e o 25 de novembro, Dia de Emergência Nacional contra a Violência às Mulheres;
— Lançamento da revista do MML nos Estados, para fazer chegar às mãos mulheres da classe trabalhadora, do campo e da cidade, dos povos originários e tradicionais, e das imigrantes, essa importante ferramenta de luta.