Medalha de ouro de Bia Souza tem gostinho de antirracismo e antissionismo
A grande imprensa não noticiou, mas a vitória da judoca brasileira, Bia de Souza, contra a israelense Raz Hershko veio carregada de uma simbologia que extrapola o mundo dos esportes. A primeira medalha de ouro do Brasil nas olimpíadas de Paris foi uma das mais importantes em seu significado político.
É preciso lembrar que Bia Souza foi uma das atletas que deve ter se sentido agredida pela postagem racista feita na página oficial do Ministério dos Esportes no dia da abertura dos jogos, pouco antes da delegação brasileira entrar. Na postagem constava um macaco pilotando um barco com os dizeres “Todo mundo aguardando o nosso barco”.
O racista Wesley Max, Coordenador das Mídias Sociais do Ministério dos Esportes, responsável pela postagem, foi demitido em razão da repercussão negativa. Mas, o Ministro André Fufuca, do reacionário Partido Progressistas, responsável pela contratação do racista, não! Lula segue conciliando com essa gente racista do centrão e da ultradireita, o que só revela o caráter burguês do seu governo.
Pois bem, o barco da delegação brasileira não só passou por cima da cabeça racista desse idiota, como atropelou todos os demais, e os que com eles conciliam. E está fazendo isso, tendo, principalmente, as mulheres pretas no comando.
Bia é mulher preta de origem pobre que, como muitos atletas com ela, teve que matar um leão machista e racista por dia para chegar às Olimpíadas. Imagine que, durante os 17 dias destes jogos, dezenas de mulheres pretas, como a nossa Bia, enterrarão seus filhos mortos nas periferias brasileiras pelas armas que o Estado de Israel vende para o Estado brasileiro. O governo brasileiro é um dos maiores compradores de material bélico produzido em Israel, que possui o quarto exército mais poderoso do mundo.
Do outro lado, encontrava-se a judoca Raz Hershko, ex-soldado do Estado genocida de Israel. Enquanto Bia buscava inspiração para suas lutas em pessoas oprimidas que a rodeiam (como seus familiares, seu pai, Poseidonio José de Souza Neto, um ex-atleta da modalidade. Em tempo: o rap é a música predileta de Bia, a trilha sonora dos oprimidos), Raz Hershko foi buscar inspiração no 402º Batalhão do Exército de Israel. Depois da visita ela afirmou: “Na minha curta visita vi através do olhar deles a dedicação ao objetivo, a perseverança, o estabelecimento de metas, a vontade de chegar e dar tudo. Vou levar isso comigo“. E afirmou ainda em referência ao batalhão “Tantas pessoas são uma inspiração“. De qual objetivo e meta Raz está falando, senão da eliminação total do povo palestino em Gaza?
Até antes de encarar nossa brasileira, todas as vitórias que a israelense obteve eram dedicadas aos militares de Israel, o que significa pular de alegria sobre os restos mortais de milhares de palestinos mortos por esse exército genocida. Raz Hershko estava decidida a utilizar suas vitórias em Paris como arma de guerra contra o povo palestino e a favor do fortalecimento do sanguinário, mas desgastado, Benjamin Netanyahu.
Bia chorou copiosamente ao ganhar a luta e ao receber a medalha de ouro, que coroou a trajetória de uma mulher negra, pobre e oprimida. Raz não ganhou medalha de ouro nesta olimpíada, mas deve ter coleções de medalhas entregues pelo Alto Comando do Exército de Israel por fazer milhares de palestinos chorarem copiosamente pelas perdas de seus entes numa guerra desigual e covarde.
Desde outubro de 2023, aproximadamente 40 mil palestinos foram assassinados em Gaza, incluindo 15 mil crianças, além de 91 mil pessoas feridas, 10 mil desaparecidas e quase 2 milhões de deslocados internamente. Segundo as Nações Unidas, existem aproximadamente 6 milhões de refugiados palestinos, o que faz dos mesmos a maior população de refugiados do mundo.
Porém, se os opressores têm as mãos e as medalhas manchadas com o sangue dos oprimidos; sua moral, coragem e reputação são lapidadas na broca da covardia.
Nos jogos olímpicos de Berlim, na Alemanha, em 1936, o jovem afro-americano, Jesse Owens, desafiou o Estado nazista dentro de sua própria casa no salto em distância. Mesmo sabendo que quase todos ali, incluindo Adolf Hitler, estariam contra ele, instrumentalizando o esporte para fazer propaganda da superioridade racial, Owens, neto de escravos, não se deixou abalar. Saltou na contracorrente, e derrotou, não somente Luz Long, que depois virou seu amigo, mas toda a trupe de nazistas presentes no evento, fazendo Hitler abandonar o estádio irritadíssimo. Um fato que entrou para história dos jogos olímpicos e da luta contra o nazismo e o racismo. Um negro, tão humilde como Bia de Souza, desafiou e derrotou o Führer, sem tremer na base.
Já a delegação representante do poderosíssimo Estado de Israel, fez o oposto nesta Olimpíada. Cientes do desgaste da sua política genocida em Gaza, recusaram-se a desfilar em barco pelo Rio Sena, para não ter que ouvir as vaias de um público que tem assistido de maneira atônita ao massacre em Gaza. Mas, se esta Olimpíada fosse sediada em Telavive, certamente a delegação de Israel desfiliaria de armas em punhos e, se possível, apontadas para a cabeça de prisioneiros palestinos. A moral dos opressores e dos que lutam contra as opressões são, diametralmente, opostas.
Há coisas que só quem é oprimido e explorado podem sentir e explicar. Raz é a segunda judoca do ranking mundial. Lutou 5 vezes com Bia e perdeu as 5. Em Paris, Bia impediu que Raz Hershko fizesse mais uma homenagem aos responsáveis pela hecatombe humana que acontece em Gaza e desta vez aos olhos de mais de 1 bilhão de telespectadores.
Parabéns, Bia!