Mais de 1.000 estudantes da USP realizam campanha contra vínculos acadêmicos com universidades israelenses
Estudantes acusam USP de cumplicidade no genocídio palestino e exigem rompimento de convênios acadêmicos. Leia a nota do ESPP-USP (Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino)
ESPP-USP (Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino)
Um grupo de mais de 1.000 estudantes, funcionários e professores da Universidade de São Paulo (USP), juntamente com 25 entidades estudantis e o Sindicato dos Trabalhadores da USP, está se mobilizando para exigir o rompimento dos acordos acadêmicos da universidade com instituições israelenses, que, segundo os manifestantes, estão envolvidas no genocídio do povo palestino.
A campanha foi organizada pelo Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino da USP (ESPP-USP), criado em 2014. A iniciativa, que conta com um abaixo-assinado que será direcionado à Reitoria da Universidade e à Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, busca que a USP implemente um boicote acadêmico às universidades israelenses, seguindo os princípios do movimento internacional BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), um chamado internacional de boicote a Israel feito pela sociedade civil Palestina em semelhança ao movimento de boicote que pôs fim ao apartheid na África do Sul.
O ESPP-USP, grupo estudantil que organiza essa ação, critica os acordos entre a USP e instituições de ensino que, de acordo com os estudantes, fornecem suporte intelectual à ocupação israelense e colaboram com a violação dos direitos humanos de milhares de palestinos.
“Por meio de seus acordos com universidades israelenses envolvidas no genocídio palestino, a Universidade de São Paulo se torna cúmplice do projeto que já matou mais de 40 mil palestinos, e bombardeou e feriu mais centenas de milhares”, disse um membro organizador do comitê.
O manifesto da campanha, que já conta com o apoio de mais de 1.000 estudantes, funcionários e professores da USP, pede a rescisão imediata do acordo entre a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e a Universidade de Haifa, além de solicitar que a USP não renove dois acordos em vigor com a Universidade Hebraica de Jerusalém que encerram ao final de 2024.
Conexões controversas com Israel
O acordo entre a FFLCH-USP e a Universidade de Haifa, com validade até 2026, é um dos principais alvos das críticas. A Universidade de Haifa abriga o departamento de Geoestratégia, fundado por Arnon Soffer, um dos ideólogos da construção dos muros que cercam Gaza e das políticas de assentamentos nas Colinas de Golã, amplamente condenados pela comunidade internacional. Soffer ficou conhecido pela fala: “Quando 2,5 milhões de pessoas estiverem presas em Gaza, será uma catástrofe humana. Essas pessoas irão virar mais animais do que já são hoje […]. Será uma guerra terrível. Se quisermos sobreviver teremos que matar, matar e matar. Todo dia, o dia todo. O que garante a paz não é a separação unilateral, mas sim um Estado Judeu-Sionista com maioria esmagadora de judeus”. Uma menção honrosa ao geógrafo considerado um dos maiores contribuidores intelectuais para o projeto de tomada das terras palestinas é posta no site do departamento de Geoestratégia da Universidade de Haifa.
Por outro lado, a Universidade Hebraica de Jerusalém, que mantém dois convênios com a USP, tem histórico de apoio ao Exército Israelense e ao Serviço de Segurança de Israel. A Universidade Hebraica de Jerusalém oferece bolsas a estudantes e funcionários que serviram no exército israelense[1], que, segundo o manifesto, estão diretamente envolvidos em ataques e assassinatos de civis palestinos como ferramentas de genocídio. Além disso, a instituição participa de programas em colaboração de mais de uma década com a Divisão de Inteligência Militar de Israel, em que seus estudantes são recrutados e servem ao exército israelense como “espinha dorsal” desse órgão militar, conforme explicado por Yishai Fraenkel, vice presidente e diretor geral da Universidade[2]. Essa situação, segundo os organizadores do protesto, torna essa instituição acadêmica em participante ativa no genocídio palestino, e reivindicação dos estudantes é que a universidade não renove os acordos acadêmicos vigentes.
Os estudantes da USP argumentam que a manutenção de acordos acadêmicos com essas universidades israelenses implica em uma cumplicidade da maior universidade do Brasil com a violenta ocupação israelense e o massacre contínuo de civis palestinos.
Segundo os estudantes de diversas graduações e que compõem o ESPP-USP, “ambas as instituições citadas participam do processo de expansão das terras ocupadas por Israel e, por consequência, da expulsão e morte de milhares de civis palestinos“. Ainda comentam que “o conhecimento científico produzido por tais universidades é convertido em ferramentas de colonização e de assassinato de civis palestinos”, e destacam que “enquanto universidades e escolas palestinas são destruídas[3] e jovens palestinos veem suas oportunidades de educação reduzidas a zero, a USP opta por manter e continua a fortalecer laços com instituições israelenses que contribuem para o apartheid, a limpeza étnica e a colonização de territórios palestinos”.
A campanha do ESPP-USP, em parceria com a Frente Palestina São Paulo, segue ganhando força. Com o apoio crescente de mais de 1.000 estudantes, a iniciativa demanda que a USP rompa suas relações com universidades israelenses que participam, direta ou indiretamente, da ocupação e da violação dos direitos humanos na Palestina. O coletivo de judeus antissionistas brasileiros, Vozes Judaicas por Libertação, tambem apóia a campanha e reforca que a luta antissionista não é uma medida antissemita, mas sim uma legitima defesa dos direitos humanos.
Para formalizar a reivindicação, os estudantes irão realizar no início de Novembro a I Feira Palestina da USP, com atividades acadêmicas, políticas, artísticas e culturais, que culminaram na entrega do abaixo assinado ao Reitor e de um ato político a ser divulgado ainda em suas redes sociais.
Para mais informações, acesse o manifesto completo
[1] https://en.huji.ac.il/scholarships
[2]ttps://www.washingtonjewishweek.com/from-medicine-to-high-tech-how-the-hebrew-university-of-jerusalems-unique-partnership-with-israel-defense-forces-is-bettering-the-world/
[3] Nos primeiros 100 dias desta guerra, todas as 12 universidades em Gaza foram bombardeadas e destruídas total ou parcialmente. A Universidade Israa, a última universidade restante em Gaza, foi demolida pelos militares israelenses em 17 de janeiro de 2024, após ter sido invadida e transformada em base militar da ocupação.- Fonte: Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACNUDH), ONU.