Nordeste

Maceió segue afundando cinco anos após a tragédia da Braskem

PSTU - Alagoas

19 de junho de 2024
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Bairros no entorno da Braskem Mineração, tiveram suas casas danificadas pelas rachaduras provocadas pelo afundamento do solo | Foto: Reprodução Internet

Manoel Moisés Santos, operário aposentado da Braskem

A Braskem, uma das maiores e mais lucrativas empresas petroquímicas do mundo, controlada pelo grupo Novonor, antigo agrupamento empresarial Odebrecht, e a Petrobrás, protagonizou a maior tragédia ambiental anunciada do mundo, na cidade de Maceió, levando mais de sessenta mil habitantes de cinco bairros destruídos ao desespero econômico, social e psíquico.

Pessoas que abandonaram suas casas, seus comércios em troca de uma indenização pífia, deixando para trás toda uma história de vida por conta da ganância do lucro a todo custo, típico de toda sociedade sob o comando do modo de produção capitalista. Hoje, vivem o dilema de não terem a quem recorrer para rever seus dramáticos prejuízos, uma vez que às instituições tomaram partido, ficando do lado de quem, na verdade, dirige o Estado, os grandes empresários.

Os que ficaram de fora

Várias regiões no entorno da Braskem Mineração, que tiveram suas casas danificadas pelas rachaduras provocadas pelo afundamento do solo, fruto da extração do mineral Salgema, operação que provocou esse crime ambiental anunciado, uma vez que a cúpula da companhia sabia, desde muito tempo, das condições de insegurança nas minas de sal, não foram colocados no mapa das áreas afetadas. Moradores do Flexais de Baixo, Bom Parto, Vila Saem e da rua Marquês de Abrantes até hoje, quase 5 anos depois, não foram indenizadas. Esses moradores e moradoras vivem ilhados, sem acesso a transportes coletivos, comércio, postos de saúde e à segurança pública. Segundo eles, não existem perspectivas por parte da empresa de pagamento das devidas indenizações para que possam ser relocados para outros bairros e poderem recomeçar suas vidas.

Marisqueiras e pescadores à margem do sustento e do trabalho

As condições de trabalho dos pescadores e das marisqueiras foram deveras atingidas em razão da mortandade dos peixes e dos mariscos, como o sururu, por exemplo. Essas condições, antes inexistentes, vieram à tona a partir da poluição das águas da Lagoa Mundau. Esses trabalhadores e trabalhadoras foram impedidos de exercerem suas atividades laborais, dificultando a sobrevivência de si e de sua prole.

Muitas manifestações foram realizadas exigindo da criminosa Braskem o pagamento de valores referentes aos meses não trabalhados pelos operários e operárias da pesca e também ações judiciais foram ajuizadas com o mesmo objetivo. No entanto, o Judiciário ficou do lado dos ricos e poderosos politicamente, deixando um número significativo de pescadores e marisqueiras em condições de miserabilidade sem, ao menos, terem o que comer. O socorro só chegou algum tempo depois pelo governo federal, livrando empresa e empresários de pagarem pelos males causados aos trabalhadores e ao meio ambiente.

Além disso, outros atos e manifestações foram organizados, em Maceió, com o propósito de denunciar os crimes cometidos pela Braskem, que não começaram com esse e nem pararam com eles. Muito antes desse crime em baila, várias toneladas de cloro foram jogadas na atmosfera pela fábrica localizada no bairro do Pontal da Barra, impactando, com isso, o meio ambiente, em especial a camada de ozônio, contribuindo com o aquecimento global. A falta de manutenção, bem como a falta de pessoal na linha de produção, que tomaram corpo logo após a privatização da Salgema, em 1996, no governo de Itamar Franco, são os ingredientes que norteiam as agressões ao meio ambiente e ao conjunto da classe trabalhadora.

O Senado Federal, com o propósito de evitar mais manifestações, deu início a uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para chegar aos culpados pela tragédia. Mas, os responsáveis já eram conhecidos por todos, a Braskem.

O mês de junho, época de comemoração das festas de São João, desde que tudo aconteceu, vem sendo um período de muita frustração para os moradores de Bebedouro, um dos bairros atingidos. Segundo relatos de vários moradores, a missa do dia 12 de junho, na praça Lucena Maranhão, teve alteração de local pela Defesa Civil. A atitude dessa instituição é mais uma de tantas que serviram para favorecer aos interesses da empresa que, dentre outras coisas, quer esconder os estragos causados na região em nome dos lucros vultuosos. Nem a cultura é poupada. As consequências vão do isolamento à falta de serviços, da perda de direitos ao desemprego, da perda de memória à desestruturação social.

Reestatização, indenização e recuperação do meio ambiente já

O processo de privatização da Salgema começou em 1996 e continua até hoje. Novonor, atualmente, controla 50,1%, a Petrobrás 47% e “outros” 2,9%.

Para nós do PSTU, é condição sine qua non reestatizar a Braskem, tornando-a cem por cento estatal e sob o controle dos trabalhadores, para devolver tudo o que foi subtraído dos moradores dos cinco bairros destruídos pelas ações da maior petroquímica brasileira, antes que eles se utilizem das área arrasadas para multiplicar suas riquezas por meio do capitalismo imobiliário.

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