Lula, menos preconceito, machismo e meritocracia, e mais respeito à luta de classes!
Lula, sou ajudante geral, casado com metalúrgica e também ajudante geral no ABC, pai de três filhas, todas na universidade. Nosso mérito é nossa luta contra a exploração e a opressão capitalista. Sem vacilações e com respeito à nossa classe!
Nesta quarta-feira, o presidente Lula deu mais uma lamentável declaração ao defender investimentos em educação, durante uma visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Infelizmente, não é mais novidade a fala preconceituosa, machista, desequilibrada e sem compromisso com a classe trabalhadora de Lula em grandes eventos populares junto à direita e à burguesia.
Para ressaltar a importância da formação profissional, Lula sacou essa pérola: “Se a gente não tiver profissão, a gente vai ser ajudante geral e ajudante geral não ganha nada“. E continuou: “Nenhuma mulher quer namorar com um cara que mostra carteira profissional, qual é a sua profissão? Ajudante geral.” E seguiu: “Mas em fábrica a gente sabe que a gente tem que ter uma profissão. Se a gente não tiver profissão, a gente vai ser ajudante geral e ajudante geral não ganha nada“. E finalizou: “A mulher fala: ‘Pô cara, nem uma profissão você tem, para levar o feijão e o arroz para casa no final do mês, e as crianças que vão nascer, como é que a gente vai cuidar?’ Então, tem que estudar.”
Machismo e preconceito
Toda problemática dessa declaração não está apenas em torno do argumento da meritocracia, mas está revestida do mais puro machismo, ao inferiorizar o papel da mulher colocando-a como economicamente dependente dos homens, e que acaba legitimando o papel de subordinação intelectual e financeira das companheiras nas relações afetivas.
Poderíamos até estranhar que Lula use tais argumentos ao sacar a mesma lógica que a burguesia o tratava em sua trajetória política, quando o acusava preconceituosamente de ser incapaz de dirigir a Presidência por não ter diploma universitário. O que mudou ao Lula adotar critério semelhante? Provavelmente, sua prática de conciliação de classes e compromissos com a direita e a burguesia, que, necessariamente, atinge sua consciência e produz declarações lastimáveis como essa.
Reformas trabalhistas, previdenciária e ataque aos direitos dos trabalhadores
Mas é preciso localizar outras contradições e incoerência em sua declaração. E afirmar, obviamente, que a formação profissional é um objetivo comum em nossa classe, porém, inacessível a uma parcela considerável da população em geral. E, ao mesmo tempo, encarar essa realidade objetivamente com a precarização em geral da remuneração, qualificação e direitos trabalhistas e previdenciários nos últimos 20 anos em nosso país. E que coincide com medidas apoiadas amplamente pelos governos petistas de Lula e Dilma através das reformas trabalhistas e da Previdência em seus governos e nos demais.
Hoje, as qualificações exigidas dos trabalhadores não correspondem necessariamente a melhores remunerações ou ampliação de direitos, principalmente das mulheres e negros no mercado de trabalho. O PT, Lula, a CUT e demais burocracias sindicais são conscientemente garantidores dessa precarização, pois atendem a lógica do mercado global de trabalho e suas divisões de tarefas ao redor do mundo. Com o padrão chinês de produção e exploração, com o trabalho informal ou autônomo, englobando a lógica da “uberização” dos trabalhadores formais, profissionalizados técnica ou academicamente, cada vez mais com rebaixamento de salários e direitos, portanto, o diploma profissional não é, lamentavelmente, nenhuma garantia de bem-estar familiar ou de futuro aos nossos filhos, sobrinhos e netos.
Qualificar a luta de classes, suas direções para romper com ao lógica capitalista
Essa compreensão meritocrática, preconceituosa e machista só serve para justificar a inoperância das burocracias sindicais e políticas na necessidade de avançar na luta de classes contra o imperialismo, a burguesia e todos seus ataques aos nossos direitos e conquistas das lutas históricas da classe trabalhadora. Que, inclusive, historicamente, Lula e seus companheiros fizeram parte e ignoram hoje em nome da conciliação de classe com a direita e sua burguesia escravagista e colonialista. Portanto, reconstruir uma direção política e sindical para enfrentar não somente os patrões e o Estado são fundamentais para derrotar as práticas e discursos como esse de Lula e sua turma, que a invés de avançar na luta de classes contribui para nossa derrota dia-dia.