Lições de um ano de guerra na Ucrânia. Só a classe operária pode conduzir à vitória
Declaração da LIT-QI
A invasão e ocupação do Exército russo começou como uma “operação militar especial” que tinha o objetivo declarado de derrubar em algumas “poucas semanas” o governo ucraniano e “libertar o povo” da Ucrânia, “desnazificando” e “desmilitarizando” o país. Tanto Putin, como os governos imperialistas, viam este objetivo como absolutamente provável. No entanto, a realidade é que a guerra contra os ocupantes se prolongou e já completa um ano. E o fator fundamental que desbaratou os planos é a heroica resistência da classe operária e do povo trabalhador ucraniano. Nossa posição desde o início foi, é e será apoiar essa resistência, e a partir desse eixo e localização chave, desenvolvemos os demais elementos de nosso programa: a exigência do fornecimento de armas pesadas e tecnologia militar à Ucrânia para que possa derrotar a invasão, a oposição a toda intervenção da OTAN e aos orçamentos de rearmamento imperialistas, o apoio às ações contra a guerra na Rússia, a denúncia do governo burguês de Zelensky, em particular de suas medidas antioperárias, que debilitam a resistência da classe trabalhadora e sua subordinação a Biden e à UE. E o mais importante: a necessidade da auto-organização independente da resistência operária ucraniana e de uma campanha internacional de apoio material e político a esta. E todos os nossos esforços e programa estão orientados para a vitória militar e política da resistência operária ucraniana.
A agressão de Putin à Ucrânia foi preparada com muita antecipação e camuflada como “exercícios militares” junto às fronteiras da Ucrânia. O regime russo denunciou como vis calúnias do “Ocidente”, as advertências de que preparava a invasão. Quando, em 24 de fevereiro, invadiram por várias frentes e, inclusive, o desembarque de paraquedistas nos arredores de Kiev, tentaram justificá-lo como uma medida defensiva devido à “expansão da OTAN para o Leste”, que se aproximava ameaçadora junto às suas fronteiras. A expansão da OTAN é uma realidade reacionária e inegável. Mas não é o motivo real da invasão. As repúblicas do Báltico, Estônia, Letônia e Lituânia se integraram à OTAN e estão muito mais próximas de Moscou e São Petersburgo. E depois da invasão à Ucrânia, Suécia e Finlândia, países historicamente neutros, pediram seu ingresso à OTAN. A verdade é que se trata da desculpa de um conflito entre as aspirações coloniais do regime oligárquico de Putin sobre o espaço da ex URSS, o Cáucaso e Eurásia e as de outras potências, inclusive China. Por tras da invasão estão os interesses econômicos e financeiros dos oligarcas russos e seus monopólios na Ucrânia.
Putin se enfurece argumentando que as potências da OTAN impuseram na Ucrânia um regime político ilegítimo, que era produto de um “golpe de Estado” em 2014. Assim, Putin e todo o espectro restante do estalinismo mundial denominaram o levante popular de Maidán, um processo muito contraditório pela falta de uma direção revolucionária, mas que enfrentou durante 5 meses a tentativa autoritária e neoliberal do presidente, o oligarca pró-russo Yanukovich e a repressão com um saldo de numerosos mortos. Este finalmente fugiu do país e pela via da reação “democrática” o processo foi canalizado para uma mudança de governo burguês com a eleição do rico empresário “chocolateiro” Poroshenko. Na eleição seguinte chega ao poder Zelensky, reafirmando a subordinação ao FMI e à UE. Mas, apesar do desvio reacionário e da pandemia, entre 2014 e 2022, a correlação de forças entre as classes na Ucrânia manteve níveis de lutas operárias importantes contra seus governos, que representavam um estímulo para as massas da região e uma ameaça para ditaduras vizinhas como Lukashenko e o próprio Putin.
A Ucrânia trava uma guerra de libertação nacional
Com o passar das semanas e meses, foram sendo derrubados todos os prognósticos e os mitos que alimentaram alternativamente o regime de Putin e as potências imperialistas. O próprio governo ucraniano reconhece que nos primeiros dias pensavam que sua derrota seria iminente. Transcendeu que emissários do governo dos Estados Unidos ofereceram asilo a Zelensky no exterior, como governo no exílio. As cadeias de notícias focavam sua atenção nas fotos e vídeos dos desalojados e refugiados que abandonavam o país aos milhões. Mas, também tiveram que registrar o fenômeno que mudou tudo: a valente mobilização massiva do povo trabalhador das mais diversas idades, em Kiev e outras cidades, que repudiavam ativamente a presença das tropas invasoras e iniciaram uma heroica resistência, armada e desarmada. As barricadas e as defesas territoriais e um tempo depois, grupos partisanos nas regiões ocupadas, foram sendo formadas e se estenderam como um rastilho.
E essa resistência, composta por voluntários, exigiu armas nos distritos militares e foi enfrentar os invasores, os tanques e blindados com coquetéis “molotov”. Temos testemunhos diretos da cidade de Kiev e da região suburbana. Ali as massas se aglomeravam exigindo armas e, em muitos casos, ultrapassaram o controle dos arsenais. Os vizinhos de cada bairro organizavam rondas e guardas para detectar os mercenários estranhos, que Putin havia infiltrado meses antes para marcar objetivos de bombardeio. Pouco a pouco as defesas territoriais foram se fundindo com o exército regular ucraniano. Com o avanço da resistência, os ocupantes foram deslocados para a fronteira com Belarus, com inumeráveis baixas de suas tropas de elite e deixando em sua fuga um tendal de equipamentos militares.
Nos territórios recuperados pelos ucranianos, ficou evidente a barbárie dos invasores: a descoberta macabra de centenas e centenas de cadáveres de civis, executados com tiros na nuca e as mãos atadas nas costas, depois de terem sido torturados em porões onde funcionavam centros de interrogatórios e extermínio. Assim, todo o mundo pode ver a aberrante verdade sobre a invasão. Assim começaram a ser derrubados, como castelos de cartas, os mitos sobre a “operação militar para libertar o povo” da opressão do “governo nazista de Kiev”. Tudo isto confirma que na Ucrânia se trava uma guerra de libertação nacional contra a agressão da segunda potência militar do mundo.
Eurásia: um epicentro da luta de classes mundial
A guerra no território ucraniano prolongou-se no tempo, superando os prognósticos do regime de Putin e de todos os imperialismos. Por que? Porque se apoia centralmente em uma poderosa resistência operária e popular que, apesar dos limites que a direção burguesa lhe impõe, enfrenta a invasão e questiona objetivamente a estabilidade de toda a Eurásia. Como não podia ser de outra forma, o prolongamento da guerra e a inquebrantável vontade de luta da classe operária e do povo ucraniano, agravaram as contradições interimperialistas dentro da UE e dentro da OTAN, e agravaram a crise da ordem mundial. E a instabilidade se refrata, não apenas na Europa Ocidental, mas também em outros continentes. Assim, vemos processos de luta, como a greve geral na França, a onda de greves na Grã-Bretanha… como também os processos de luta nas semicolônias, em diversas regiões, pelo aumento do preço do combustível e do trigo. Na América Latina, são exemplos o Equador e os confrontos agora no Peru.
Os imperialismos dos EUA e Europa usam a guerra para seu própio rearmamento
Tanto Biden como os governos da UE têm usado a guerra para rearmar seus exércitos imperialistas, atualizar seu armamento enquanto enviam material militar a conta-gotas para a Ucrânia. Tal “ajuda” deve ser denunciada pelo seu caráter essencialmente imperialista: não envia o armamento que o povo ucraniano lhe exige, ao qual se recusa por considerar de igual para igual, nem busca dar armas equivalentes, mas trata o povo ucraniano como um aliado de segunda classe, enviando, nesta guerra como em todas as demais, armamento obsoleto, em pouca quantidade e no ritmo que lhe convém para administrar o conflito e pressionar para negociar à custa das vidas do povo ucraniano.
A prova deles é que todos os orçamentos de “ajuda” material à Ucrânia são inseridos em pacotes que dão um aumento descomunal ao rearmamento dos exércitos imperialistas e do gasto militar à custa de cortes nos programas sociais que respondem às necessidades imediatas dos trabalhadores. Este é outro sintoma chave que esta guerra agrava, a crise da ordem mundial e da hegemonia estadunidense. Deste modo, para 2023, o orçamento da OTAN aumentou pelo oitavo ano consecutivo, desta vez com um salto histórico de 27,8% para o orçamento civil e 25,8% para o militar em comparação a 2022. Os países da OTAN dispostos a alcançar 2% no gasto militar do PIB (compromisso formal desde 2014) foram multiplicados por dois desde o início da guerra, e agora um núcleo de países hoje defende elevar o compromisso para 2,5% ou 3%. A UE, buscando certa autonomia militar frente aos EUA, ressuscitou a Agência Europeia de Defesa aumentando seu orçamento em cerca de 15% para investir em maiores projetos de cooperação conjuntos.
A ajuda material para a resistência ucraniana hoje não depende do aumento do orçamento militar como a propaganda imperialista propõe
Por isso, nos opomos categoricamente a todos os orçamentos militares dos governos imperialistas da OTAN e às tentativas destes de apresentarem-se como verdadeiros aliados do povo ucraniano e partisanos da “paz”, exigimos o envio incondicional de armas para a resistência para derrotar o exército ocupante.
Por outro lado, fazemos um chamado à classe trabalhadora na Europa, nos EUA e no resto do mundo para dar toda a ajuda material possível à resistência ucraniana. Fazemos este chamado à solidariedade ativa com um critério de independência de classe, delimitando-nos da atuação dos governos, opondo-nos a qualquer intervenção direta da OTAN no conflito, aos planos de “reconstrução” e de endividamento que a UE e o FMI promovem e rejeitando que o proletariado participe em alimentar o financiamento dos exércitos imperialistas.
Contra os invasores de Moscou e contra os ataques desde Kiev
As mudanças nos tempos da guerra têm crescentes consequências para a luta de classes no interior da Ucrânia. A classe operária sacrifica suas vidas na frente de combate contra os ocupantes e recebe golpes pelas costas na retaguarda. O povo trabalhador suporta um permanente martírio, com saldo de mortos e feridos pelos constantes bombardeios sobre suas casas, escolas e hospitais. A destruição da infraestrutura essencial, com cortes de eletricidade diários, falta recorrente de água, calefação e drenagens, pioram ao extremo as condições de vida.
E por outro lado, à carestia dos produtos básicos – uma inflação de quase 50% desde o início da guerra – se somam os cortes salariais, as suspensões e demissões e – a partir de leis recentemente votadas e promulgadas por Zelensky – os ataques aos direitos e benefícios sociais, conquistados durante anos pela classe operária. Esta penúria crescente, combinada com os ataques por parte do governo a serviço da burguesia, o saque colonial e a corrupção, golpeia e debilita o principal fator social da resistência: o povo trabalhador.
Ademais, foram votadas leis que endurecem a verticalidade de comando no exército, com castigos mais severos aos soldados rasos e sanções no processo de recrutamento. A classe operária e o povo explorado continuam sendo os maiores doadores de novos soldados para a frente. E as crescentes tensões sociais se refletem na frente. Ainda assim, predomina uma alta moral de combate e a convicção de obter a vitória. Porque há consciência de que se está lutando para serem livres.
Entretanto, como se faltassem fatores de indignação, as massas enfrentam a corrupção galopante nas classes dominantes e altas esferas do Estado em todos os níveis. Alguns escândalos retumbantes vieram à tona, que foram respondidos por Zelensky com purgas em diversos altos níveis do governo. Recentemente, se propôs com muita insistência a possível renúncia do ministro de defesa Riéznikov, depois que vieram à tona algumas grotescas superfaturações com compras de “toneladas de ovos”. Enquanto o país sangra em uma guerra desigual, os diversos clãs de oligarcas se concentram na rapina e na nova distribuição da propriedade de indústrias e recursos naturais. Crescem a desigualdade social e a desconfiança entre as massas em relação às instituições do estado, com uma relativa exceção das forças armadas. Ao ódio nacional ao invasor se soma o ódio de classe aos ucranianos privilegiados.
As vitórias militares ucranianas e a pressão de Biden-Scholz pela “paz”
O significativo avanço – no verão e outono do hemisfério Norte – na região de Kharkov e a fuga das tropas russas com abandono de tanques, equipamentos militares e munições, permitiu à Ucrânia a maior recuperação de território em curto espaço de tempo de toda a guerra. Por outro lado, com a retirada de 20 mil soldados russos da margem direita do Dnieper, foi recuperada a cidade de Kherson e uma importante faixa de terras férteis que chega até o mar Negro. Também foram alcançados alguns avanços ucranianos menores no Donbass. A Rússia chegou a ocupar, em março de 2022, 30% do território da Ucrânia. Hoje ocupa cerca de 15%.Todas estas vitórias da resistência, produziram uma importante crise no alto comando russo e repercussões no regime de Putin. Entretanto, a falta de armamentos adequados tem impedido converter estas vitórias em uma ofensiva que derrote as tropas de ocupação. Em vez disso, estas vitórias militares foram acompanhadas por uma redobrada pressão dos imperialismos e em particular do hegemônico EUA para iniciar negociações.
As massas da Rússia estão oprimidas e reprimidas, mas uma grande parte rejeita a guerra
Na Rússia, durante setembro de 2022, ocorreu uma comoção com o recrutamento compulsório, que produziu uma mudança significativa na atitude de um setor crescente das massas operárias e populares em relação ao regime. Embora ainda só se expresse na rejeição passiva à guerra e em algumas ações isoladas e defensivas nas regiões mais sacrificadas pelo recrutamento, onde as mães dos soldados e recrutas cumpriram um papel destacado. O operativo compulsório do governo para mobilizar 200 mil recrutas, foi respondido com a fuga do país de mais de meio milhão de homens em idade de serviço militar para não serem “carne de canhão”. E outras centenas de milhares se esconderam ou se engenharam para evadir -das formas mais diversas – de serem obrigados a ir à guerra. As notícias com crescentes evidências – apesar da feroz censura – sobre os mais de 100 mil soldados da Federação Russa mortos no território da Ucrânia – maioria das nacionalidades oprimidas não russas e dos povos recônditos mais afastados das grandes capitais – e os milhares que se entregaram prisioneiros sem resistir, revelaram dentro da Rússia, que a “Operação Militar Especial” é na realidade uma guerra de agressão colonial e de saque e que enfrenta um povo armado.
E esta rejeição passiva, porém massiva, se reflete no estado da Federação Russa e em suas forças armadas. Assim, a segunda potência militar mundial não só revela diante do mundo inteiro sua fragilidade frente à resistência armada do povo ucraniano, mas também mostra a putrefação do regime de Putin, que nesta guerra (como antes na Síria e África) se apoia, como força principal de combate, na Companhia Militar Privada (CMP) Wagner, formada por mercenários e criminosos ex condenados e cujo dono é um oligarca mafioso, conhecido como o “cozinheiro de Putin”, que hoje disputa a hegemonia com o comandante do Exército e o Ministro da Defesa.
O inverno trouxe um impasse militar
Produto da demora e chantagem imperialista em relação ao envio de armamentos defensivos e ofensivos, Putin conseguiu impor uma mudança no tipo de guerra: desgaste e destruição sistemática da infraestrutura essencial e assassinatos à população civil, com os bombardeios ininterruptos em quase todo território ucraniano. Ocorreu um certo impasse em quase todas as frentes. A batalha pela cidade de Bajmut no Donbass, que ainda continua controlada pela Ucrânia, é sua expressão mais destacada. Há alguns avanços dos invasores, como a captura do povo de Soledar, muito mais simbólicos que estratégicos para Putin e a CMP Wagner, que vêm de sucessivas derrotas e de relevar ao comandante militar da operação, apelidado “o carniceiro de Aleppo”, General Surovikin. E para ocupar esse pequeno povoado há mais de um mês de encarniçados combates, com um saldo de milhares de baixas entre as tropas.
Enquanto os imperialismos anunciam tardiamente envios de tanques e outros armamentos, que não está evidente quando estarão operacionais no campo de batalha, Putin recebeu de presente janeiro todo para reorganizar suas tropas para uma contraofensiva na primavera. Não por acaso assistimos agora uma nova chantagem imperialista, desta vez encabeçado pelos EUA e seus “especialistas militares”, para obrigar a Ucrânia a entrar em um “processo negociador”. Ou seja, pressionam para aceitar concessões aos ocupantes em relação à sua integridade territorial.
A resistência e o moral do povo ucraniano é o principal obstáculo para os planos de Putin, como também assim é para a política dos imperialismos de dividir o território da Ucrânia e que Zelensky execute esses planos.
Os “pacifistas” que servem a Putin e… à UE e à OTAN!
Nesse marco, hoje setores “pacifistas”, que em todos os países –menos na Rússia– agitam, Não à guerra! são agentes encobertos de Putin e também numerosos grupos que começaram gritando “Nem Putin Nem OTAN”…transformaram seu “Nem” em Nem um tanque para a Ucrânia! E se calam diante dos milhares de tanques russos sobre o terreno. Ficam a descoberto: são o coro da “esquerda” do imperialismo e da OTAN. Porque a UE financia indiretamente o exército de Putin. As compras de petróleo e gás da maior parte dos países membros da OTAN, aumentaram desde o início da guerra, já que para o regime de Putin entram 640 milhões de euros por dia da venda do petróleo russo para a União Europeia.
Tanto Biden como Sunak e Macron procuram debilitar militar e economicamente a Rússia, sangrando seu aparato militar; entretanto, enviam a ajuda militar a conta-gotas, pressionam Zelensky para que aceite um “cessar fogo” e buscam uma paz que sirva aos interesses imperialistas, à custa de manter a ocupação de uma parte do território ucraniano, que mantenha o regime de Putin que é o carcereiro dos povos na Eurásia. Se trama uma “paz”, traindo a resistência ucraniana, e preparando o terreno para o saque dos futuros “planos de reconstrução”. O povo ucraniano deseja mais que ninguém que acabe a guerra. Porém ao mesmo tempo, mais de 85% da população se opõe firmemente a toda paz que implique anexações e legitime a ocupação de Putin. A única paz justa para esta guerra justa de libertação nacional travada pela Ucrânia, é uma paz que garanta a unidade territorial da Ucrânia e sua plena independência da Rússia, da UE e EUA.
A vitória é possível se a classe operária tomar em suas mãos a direção da resistência
A resistência operária e popular armada ucraniana se choca cada vez mais com o regime e o governo semicolonial, que representa os diversos grupos oligárquicos, sócios das corporações imperialistas. A direção política do confronto militar, o governo de Zelensky, conspira contra a vitória do povo ucraniano. A esmagadora maioria do povo quer a vitória. E quanto maiores sacrifícios e mortes, maior é a rejeição à entrega de parte do país. A classe operária deve tomar em suas mãos a direção da resistência aos invasores, levantando um programa revolucionário.
Estamos diante da necessária e possível combinação da guerra de libertação nacional com a luta pela independência política da classe operária pela sua libertação social. E é esta a combinação que teme o ex -coronel da KGB, o agora presidente Putin. No início da invasão, em um momento de verborragia delirante, disse “A Ucrânia é uma invenção de Vladimir Lênin”.Sentenciou “A Ucrânia não tem sentido como estado, como país independente”. E suas palavras revelam sua “nostalgia czarista”. Mas mostram ao mundo muitas coisas mais: o curto período da Ucrânia Independente se iniciou com a revolução dos soviets em 1917. E a independência real – a única conhecida na história do país–só se concretizou com o poder nas mãos da classe operária e dos camponeses ucranianos armados e por uma evidente política sobre a autodeterminação nacional dos bolcheviques.
Um programa de ação na Ucrânia
- Se a guerra é de todo o país, que todos se sacrifiquem! Milhares de trabalhadores se congelam nas trincheiras da frente, enquanto as empresas suspendem os trabalhadores e cortam os salários pela metade na retaguarda. Os que vão para a frente, recebem salários miseráveis e suas famílias ficam na intempérie, enquanto os ministros de Zelensky andam em carros de luxo ou passam o Natal na Espanha e a deputada Julia Timoshenko toma sol na praia de Dubai.
- Destinar todos os recursos do país a serviço da vitória militar contra os ocupantes! Prioridade de recursos para os soldados e os membros das defesas territoriais! Salários plenos e orientar toda a força de trabalho disponível na indústria para a defesa!
- Nacionalização de todas as empresas vinculadas à defesa nacional, sob o controle dos trabalhadores!
- Frear a arbitrariedade dos comandos militares! Respeito à tropa que dá sua vida nas trincheiras! Respeito à autonomia das defesas territoriais! Até agora as vitórias militares ucranianas se devem somente ao sacrifício e esforço do povo trabalhador. Esse povo sabe que de todos os modernos e poderosos armamentos que são mostrados pela TV ocidental, só chegaram alguns com atraso e a conta-gotas, exigimos Armas à Ucrânia!
- Combate à corrupção a cargo dos que estão na frente! Todas as compras das FFAA sob controle de comitês de soldados eleitos nos próprios regimentos!Os recursos para a guerra contra os ocupantes, tanto externos como internos, são desperdiçados com lucros, corrupção e pilhagem da propriedade estatal! O governo fracassa no combate à corrupção. Releva alguns funcionários e os troca por outros igualmente corruptos ou incapazes. Recursos há. O povo recolheu fundos massivamente para o Exército. Pensão urgente para os familiares dos falecidos e assistência gratuita aos feridos e suas famílias!
- Não ao pagamento da dívida externa! A Ucrânia está em guerra contra uma invasão e ocupação genocida de uma ditadura. Exijamos do FMI e do Banco Europeu a remissão de sua dívida externa! Revelemos a hipocrisia das potências imperialistas que declaram apoio e se preparam para cobrar a conta com lucros usurários.
- Não à entrada na OTAN ou na UE! No decurso da guerra, a OTAN deixou evidente que a “ajuda material” nem esteve à altura nem responde às necessidades urgentes da resistência ucraniana, e isso se deve a que tal “ajuda” obedece na realidade aos interesses dos imperialismos europeus e estadunidense, e tem como objetivo último fazer recuar a dominação do regime russo sobre a Ucrânia para substituí-la pela dominação da UE. Os planos de “reconstrução” acordados entre Zelensky, a UE e o FMI aprofundarão o caráter semicolonial do estado ucraniano. Por isso, é importante defender a integridade territorial da Ucrânia realmente unida, independente e livre.
- Expropriação de todos os ativos dos oligarcas e empresas russas associados ao regime de Putin na Ucrânia! É um paradoxo indignante, que estando a Ucrânia invadida pela Rússia, não tenham sido expropriados os bens substanciais de seus numerosos oligarcas no país. Isso permitiria obter os recursos necessários sem endividar-se mais com o exterior e obter condições dignas para os soldados na frente e o povo na retaguarda.
- Pela organização política independente da classe operária! Só a classe operária ucraniana, aliada com o resto do proletariado europeu e mundial – e apelando em especial para a solidariedade dos operários de Belarus e da Rússia -, pode assegurar estas tarefas de defesa nacional em suas próprias mãos e conduzi-las à vitória. Para fortalecer a resistência dos operários ucranianos, devemos desenvolver todas as iniciativas de solidariedade atuais da classe trabalhadora internacional, como as da Rede Sindical de Solidariedade RSISL, da Rede Europeia de Solidariedade com a Ucrânia e da Rede de Solidariedade com a Ucrânia nos EUA.