Justiça por Julieta! Chega de feminicídio!
O chocante assassinato da artista venezuelana Julieta Ines Henandez Martinez, de 38 anos, causou comoção e expôs a brutal realidade de um país que figura nos primeiros lugares no assassinato de mulheres no mundo.
A forma covarde e bárbara com que Julieta foi assassinada diz muito sobre a violência cotidiana, principalmente das mulheres pobres e trabalhadoras, no Brasil. Vivendo no país desde 2017, Julieta era uma artista nômade, viajando de bicicleta e atuando como palhaça nos lugares pelos quais passava. Uma de suas personagens, a palhaça “Jujuba”, divertia crianças país afora. Seu último destino seria a Venezuela, onde reencontraria sua mãe depois de 7 anos.
Nas vésperas do Natal, amigos da venezuelana registraram seu desaparecimento na cidade de Presidente Figueiredo, no estado do Amazonas. O crime só seria desvendado no dia 6 de janeiro, com a descoberta do corpo da artista. Investigações apontam que Julieta foi assaltada e estuprada pelo dono da pousada em que pernoitava. O homem e sua esposa foram detidos.
O casal tem versões conflitantes sobre o crime. Uma delas afirma que o homem teria resolvido assaltar a artista, e decidiu estuprá-la. A esposa do criminoso, com ciúmes, teria, então ateado fogo nos dois. Segundo as notícias que já se tem, enquanto o homem se socorria num Pronto Socorro, a esposa teria enterrado a viajante no quintal. O absurdo do crime é tamanho que não se sabe, ainda, a real causa da morte de Julieta: se asfixiada por seu estuprador, queimada ou mesmo se foi enterrada viva.
Para além de toda essa brutalidade, fato é que Julieta foi violentada e morta por ser mulher. Engrossa as estatísticas de feminicídio que apontam que, só em 2023, quatro mulheres morreram diariamente no país, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em todo o ano, mais de 75 mil denúncias de violência foram realizadas à Central de Atendimento à Mulher pelo 180. Números estarrecedores mas, ainda assim, subestimados, já que a grande parte desse tipo de violência ocorre em ambientes domésticos, entre cônjuges ou pessoas já conhecidas, em que a pressão e abuso psicólogico dificultam ou impedem a denúncia.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve aumento de 14,9% nos casos de estupro, maior número desde 2020. Ou seja, se 4 mulheres são assassinadas por dia no Brasil, uma é estuprada a cada 8 minutos. Quando você terminar de ler este texto, mais uma mulher foi estuprada em algum lugar do país.
É necessário combater o feminicídio em todos os âmbitos. Neste sentido, é lamentável o governo Lula não ter revertido o corte de 70% nos recursos destinados ao combate à violência contra as mulheres realizado no governo Bolsonaro. A carência de políticas públicas de apoio e acolhimento às mulheres vítimas de violência também saltam aos olhos.
É preciso, enfim, dar o combate até as últimas consequências contra toda forma de machismo e opressão. Uma luta a ser levada a cabo não só pelas mulheres trabalhadoras organizadas, mas todas as entidades de classe, sejam sindicatos, associações de bairros, etc. Para que mulheres não sejam vítimas de violência e feminicídio dentro de seus próprios lares, nem nas ruas e estradas, e que tenham o direito básico de existirem sem serem mortas por serem mulheres.
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