Justiça gaúcha defere liminar do grupo Zaffari contra o PSTU
A rede de hipermercados ingressou com uma ação judicial – “interdito proibitório” – visando impedir novas manifestações contra a superexploração dos trabalhadores e trabalhadoras praticada pelo grupo, particularmente na jornada de trabalho chamada “escala 10X1”
Direção do PSTU-Porto Alegre
Foi deferida, pela Justiça gaúcha, uma liminar que impede novas manifestações dentro das dependências do Zaffari, como estavam ocorrendo. A iniciativa do Zaffari é um atentado contra a liberdade de manifestação e opinião, com o objetivo de manter uma jornada de trabalho desumana.
O PSTU não se calará e continuará denunciando essa arbitrariedade praticada pelo grupo Zaffari, chamando os trabalhadores a continuarem mobilizados.
Um império desumano, ganancioso e antidemocrático
O grupo Zaffari é um dos maiores oligopólios empresariais do estado do Rio Grande do Sul. Em 2023, faturou R$7,6 bilhões, à custa da exploração dos seus trabalhadores e da monopolização da rede de mercados.
Todos os pequenos comerciantes, mercados varejistas de bairros, são sufocados pelo império Zaffari. São constantes as denúncias de obras e instalações em suas unidades que ameaçam inclusive o meio ambiente.
No momento, por exemplo, o Ministério Público está investigando a instalação de um centro de compras numa área verde de 52,9 hectares, que engloba algumas Áreas de Proteção Permanente (APP) e nascentes, no bairro Jardim Sabará.
E, agora, o grupo quer impedir que sejam realizadas manifestações que denunciem as atrocidades cometidas a serviço da ganância pelo lucro. Pediram, na Justiça, para que sejamos proibidos de nos aproximarmos, a menos de 200 metros, de qualquer loja do Zaffari, sob pena de uma multa de R$ 10 mil. E, pior, foram parcialmente atendidos, já que conseguiram qualificar atos relâmpagos, realizados na entrada dos mercados, como “ocupações”.
Para nós, esta é uma demonstração de que a campanha de denúncia está crescendo e causando estragos. E, de imediato, o PSTU deixa nítido que qualquer medida repressiva – seja judicial, seja física – não nos fará recuar. Seguiremos firmes, organizando e participando de todas as atividades definidas e propostas pelo movimento “Fim da Escala 6×1 de Porto Alegre”.
Zaffari não é um caso isolado
Nossa luta, aqui, é parte de uma batalha nacional, que, desde novembro, tem se traduzido em atos e, inclusive, greves em algumas categorias, pelo fim da escala 6×1. A força desta pauta expressa a revolta com a crescente exploração no mundo do trabalho.
O Brasil tem dois terços da força de trabalho desempregada ou subempregada e também temos uma das jornadas de trabalho mais extensas do mundo, ainda mais considerando as horas extras, os bancos de horas e o trabalho intermitente, que extrapolam as 44 horas semanais.
Mesmo com os avanços tecnológicos em vários ramos da economia, a maioria dos empregos criados nos últimos anos são precarizados, com salários baixos, escalas abusivas e sem direitos.
No caso do Zaffari, que possui 12.500 funcionários, além da jornada de 10×1 (trabalha-se 10 dias e folga-se um), há denúncias de que os trabalhadores e trabalhadoras cumprem jornadas de mais de 10 horas e são remunerados com vale alimentação, ao invés de horas extras, como forma de “salário”.
Movimento está atropelando a pelegada
O Sindicato de Comerciários (Sindec) sempre foi conivente com esta escala desumana e assinou um acordo avalizando a escala 10×1 do Zaffari. Pressionado justamente pelas três manifestações realizadas na entrada de mercados Zaffari, o presidente do sindicato manifestou-se na imprensa, afirmando que não renovará esta cláusula. Uma primeira vitória do nosso movimento.
Infelizmente, toda peça jurídica que quer nos atacar é baseada em uma declaração do Sindicato de Comerciários, que afirma não ter qualquer envolvimento com as manifestações relâmpagos e também que não as apoia. Um papel lamentável, que precisa ser repudiado não apenas pelos comerciários, mas pelo conjunto da classe trabalhadora de Porto Alegre.
Impulsionar a unidade, a organização e a independência da classe trabalhadora
O PSTU vem a público denunciar a tentativa de coerção feita pelo grupo Zaffari e conclama os trabalhadores e trabalhadoras a fortalecermos ainda mais essa luta tão necessária para que tenhamos uma vida além do trabalho, denunciando e enfrentando as empresas que adotam jornadas abusivas e desumanas.
Necessitamos de toda unidade e força da classe trabalhadora nos locais de trabalho, de estudo e moradia, como também o envolvimento dos movimentos sociais, dos sindicatos e demais organizações da classe trabalhadora, para que possamos avançar na luta pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, e pela conquista de direitos para que possamos sair vitoriosos deste processo.