Jones Manoel, é possível construir o Socialismo com João Paulo do PT?
No dia 3 de fevereiro, Jones Manoel, militante do PCB e principal porta-voz do partido, postou no seu Instagram vídeo com o ex-prefeito do Recife e atual deputado estadual, João Paulo do PT. Nesse vídeo Jones e João anunciam o compromisso em manter reuniões para a pensar em lutas comuns em PE e no final afirmam que o objetivo deles é a luta “rumo ao socialismo”. A maioria dos jovens que tem Jones Manoel do PCB como referencial marxista e comunista não conhecem a trajetória política de João e não viveram o período do petista como prefeito do Recife no início dos anos 2000. Por isso, antes de questionar a possibilidade da construção do socialismo com o ex-prefeito de Recife, como afirma Jones, é fundamental voltarmos um pouco no tempo.
Quem é João Paulo?
João Paulo foi metalúrgico e fez parte de uma geração de sindicalistas que se enfrentou contra a Ditadura Militar e ajudou na construção do PT e da CUT. Em PE, Ele foi presidente do sindicato dos metalúrgicos e, em, 1988 se tornou o 1° presidente da CUT estadual.
Em 2001, João Paulo assume a prefeitura do Recife. Havia muitas expectativas da população trabalhadora e pobres da capital com o primeiro prefeito eleito do PT. Ao longo de 8 anos de gestões de João Paulo, o que ficou marcado não foi a mudança na vida da população, mas os ataques aos servidores municipais, sucateamento dos serviços públicos e privatizações.
Em 2005, a prefeitura do Recife era a responsável pelo transporte público da Região Metropolitana e autorizou o aumento de passagens dos ônibus. A reação foi um rebelião dos estudantes que tomou o centro do Recife por uma semana. A politica de João Paulo foi acionar a tropa de Choque da PM para acabar com mobilização que colocava em xeque o aumento das passagens. Foram cenas de repressão e perseguição dos estudantes, tudo para defender os lucros da máfia dos ônibus.
João Paulo fez um ataque ao fundo previdenciários dos servidores municipais, equivalente a 163 milhões de reais e mandou a conta para os próprios servidores pagarem, aumentando os descontos nos seus salários, o que significou o rebaixamento das condições de vida dos servidores municipais. João foi o responsável pelo processo de privatização da merenda escolar no Recife, levando a terceirização das merendeiras, mulheres negras na imensa maioria, a ter empregos precários, baixos salários e péssimas condições de trabalho.
Em 2007, o Simpere, sindicato dos professores da rede oficial do Recife, fez um dossiê denunciando as péssimas condições das escolas e creches do Recife. O sindicato mostrou que a prefeitura havia um espaço que durante o dia era uma creche e à noite funcionava um bar. As crianças e os professores e funcionários eram obrigados a dividir o espaço com engradados de cerveja.
Qual foi a reação do prefeito João Paulo do PT? Foi o ataque ao sindicato através da demissão de Claudia Ribeiro, militante do PSTU e dirigente sindical do Simpere na época das denúncias, ou seja, o ex-sindicalista João Paulo teve uma postura de perseguição contra sindicalistas que lutavam pela educação pública.
Como deputado estadual, João Paulo foi base do governo do PSB e em 2019 votou na reforma da previdência estadual que significou o arrocho salarial sobre o funcionalismo público.
O histórico de João Paulo como prefeito e deputado demonstra que ele não governou para a classe trabalhadora. Ao contrário, João Paulo, como muitas lideranças sindicais da década de 80, deixou o classismo de lado e passou, como parlamentar ou governante, para gestão do capitalismo, colocando os interesses dos ricos acima das necessidades dos trabalhadores. Não há, por isso, nenhuma possibilidade de construção do socialismo junto como político como João Paulo do PT.
Se João Paulo tem essa trajetória política contra a classe trabalhadora, então, qual o motivo para os elogios a das afirmações de Jones Manoel ao petista?
Jones retoma a teoria dos campos burgueses progressivos
Na descrição do vídeo com João Paulo, Jones diz o seguinte: “Almocei com meu amigo e referência política, deputado João Paulo. E sempre bom lembrar: o melhor prefeito que Recife já teve (no tempo que Recife tinha um prefeito com compromisso popular de verdade). Muitas ideias boas para avançar na luta de classes em Recife e Pernambuco.” Quando Jones afirma que “Recife tinha um prefeito com compromisso popular de verdade” está retomando uma concepção teórica cuja origem remete à visão stalinista sobre os campos burgueses progressivos.
A teoria dos campos progressivos, popular ou democrático foi criado em 1935 no VII Congresso da Internacional Comunista, já completamente controlada pelo stalinismo. A tese apaga a caracterização de classes sobre os governos e movimentos, defendendo que existem dois campos enfrentados, e que um é mais “progressista” que o outro, mesmo ambos sendo setores da burguesia, e que a classe trabalhadora deve dar o seu apoio e fazer parte do campo progressivo frente ao campo reacionário.
O marxismo revolucionário defende outra coisa: classe trabalhadora não pode resolver seus problemas em aliança com um dito setor progressivo da burguesia. Mesmo com as diferenças entre uma fração burguesa de extrema-direita e outra democrática, os interesses da burguesia e da classe trabalhadora antagônicos, inconciliáveis. Portanto é necessário que os revolucionários, na luta contra o capitalismo e da tomada do poder via uma revolução socialista, tenham uma política de independência de classe frente a qualquer setor burguês.
Pelo seu programa e pelos interesses de classe que João Paulo defendeu enquanto prefeito e agora deputado, o petista governou para a burguesia. Essa é a essência do problema da declaração de Jones. Ao colocar João Paulo como aliado para “avançar na luta de classes em Recife e Pernambuco” e de lutar “rumo ao socialismo”, Jones rompe com a independência de classe e pretende levar consigo toda uma geração de jovens lutadoras e lutadores que querem construir a revolução socialista para uma estratégia que vai levá-los, na prática, para um caminho de apoio a um setor burguês que levará a desmoralização e derrotas.
Lênin e os bolcheviques mostram o caminho
Lênin, Trotsky e os bolchevique nunca tiveram uma política de defesa de campos burgueses progressivos. Eles defendiam que a política do partido deve ter como eixo central o desenvolvimento da luta de classes até a tomada do poder pela classe trabalhadora. Quando os mencheviques começaram a fazer parte do governo provisório a política de Lênin foi o exato oposto da de Jones Manoel. Lênin disse o seguinte: “A mínima confiança nos mencheviques equivale a uma traição à revolução, como teria sido confiar nos Cadetes em 1905 e 1917”. A revolução só pode ser vitoriosa porque os líderes bolcheviques aplicaram uma orientação política cuja linha mestre era a da independência de classe.
O que Jones Manoel faz com suas últimas declarações é, na verdade, a reabilitação de um político com um currículo de traições à classe trabalhadora recifense e Pernambucana. É urgente mostrar as essa política de Jones Manoel está longe de apontar o caminho para a derrota da burguesia e da construção do socialismo. Na verdade, é a reedição da política histórica de colaboração de classes do stalinismo.