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Indígena Guarani Kaiowá é morto a tiros no MS em mais um crime do agronegócio

CSP Conlutas, Central Sindical e Popular

18 de setembro de 2024
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Além das queimadas, a guerra que o agronegócio criminoso trava contra o país produziu mais uma tragédia nesta quarta-feira (18). Um jovem da etnia Guarani Kaiowá foi assassinado a tiros e teve seu corpo arrastado para a mata pela Polícia Militar.

O crime ocorreu na cidade de Antônio João, onde os indígenas realizam a retomada na Fazenda da Barra. Neri Guarani Kaiowá é o nome da vítima da ação que deixou outros feridos, além de incendiar os barracos.

Segundo as testemunhas, além da PM, participaram do ataque um grupo de jagunços. Em vídeo nas redes sociais, na terça-feira (17), a comunidade já havia denunciado a situação tensa na região, ainda assim a Força Nacional não estava presente.

A morte de Neri ocorre apenas cinco dias depois da Missão de Direitos Humanos organizada pelo Coletivo de Solidariedade e Compromisso aos Povos Guarani visitar o local. Um outro ataque já havia ocorrido no dia 12, deixando três indígenas baleados.

A atuação letal da PM contra o povo Guarani Kaiowá ocorre após a Justiça Federal de Ponta Porã autorizar o uso da força para a proteção da propriedade privada. Uma clara mostra da submissão das autoridades frente aos grandes proprietários de terra.

Os policiais carregaram o corpo de Neri para longe do local do crime com o objetivo de dificultar as investigações. A prática é tido comum na região que sofre com o autoritarismo das forças de segurança.

Indígenas cercados por milícias

O povo Guarani Kaiowá já havia denunciado ao Ministério da Justiça a atuação das milícias do agro em agosto. Eles requisitaram o desmonte dos acampamentos que cercavam as terras indígenas e a investigação dos envolvidos nos ataques.

Desde o final de julho, a violência de pistoleiros contra o povo originário aumentou drasticamente. Nesta época, os Guarani Kaiowá iniciaram um processo de retomada em fazendas próximas as cidades de Dourados e Douradina.

Nos acampamentos milicianos foram flagrados pelos indígenas armamentos pesados. Apesar da movimentação constante com o revezamento entre os jagunços, nem a PM nem a Força de Segurança Nacional atuam para frear a violência.

O cerco promovido pelos milicianos também impedia que recursos e alimentos chegassem aos indígenas. Segundo reportagem do The Intercept, cerca de 30 crianças chegaram a sofrer com a fome e a falta de medicamentos.

Ação entre amigos

A autora da ação deferida pela Justiça Federal que autorizou o ataque aos indígenas é a advogada ruralista Luana Ruiz. Ela é filha de um dos proprietários da Fazenda da Barra e também Assessora Especial da Casa Civil do Governo Estadual do Mato Grosso do Sul.

Em 2022, ela foi candidata a deputada estadual pelo PL, mesmo partido de Jair Bolsonaro. Em 2015, Roseli Ruiz, mãe de Luana, foi responsável por organizar um grupo de pistoleiros contra outra retomada dos Guarani Kaiowá, o que resultou na morte de um indígena.

Governo Lula é omisso

Na cerimônia de celebração do retorno do manto Tupinambá ao Brasil, ocorrida no dia 16, a liderança indígena Yakui Tupinambá criticou o Congresso Nacional mas deixou clara a culpa do governo Lula, considerado frágil e cheio de conchavos para governar.

A insatisfação dos povos originários com Lula se arrasta desde o início do mandato. A aprovação do Marco Temporal e morosidade na demarcação de terras é fruto da política de conciliação com o agronegócio.

Frente ao descaso do Planalto, a CSP-Conlutas defende a mobilização e autodefesa dos povos indígenas, quilombolas e tradicionais em todo o país. Frente a tantos crimes, é urgente combater o agro e defender os interesses dos de baixo.