Incêndios na V Região (Valparaíso, Chile): uma enorme tragédia, previsível e evitável
MIT Valparaíso
Raiva, dor, angústia, estupefação, uma vez mais as chamas se estendem sem controle ameaçando a nossa família, a nossos amigos, a nós mesmos. As chamas, a fumaça e as cinzas que envolvem tudo, trazem-nos a lembrança, ainda fresca, do megaincêndio de Valparaíso de 2014 e do megaincêndio, no sul, em 2017.
A cada hora, aumenta o número de mortos. Já são mais de 100, com mais de 15 mil casas destruídas, centenas de desaparecidos, espaços patrimoniais, como o Jardim Botânico de Viña del Mar, completamente destruído. Estamos frente a uma das maiores tragédias de nossa história recente. Os mais afetados, como sempre, são os trabalhadores. Mais de 70% das casas afetadas até agora eram ocupações irregulares ou acampamentos, habitações de trabalhadores pobres que se aglomeram em morros e barrancos por não ter como pagar aluguel ou comprar uma casa.
Se o fogo faz parte da natureza desenfreada que se devora a si, a causa do fogo não é natural. Em primeiro lugar, tudo indica que os focos são causados por pessoas, seja pela displicência ao atirar pontas de cigarro em campos ou diretamente com fins criminais (que devem ser investigados e os responsáveis, castigados). Em segundo lugar, esta tragédia somente chega a esta magnitude devido às condições climáticas e sociais atuais.
As condições climáticas causadas pelo aquecimento global, geradas pela grande indústria capitalista e pela superexploração de combustíveis fósseis e dos solos, criam maiores possibilidades de incêndios, com temperaturas recordes e secas. Incêndios massivos como o que estamos vendo na V Região estão ocorrendo de maneira mais frequente em todo o mundo.
Por outro lado, os planos regulatórios da maioria das cidades estão defasados. Não existe planificação urbana. O ordenamento da cidade é ditado pelo mercado e especulação imobiliária. As políticas habitacionais são totalmente insuficientes, o que leva centenas de pessoas a viverem em áreas de risco (hoje mais de 80 mil pessoas no país vivem em acampamentos e o déficit habitacional é estimado em mais de 640 mil habitações) e as medidas de prevenção a incêndios são completamente ineficazes. Ano após ano as mesmas tragédias se repetem.
Em várias regiões do país, a existência de enormes monoculturas de pinheiros e eucaliptos são um combustível “natural” para a multiplicação de incêndios. No entanto, os proprietários dessas grandes empresas nunca são responsabilizados ou obrigados a tomar medidas para mitigar os efeitos dos incêndios, cada vez mais frequentes. O setor imobiliário é outro que acaba se beneficiando de tragédias como a atual, já que se aproveitam delas para construir empreendimentos imobiliários em terrenos devastados.
Enquanto isso acontece, vemos como o grande empresariado aumenta e aumenta sua ganância, saqueando o cobre, o lítio, os bosques, o mar e lucrando com a especulação imobiliária. Tudo isso para concentrar a riqueza num casal de famílias multimilionárias e empresários estrangeiros. Por isso não há dinheiro para construir casas, planejar as cidades, investir na compra de aviões de combate a incêndios e um longo etc.
É necessário tomar medidas urgentes
A auto-organização do povo chileno (“o povo ajuda o povo”) é fundamental. Chamamos a todos para apoiarem as iniciativas de arrecadação que estão se multiplicando por todo o país e aos trabalhadores e trabalhadoras das regiões afetadas, a se solidarizar com as vítimas.
No entanto, essas medidas são insuficientes frente a catástrofe. Exigimos do governo Gabriel Boric um investimento imediato nos bombeiros e a locação/compra de aviões de combate a incêndio. Para isso, é necessário aplicar um imposto extraordinário às maiores fortunas do país, que tem lucrado durante décadas com a destruição ambiental e a exploração de nosso povo.
Também exigimos do governo que indenize aos familiares das vítimas e crie um plano de construção de novas habitações para compensar as casas perdidas. Que financie subsídios de aluguel para as vítimas dos incêndios enquanto se constroem suas casas. Para isso, é necessário tomar medidas de fundo que permitam ao Estado obter recursos, como a nacionalização dos bens naturais como o cobre e o lítio.
Por outro lado, a classe trabalhadora deve compreender que no capitalismo este tipo de problema continuará ocorrendo com maior frequência e magnitude. A economia capitalista é uma máquina de destruição social e ambiental para a acumulação de riquezas nas mãos de uma ínfima minoria da sociedade. Não existe planificação urbana, ambiental ou econômica no capitalismo. Para isso, é necessário que a classe trabalhadora construa um projeto alternativo de sociedade. É necessário que façamos uma revolução contra os capitalistas que controlam o Chile e o mundo. Uma revolução que ponha a classe trabalhadora e o povo no poder, para que possamos planificar a economia com base na necessidade da maioria da população e da natureza, e não da acumulação de riqueza em mãos dos capitalistas.