Rio de Janeiro

Freixo, com Cesar Maia, com tudo…

Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ

16 de junho de 2022
star0 (0 avaliações)
fotos: reprodução redes sociais

É obvio que a Folha de S. Paulo, assim como toda a grande imprensa, tem lado e defende os interesses da burguesia. Seu objetivo ao questionar Freixo parece ser justamente desmoralizar principalmente aqueles que honestamente acreditaram nele. No entanto, faz isso com grande ajuda do próprio Freixo, já que o jornal cita declarações que não apenas não foram contestadas, mas das quais o atual pré-candidato parece se orgulhar.

Sem nunca ter sido socialista, Freixo se construiu como um defensor dos Direitos Humanos, se enfrentando com a milícia do Rio e denunciando a violência policial contra as comunidades. Nós do PSTU desde antes alertávamos que sua luta, mesmo sendo louvável, apresentava sérios limites. Freixo alimentava a ideia que seria possível resolver os problemas de violência policial, para-policial (as milícias) e dos grandes negócios burgueses ilegais (trafico de drogas e armas, jogos ilegais, etc.) sem atacar o próprio capitalismo. Alimentava a ilusão que “outra cidade” seria possível sem se enfrentar com o empresariado do turismo, dos transportes, das construtoras. Para nós, a milícia era e continua sendo parte da podridão deste sistema que precisamos destruir.

Mesmo com seus limites, Freixo denunciava grandes figuras que já governaram nosso estado e cidades, como responsáveis pelo crescimento do domínio das milícias sobre inúmeros territórios. Denunciava César Maia e Eduardo Paes como coniventes, pois lucravam eleitoralmente liberando recursos para centros sociais controlados pelas milícias.

A subida de Bolsonaro ao governo e a aparição à luz do dia de setores da extrema-direita, que defende publicamente valores muitos similares aos das milícias e do pior da polícia, como a tortura e o assassinato de militantes de esquerda, ambientalistas e defensores dos Direitos Humanos levou Freixo a colocar como principal tarefa a derrota de Bolsonaro. Ele pode não ter sido o primeiro, mas foi sempre um dos principais defensores da linha de juntar todos para derrotar Bolsonaro.

O problema é que, para Freixo, que sempre pensou dentro dos moldes da democracia burguesa, juntar todos para derrotar Bolsonaro não significa preparar uma ampla mobilização que derrotasse o bolsonarismo nas ruas e abrisse a possibilidade de derrubar o presidente, mas sim preparar uma frente eleitoral ampla, amplíssima, ampla até doer.

Assim, como num passe de mágica, Freixo passou a reivindicar a trajetória de Cesar Maia e Eduardo Paes, estes dois expoentes da velha, degenerada e corrupta política carioca, como aliados necessários para derrotar a milícia. Vem buscando se aproximar de outros, como a família Garotinho, na pessoa de Wladimir Garotinho, prefeitos acusados de envolvimento com o jogo do bicho, economistas neoliberais como Armínio Fraga.

Nesse processo, Freixo é obrigado a desdizer o que já havia dito.

As mudanças sobre Paes e Cesar Maia.

Sobre Cesar Maia:

O prefeito do Rio de Janeiro chamou por muito tempo as milícias de autodefesa comunitária. Isso não é fechar os olhos. Isso é abrir os olhos e buscar um conceito para milícia que seja positivo“, disse Freixo, em 2008, último ano da gestão Maia.

Se o poder público tivesse fechado os olhos, as milícias não teriam crescido tanto. Ele abriu os olhos, se interessou pelas milícias, ajudou a eleger pessoas que ocupavam cargos na segurança pública, incentivou. Estou falando de ações concretas como ajuda orçamentária a centros sociais controlados por milícias, permissão para que os chefes de milícias se candidatassem utilizando suas legendas.”

O que freixo fala atualmente

Muita gente não imaginou que a milícia ia chegar onde chegou. Muita gente no início falava em mal menor, porque imaginava que o poder do tráfico, por ser muito danoso, era pior. Não enxergava o tamanho do que viria a ser a milícia. A gente precisa juntar todo mundo, independente de quem acertou mais ou errou mais em relação às milícias.”

Tenho uma grande admiração por ele. Foi um administrador muito importante“, disse o deputado.

O que Freixo dizia sobre Paes

Da CPI para cá foram 720 prisões, e o número de milícias aumentou. Por quê? Porque os centros sociais continuam funcionando e muitos deles alimentados pela prefeitura que tem na milícia sua base legislativa e sua base de poder local. Ele [Paes] não é dono de milícia. Mas ele tem responsabilidade no crescimento das milícias“, afirmou ele [em 2012].

Tem foto de uma reunião na prefeitura em 2009 do atual prefeito com vários donos de cooperativas. Entre eles, inúmeros indiciados por nós em 2008. Reunidos para discutir e ganhar a licitação das vans“, afirmou ele em 2012.

Isso significa que se possa prender o prefeito? Não. Significa que você pode, e deve, fazer um debate de responsabilidade política de quanto esses grupos, que são criminosos e violentos, tem na sua base territorial uma base eleitoral que interessa não só à milícia, mas a muita gente que lucra com esse domínio eleitoral.”

O que diz atualmente sobre Paes:

Eduardo Paes é muito importante para a reestruturação do Rio de Janeiro. Temos diferenças, mas elas são muito menores do que temos em comum para resgatar o estado”, disse o deputado.

Aonde levará essa politica?

Na sua busca por aceitação, Freixo abandonou uma de suas posturas mais progressivas: a de questionar a PM enquanto instituição, fazendo inclusive um corte que nos parecia correto, separando o soldado, que muitas vezes tambem é vitima da instituição, dos oficiais que se envolvem com o crime para ganhar com isso.

A política de alianças de Freixo poderá levá-lo ao palácio das Laranjeiras, não sabemos, e é muito cedo para afirmar qualquer coisa sobre isso. Mas, independentemente disso, essa política já cumpriu um papel nefasto. Freixo tem sido a avalista da idoneidade de gente que até bem pouco tempo, e corretamente, ele apontava como responsável pelo caos e violência no Rio.

Se ganhar, Freixo infelizmente governará cercado por gente que defende arrocho salarial, flexibilização trabalhista, isenção fiscal para os ricos. Governará ao lado de quem defendeu as milícias e não a combateu.

Ou seja, em nome de combater o bolsonarismo Freixo está se tornando parte daquilo que sempre combateu.