Fome e carestia de um lado, lucros recordes de outro
Foi-se o tempo em que o tema da fome era um problema restrito a uma parcela minoritária da população mais pobre. O aprofundamento da crise econômica e social, com a disparada da inflação e a carestia, tornam a falta de comida uma realidade cada vez mais concreta no dia-a-dia da classe trabalhadora, num dos países que mais produzem alimentos no mundo.
Pesquisa Datafolha realizada nos dias 27 e 28 de julho revela que um em cada três brasileiros não tiveram comida suficiente para alimentar a família nos últimos meses. O percentual dos que não contaram com o mínimo para comer passou de 26% em maio para 33% em julho. Por outro lado, os que declararam conseguir comer o mínimo suficiente caiu de 62% para 55% nesse período.
Entre as mulheres, 37% não conseguiram comer o suficiente para se manter, e entre os negros esse número chega a 40%.
Outro dado reflete essa situação cada vez mais dramática: 17% dos entrevistados estavam em uma família que tiveram que vender algum bem para comprar comida. São famílias que se desfizeram de uma televisão, um celular ou qualquer outro objeto para não morrerem de fome. Entre os mais pobres, esse número chega a 24%, e entre os desempregados, 32%.
Sete em cada dez compraram menos comida
Outra pesquisa recente confirma essa tendência. Segundo levantamento da Ipec (Instituto em Pesquisa e Consultoria Estratégica), sete em cada dez brasileiros compraram menos alimentos nos últimos seis meses. Ainda segundo a pesquisa, 72% deixaram de comprar carne de primeira, 28% cortaram até a de segunda, e 26% até carnes processadas como linguiça e salsicha.
DESIGUALDADE
A farra dos dividendos bilionários
Enquanto as famílias mais pobres convivem com a fome, e milhões de trabalhadores enfrentam a inflação, sendo obrigados a trocar o leite por “soro de leite” e demais alimentos por subprodutos, no andar de cima, naquela fatia dos 0,1%, a realidade é bem outra.
O recente anúncio dos lucros recordes da Petrobras mostra a farra dos superricos. A empresa divulgou a distribuição de R$ 87,8 bilhões em dividendos (o lucro repartido) aos acionistas só neste segundo trimestre. Nos primeiros seis meses do ano, a Petrobras vai distribuir mais de R$ 136 bilhões em lucros essencialmente a grandes banqueiros e megaespeculadores. Lucros recordes e dividendos bilionários mantidos pelos preços dos combustíveis e o gás de cozinha nas alturas, já que a política do PPI (Preço de Paridade Internacional) cobra aqui o valor desses produtos no mercado internacional. Ou seja, os lucros bilionários dos grandes acionistas têm uma relação diretamente proporcional com o aumento da carestia e a pobreza de milhões de famílias.
Ao contrário do Imposto de Renda, cuja defasagem castiga os trabalhadores assalariados mais pobres, os tais dividendos são pagos sem qualquer imposto. Vai do caixa da empresa direto para o bolso do banqueiro em Nova Iorque.
Outras grandes empresas seguem o mesmo padrão. A Vale, por exemplo, distribuiu R$ 18,5 bilhões aos acionistas no primeiro semestre, enquanto paga uma miséria de salário aos trabalhadores, destrói o meio ambiente e deixa ao relento as vítimas de Brumadinho. Da mesma forma, a CSN, que se recusou a reajustar os salários os trabalhadores pela inflação, o que fez explodir uma grande mobilização este ano, distribuiu R$ 2,5 bilhões. A CPFL, empresa de energia de capital aberto, repassou R$ 3,7 bilhões, às custas de sucessivos aumentos na conta de luz.
As grandes empresas ganham duas vezes com a crise. De um lado, rebaixam salários e direitos, aumentando a exploração. Por outro, lucram com a inflação. Nessa gangorra de rapina e roubo, o rebaixamento do nível de vida da população impulsiona a boa vida dos bilionários e dos superricos.
Empresas que mais pagaram dividendos
(primeiro semestre)
Petrobras – R$ 85,9 bi
Vale – R$ 18,5 bi
BB – R$ 4,9 bi
Santander – R$ 4,5 bi
CPFL – R$ 3,7 bi
Vivo – R$ 2,5 bi
CSN Mineradora – R$ 2,5 bi
JBS – R$ 2,2 bi
PROGRAMA
Emprego, salário e estatização das maiores empresas sob controle dos trabalhadores
Para enfrentar a fome de forma imediata, é preciso retomar o Auxílio Emergencial, de pelo menos um salário mínimo, às 67 milhões de famílias que o recebiam em 2020, e enquanto durar a crise e não só até as eleições como a medida eleitoreira de Bolsonaro. Mas para resolver mesmo a fome e a carestia, é preciso acabar com o desemprego, garantindo pleno emprego com todos os direitos.
Para isso, é necessário reduzir a jornada de trabalho sem reduzir os salários. Duplicar o salário mínimo rumo ao mínimo do Dieese, e impor um gatilho salarial de acordo com a inflação.
Mas é necessário ir além, estatizar, sob o controle o controle dos trabalhadores, as maiores empresas que dominam a economia, e colocá-las para funcionar de acordo com os interesses da população, e não de um punhado de bilionários, banqueiros e megaespeculadores.