Internacional

Fim dos ataques israelenses ao Líbano e ao povo palestino

Fábio Bosco, de São Paulo (SP)

26 de setembro de 2024
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No dia 23 de setembro, o Estado de Israel promoveu o maior e mais mortífero ataque contra o Líbano desde 2006. Foram 1.300 bombardeios que mataram 500 pessoas, a ampla maioria de civis, e feriram mais de mil pessoas. Os hospitais estão lotados e mais de cem mil libaneses buscam refúgio na capital Beirute e no norte do país.

O ataque do dia 23 foi o ápice de uma semana de agressões criminosas contra o Líbano. No dia 17 de setembro, o serviço secreto israelense (através de uma agência especializada em guerra secreta cibernética, conhecida como “Unidade 8200”) explodiu dispositivos de mensagens “pagers”, provocando 12 mortes e deixando 2.300 feridos, muitos dos quais com ferimentos graves nas mãos, olhos e cintura. Segundo o jornal “New York Times”, os pagers foram fabricados e comercializados por uma empresa de fachada, criada pelo serviço secreto israelense, e utilizados pelo Hezbollah.

No dia seguinte, 18 de setembro, em outro ataque atribuído aos sionistas, centenas de aparelhos de rádio “walkie-talkies” utilizados por integrantes do Hezbollah também explodiram, causando 25 mortes e 700 feridos.

No dia 20 de setembro, o exército israelense lançou seis mísseis contra dois edifícios residenciais no bairro de Dahiyeh, no sul de Beirute, causando 45 mortes, dentre as quais 16 membros das brigadas Abbas e da Força Radwan, do Hezbollah, incluindo os comandantes Ibrahim Aqil e Ahmed Mahmud Wahbi. No dia 22, a força aérea israelenses fez novos bombardeios contra 400 alvos libaneses.

Momento em que pagers explosivos foram detonados em atentados atribuídos ao Estado de Israel Foto Reprodução

Guerra suja e farsas por trás de agressões covardes

O Estado de Israel e a mídia ocidental apresentaram esses ataques como parte da guerra contra o Hezbollah. Mas, o fato é que, a exemplo de Gaza, a ampla maioria dos mortos e feridos é formada por civis e os ataques ocorrem em solo libanês, configurando um ataque ao Líbano e ao povo libanês.

Essa narrativa falsa visa não apenas confundir a opinião pública mundial, mas principalmente a população libanesa, das comunidades cristãs, sunitas e drusas, de que estas não serão atingidas, investindo na baixa popularidade do Hezbollah entre essas comunidades e evitando uma resistência nacional unificada que já derrotou as agressões israelenses em 1982 e 2006.

Através destas agressões covardes, o Estado de Israel busca desarticular o Hezbollah e preparar uma invasão terrestre, o que é motivo de disputa entre o governo israelense e os líderes militares, mas conta com apoio majoritário da população israelense judia e para a qual já foi deslocada uma divisão militar com 10 mil soldados para a fronteira com o Líbano.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, fez um discurso televisivo afirmando que Israel cruzou todas as linhas vermelhas, mas que sua ação não conseguiu enfraquecer o Hezbollah e ainda alertou que uma invasão terrestre daria uma oportunidade histórica ao Hezbollah.

No entanto, para além de inviabilizar o uso de “pagers” e “walkie-talkies”, e assassinar comandantes importantes, a agressão israelense coloca em questão em que medida o serviço secreto israelense conseguiu obter informações dentre as fileiras do Hezbollah.

Resposta do Hezbollah e seus limites

De qualquer forma, no dia 22 de setembro, enquanto as forças israelenses bombardeavam cerca de 400 pontos no sul do Líbano, o Hezbollah lançou cerca de 100 foguetes e mísseis contra a base aérea de Ramat David e outros alvos dentro de território controlado pelo inimigo, atingindo uma cidade localizada a 20 km ao norte de Haifa.

Esta é uma demonstração de que, apesar das agressões, o Hezbollah ainda tem condições de atacar o inimigo. A questão é a linha vermelha autoimposta pelo grupo e por seu aliado, o regime iraniano, de não utilizar mísseis de longa distância para atingir alvos israelenses muito além da fronteira.

Palestina

Fim do governo Netanyahu ou fim do Estado de Israel?

A agressão ao Líbano ocorre simultaneamente aos ataques genocidas diários aos palestinos em Gaza e na Cisjordânia. As potências imperialistas se escondem por trás da exigência de negociações por um cessar-fogo imediato, mas continuam provendo armas, petróleo e apoio diplomático para que o Estado de Israel dê continuidade ao genocídio palestino e às agressões ao Líbano.

É assim que se comportam, por exemplo, Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, que provém armas para Israel; e China e Rússia, que pressionam o regime iraniano a não revidar os ataques israelenses, para não “regionalizar a guerra”, o que facilita o trabalho dos criminosos sionistas.

Ocupação colonial

Vários analistas afirmam que o principal empecilho para o cessar-fogo é Binyamin Netanyahu e sua busca para recompor sua base eleitoral, perdida em 7 de outubro, e evitar as investigações sobre as falhas de segurança desse dia, bem como os três processos judiciais que correm contra ele no judiciário israelense, por corrupção, e que podem levar a sua prisão.

É verdade que Netanyahu é um empecilho. Mas, não é o único. A questão é a natureza colonialista e racista do Estado de Israel e de sua população, que é beneficiária do roubo das terras, das casas e da liberdade do povo palestino.

Palestina livre do rio ao mar

Sem Netanyahu, esse Estado racista vai produzir novos Netanyahus para seguir com a limpeza étnica do povo palestino e com o sistema de apartheid, iniciados há 76 anos. Por isso, afirmamos que a única solução verdadeira é o desmantelamento do Estado de Israel e sua substituição por uma Palestina, laica e democrática, do rio ao mar, onde viverão, em liberdade, o povo palestino e aqueles que aceitarem viver em paz com os palestinos.

Apoio

Solidariedade Internacional para deter os ataques ao Líbano e o genocídio em Gaza e na Cisjordânia

A juventude e a classe trabalhadora internacional têm que ir às ruas para pressionar todos os governos a romperem relações diplomáticas e comerciais com o Estado de Israel.

Por outro lado, o regime iraniano, que lidera o chamado “Eixo da Resistência”, não deve seguir a orientação “pacifista” dos imperialismos russo e chinês, nem priorizar os seus interesses de normalizar relações com o imperialismo ocidental, através de nova negociação do acordo nuclear.

A prioridade deve ser a construção de uma solidariedade efetiva com os povos palestino e libanês, a exemplo dos Iemenitas Houthis, que são insurgentes que controlam a maior parte do norte do Iêmen, incluindo a capital do país, Sanaa, e atacam navios em rotas de navegação comercial no Mar Vermelho em apoio aos palestinos de Gaza.

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