Educação

Eu vivo a UESPI: Professores e estudantes em greve na Universidade Estadual do Piauí

Rebeldia - Juventude da Revolução Socialista

28 de janeiro de 2024
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Greve teve inicio no dia 2 de janeiro. O governador Rafael Fonteles (PT) segue sem atender as reivindicações | Foto: ADCESP

Ádyson Oliveira, do Coletivo Rebeldia – Juventude da Revolução Socialista do Piauí

O ano de 2024 iniciou-se sob forte mobilização de professores e alunos(as) da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Durante todo o ano de 2023 a ADCESP, entidade representativa dos docentes da UESPI, tentou inúmeras reuniões com o governador e dono do grupo empresarial de ensino ICEV, Rafael Fonteles (PT), mas sem sucesso. Assim como seu antecessor, o agora Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do governo Lula-Alckmin, Wellington Dias (PT), Rafael Fonteles não tem compromisso com os serviços públicos e menos ainda com a educação pública no estado do Piauí.

Neste ano, a UESPI completa 37 anos de existência e continua a enfrentar problemas históricos, que atingem toda a comunidade universitária, mas também toda a população piauiense que vê na UESPI uma possibilidade de ingressar no ensino superior.

Os sucessivos governos estaduais perpetuaram o sucateamento da Universidade, em detrimento do enriquecimento de empresários ligados ao agronegócio e à educação privada. Para a UESPI nada passa da promessa e, em consequência, lidamos com uma universidade sucateada ao extremo, que não dispõe: de restaurante universitário em nenhum de seus campi; residência estudantil, que possa atender aos estudantes que vêm de outros municípios; falta de segurança que garanta a integridade física de toda a comunidade universitária; bolsas de assistência estudantil que não atendem a real necessidade; e, devido também ao descaso do governo municipal, a comunidade universitária sofre sem uma frota de ônibus que atenda a demanda.

Projeto de Lei ataca categoria docente

Em novembro do ano passado, Rafael Fonteles encaminhou à Assembleia Legislativa do Piauí (ALEPI), sem diálogo com a categoria docente, um Projeto de Lei (PL) que modifica o plano de cargos e carreiras e remuneração do magistério superior da UESPI, procurando sucatear o trabalho docente.

Já não bastava as perdas salariais enfrentadas pelos docentes que, em 2023, ultrapassou o percentual de 68%. Em assembleia aeral, a categoria aprovou o início da greve docente a partir do dia 02/01/2024, denunciando a inflexibilidade do governador para negociar com a categoria o não pagamento das perdas salariais e os problemas de infraestruturas que a UESPI enfrenta.

Antes da greve iniciar, o governador petista, utilizando-se do aparelho estatal, conseguiu, ainda em 2023, uma liminar de ilegalidade da greve, derrubada no início deste ano, legitimando o movimento de luta por direitos.

Greve dos professores e estudantes em defesa da UESPI | Foto: ADCESP

Greve estudantil

Em paralelo, a comunidade discente aprovou greve estudantil em assembleia geral realizada no dia 10/01. Neste momento, professores e alunos (as) constroem juntos uma luta histórica de denúncia do descaso do Estado com a UESPI e em busca de melhorias. A greve chegou aos seus 23 dias, até o momento em que a nota fora escrita, o governador do PT segue sem dialogar com a comunidade universitária as mudanças concretas para a UESPI.

Dos diversos pontos de discussão, acerca das melhorias para a comunidade da UESPI, circulamos 3 eixos centrais:

1) Valorização docente:

— Não ao PLC nº 09/2023 que acaba com o caráter de Universidade e fere de morte o tripé ensino-pesquisa-extensão;
— Reposição das perdas salariais que superam os 68%, sendo 22% já em 2024; isonomia salarial entre professores efetivos e temporários, a depender da titulação e regime de trabalho;
— Nomeação de aprovados e classificados no concurso docente; Novo concurso para resolver o déficit de docentes efetivos

2) Assistência Estudantil:

— De imediato, melhoraria nas condições de acesso à alimentação na cozinha universitária, considerando que há muitas reclamações em relação à qualidade do alimento e quantidade de quentinhas fornecidas;
— Assegurar também o preparo dos alimentos nas instalações da cozinha, evitando o transporte que afeta negativamente a qualidade dos alimentos;
— Pagamento da Bolsa Permanência para Estudantes Cotistas;
— Construção do Restaurante Universitário em todos os campi;
— Plano de ação para lidar com a evasão, o que perpassa pela ampliação dos programas de permanência estudantil;
— Ampliação das bolsas de assistência estudantil para a garantia da permanência discente;
— Abertura de sala de estudos que atenda a demanda de alunos que permanecem na universidade para fazerem suas atividades.
— Frota de ônibus e micro-ônibus que atenda a realidade de cada campi;
— Paridade na votação para reitor da UESPI.

3) Infraestrutura:

— Obras de melhorias em todos os campi da UESPI, em especial na cidade de Uruçuí que sofreu com um incêndio e não tem previsão de retorno presencial;
— Internet de qualidade em todos os campi;
— Medidas de promoção de segurança nas instalações da Universidade, principalmente as que envolvem vigilância para proteção dos indivíduos e do patrimônio, prevenção a incêndio, reparo e restauração dos ambientes de uso comum;
— Instalação em número suficiente e com manutenção permanente de bebedouros em todos os campi, considerando as altas temperaturas e a insuficiência desse tipo de equipamento, especialmente em algumas unidades universitária;
— Ampliação e melhoria da qualidade dos banheiros, equipando-os com vasos e pias suficientes, bem como com fornecimento de papel higiênico;

Situação de abandono

A realidade da UESPI é de total abandono por parte do Estado. Dono de uma das maiores redes de educação privada do Piauí, o atual governador não tem compromisso com o serviço público, estando alinhado aos interesses da iniciativa privada e, assim como seu antecessor, procura entregar educação para as mãos das empresas privadas.

Em 2021, ainda no governo de Wellington Dia, fora aprovado a criação da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Educacional, Governança e Meio Ambiente da Universidade Estadual do Piauí (FUAPI), cujo projeto assemelha-se ao “Future-se” do governo Bolsonaro.

Rafael continua o projeto de desmonte da educação pública e não garante condições mínimas para a sobrevivência da UESPI. Neste momento começou o corte de salários dos professores que estão em uma greve legítima, reconhecida até mesmo pela justiça burguesa. Tal medida, demonstra seu desinteresse em atender as demandas por uma UESPI pública, gratuita, de qualidade e segura. Além disso, escancara o compromisso do PT com o grande empresariado, em particular o agronegócio, enquanto aponta para o seu descaso com a classe trabalhadora e a juventude.

São vários os motivos para que toda a comunidade da UESPI permaneça em luta. Somente com a mobilização de toda a sociedade piauiense em defesa da UESPI será possível derrotar o projeto entreguista de Rafael Fonteles e de todos quem tem atacado cotidianamente a educação pública nas três esferas de poder: municipal, estadual e federal.

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