Esteban Volkov, Trotsky e a moral revolucionária
Há poucos dias faleceu Esteban Volkov (neto do revolucionário russo Leon Trotsky), que dedicou as últimas décadas de sua vida a reivindicar a figura, a trajetória política e as ideias de seu avô.
Um artigo publicado recentemente em nossa página resume a vida de Esteban. Neste, queremos nos referir a um tema especial: ele herdou de seu avô a opinião de que a defesa da avaliação da integridade moral de um revolucionário é tão importante (e até mais) do que a avaliação de suas posições e de sua ação política.
Ele viveu de modo muito profundo e direto a brutal perseguição stalinista, baseado na falsa acusação de que Trotsky, sua família e os trotskistas eram “agentes do imperialismo” e “inimigos da revolução”.
Viu seu avô dedicar muitos esforços para refutar essas falsificações diante da Comissão Dewey, oficialmente chamada de “Comissão de Investigação sobre as acusações feitas contra Leon Trotsky nos julgamentos de Moscou”. Essa comissão funcionou, em 1937, por vários meses e era composta por figuras de vários países do mundo que não pertenciam ao trotskismo e recebeu inúmeros depoimentos orais e escritos de Trotsky. Sua conclusão foi que Trotsky não havia cometido nenhum dos “crimes” dos quais o stalinismo o acusava.
Em dezembro de 1995, o próprio Esteban integrou um “tribunal moral” constituído para julgar as acusações contra Juan Pablo Bacheler por parte de Guillermo Lora, dirigente máximo do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (POR) da Bolívia. Bacheler (então dirigente do POR) havia apresentado uma série de documentos criticando a linha da direção. Lora o acusou de “delator” e, em dezembro de 1994, uma conferência do POR votou sua expulsão do partido, assim como de outros militantes que haviam apoiado seus documentos.
Mais tarde, Bacheler propôs a formação de um Tribunal Moral Internacional composto por figuras independentes das duas facções opostas. O Tribunal foi formado e teve sessões naquele ano na Bolívia. Lora recusou-se a comparecer e procurou impedir seu funcionamento, mas não obteve sucesso. No final das contas, a conclusão foi que as acusações de Lora contra Bacheler eram falsas.
Esteban Volkov foi convidado e participou desse Tribunal. É importante destacar que, entre outras figuras que a compunham, estava José Maria de Almeida, então militante da Convergência Socialista do Brasil, membro da Executiva Nacional da CUT/Brasil e atual presidente nacional do PSTU do Brasil. Foi uma expressão da posição histórica de nossa corrente morenista, totalmente contra o uso de falsas acusações morais contra dirigentes e militantes revolucionários, infortúnio que algumas organizações trotskistas tomaram do stalinismo.
A participação de Esteban Volkov nesse Tribunal é uma demonstração de que ele não apenas reivindicou a trajetória política de seu avô, mas também sua posição diante da moral revolucionária e as falsas acusações morais. Um fato e uma atitude que valorizam ainda mais o que ele fez durante sua vida.